Manoel Ferreira Neto ESCRITOR E CRÍTICO LITERÁRIO ANALISA E INTERPRETA O POEMA DE GRAÇA FONTIS Prévia Impermanência ###


Obra-prima!

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É de admirar a adesão da inspiração e intuição na composição dos recônditos da alma, sentimentos, emoções, sensações, medos, angústias diante da Prévia Impermanência da Vida, a koinonia da linguagem, estilo, a estilística das imagens que fluem ao longo de cada verso para revelar a balada do "Efêmero" e a continuidade do tempo, das coisas do mundo. Esta dimensão de "síntese" numa estrutura e linguística poética requer acuidade, engenhosidade com a composição do silêncio do interdito e a voz do espírito, voz que deseja expressar as carências, ausências, por intermédio desta expressão dizer os sonhos, os ideais, sobretudo as perquirições do efêmero e a existência, fazendo surgir as utopias e quimeras à busca do Ser, conforme a voz e a imagem deste verso primoroso: "fianciou/A " Artesã Poética "em seu versar", o que significa no versar a poesia, a poética, a artesã fiança as suas dimensões sensíveis e espirituais, a imagem. Sendo Graça Fontis pintora, a fiança deste versar torna-se inda mais forte e contundente, por na arte da pintura que ela reza, a imagem revela os recônditos mais profundos da alma humana, sublimando "desejos e paixões/Às portas abertas a todos os sentidos...", o horizonte para outros voos, outras visões, "mesmo" com as intempéries do existir, mesmo com a efemeridade de tudo, mesmo com a "turbulência do Ar".

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Uma descrição fenomenológica da solidão do ser. A intertextualidade de versos de Carlos Drummond de Andrade - neste âmbito, a poetisa, escritora e pintora Graça Fontis

fora muitíssimo feliz na colocação - inédito no seu compor poético a intertextualização, vale ressaltar "Precisa" -, era o instante de colocá-los para revelar a intenção fundamental do poema: como reconhecer as dores e sofrimentos da alma humana, e o adentrar-se neste reconhecimento requer a poesia e o pensamento, a sinceridade da busca de outras alamedas do pensar-sentir o mundo e as coisas, requer a ausência de máscara. Só com a consciência e o saber das buscas desejadas e sonhadas é possível o conhecimento. Perfeito, perfeitíssimo. Nos versos finais, Graça Fontis diz que o adentrar-se na alma abre todos os sentidos para os sonhos se patentearem. Aqui, mister verbalizar o que o "prévia" significa: em quaisquer Artes, em primeira instância, há a a-nunciação da imagem, anunciação realizada pelo espírito, seja imagem da pintura, da poesia, da literatura, da escultura, a inspiração e a intuição compõem o a-nunciado em suas estruturas e linguagens. A "prévia impermanência", anunciou-se a partir da visão das inquietudes da alma, a escritora delineou a imagem em suas estruturas linguísticas, semânticas, metafísicas. Vale ressaltar: Graça Fontis primeiramente compôs a pintura, depois é que escreveu o poema, conciliar pintura e poema nas suas estruturas não é simples, inda mais em se tratando de uma pintora iniciando a jornada poética. Compreendeu e entendeu com perfeição a Poesia carece da Pintura para a revelação do Espírito do Ser, as cores de suas metáforas, metafísica, metalinguística.

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Para quem estava dizendo que não conseguia mais pegar na pena, não tinha dons e talentos para escrever, é muito difícil escrever, e escreve um poema neste nível... Vou começar a pensar em modéstia, hein!

Parabéns

pelo poema e pela pintura que o ornamenta, perfeitos, uma dança da prévia impermanência. Beijos no coração, minha Rainha!

Manoel Ferreira Neto

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PRÉVIA IMPERMANÊNCIA

Graça Fontis #Poema/Pintura

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Tudo está na mente e dela sai

Frui no perpasso do tempo

E das noites surtoadas,

Sentenciosamente tristes e obscuro

Àqueles que do refúgio também saem

Inversos à sensatez e à razão,

Cumplicientes d'uma evasividade exemplar sorrateiros à imprevisibilidade.

" como reconhecer o iminente drama

De quem se precipitou sem máscara"? Diz Drummond.

E de seu regato PENSANTE, fianciou

A " Artesã Poética "em seu versar

Lastimoso de emoções e angústias

A movimentarem silenciosamente

Suas batidas internas de pavor

Sintetizadas a uma pré-história redobrada,

Coesa à luzes inúteis aos deficitários

De compreensão e conturbados

Vez que, esta contagiou-se

No líquido tóxico de velhas auroras,

Num campo largo e probatório da auto-afirmação,

Concomitantes ao "Sim" de que viver,

A pena é válida

Mesmo com o Ar turbulento

E o Não explícito a redundar displicência

No decorrerem de vista ao ocaso

Por conta dos enigmáticos sons,

Seus voos escuros e boêmios

A sublimarem desejos e paixões

Às portas abertas a todos os sentidos,

Para a IMPERMANÊNCIA PRÉVIA da vida

Em noites de baladas!

Rio de Janeiro, 17/12/2020

 

 


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