#... CUCUIAS DE RAÍZES E ABERTURAS...# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA ====


... A não ser que as cucuias da psique e instintos não revelem as suas trafulhices no tabuleiro dos pecados e condutas de má-fé, caso contrário, o re-curso é mandar-lhes às cucuias, e o reconhecimento de que é mister a comunhão, síntese do saber e do intelecto, cucuiar as intempéries e conquistas, numa imagem tosca, espremer os miolos em nome da sabedoria, re-verter o inverso que revela a verdade, mostrar-se à luz e sombras, eis o silêncio, eis o silêncio e as cucuias, eis cucuias de silêncios.

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... A não ser que re-faça a indagação do sentido de perquirir o sentido do Ser... A vocação é real, não posso duvidar: as sumas sacerdotisas se apresentam como minhas fiadoras. Belo objeto de um verbo de desejo, fonte viva e razão de ser, que ainda se ignora a si próprio. Aceito exultante de prazer e alegria conservar por algum tempo o incógnito, o inter-dito, o silêncio, as entrelinhas. Para refazer esta indagação, cozinho minhas idéias, porções pequenas de alho e sal para dar-lhes sabor, e no prato de metafísicas e metáforas a algazarra dos pensamentos no fogo lento dos transes, encantamentos.

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... A não ser que o "cogito ergo sum" das posturas, condutas, comportamentos, gestos, costumes não sejam ácidos críticos dos mais destilados, de safra erudita às íntimas relações com o mundo e o desejo de entender as suas coisas, o nada perde o sentido, o vazio perde o cerne de re-colher e a-colher a multiplicidade, o silêncio e a solidão se mancomunam com a algazarra e as muvucas. Suscitado do nada por um decreto incólume e irreversível, ser encarregado de missão única e capital, atravessar sertão de lágrimas, afastando todas as tentações e transpondo os obstáculos, ao termo ingressar na imortalidade, nas águas oceânicas do Sublime. Existir o Sublime não é apenas um modo-de-ser, um estilo de vida, mas uma realização, um movimento, ondas que se dirigem à praia, deixando os frutos do mar na orla.

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... A não ser que busque a semente que pensei plantar e a guardei, dizendo que não era inda o tempo de os frutos nascerem, era preciso esperar o tempo, era mister esperar-me, estava inda verde. Quem sabe?!... Uma vez dissolvida as tensões e livre a alma de suas angústias, depressões, fracassos, remorsos e culpas, pode-se usar tudo o que existe na literatura para mantê-la livre, e talvez até uma forma abreviada de psicanálise. Cada alma desesperada possui um útero de esperança que está pronto a lutar pela realização dos desejos e sonhos, pela sobrevivência e imortalidade...

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... A não ser que re-torne para plantar na terra a semente que gerei... Meus sonhos, são tão poucos os meus sonhos. Minha alegria, é tão pouca a minha alegria. Prazeres, contentamentos, são tão poucos. Não sou mais que uma combinação incerta de dúvidas e certezas, de acasos e encontros, de amor e de ódio, de alegria e tristeza, de conquistas e fracassos. Em busca de um momento, em busca de uma flor, hei-de fazer-me verbo como se fosse palavra, dar sentido, ser esperança de encontro, colher a mensagem que as estações do ano deixaram, especialmente a que a primavera deixou. Ombros frágeis são os meus para adormecer no tempo a graça da Criação do SER. Eis o homem!... Eis o SER!...

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Temos raiz e temos abertura. Somos como uma árvore, fundados no chão que nos dá força para enfrentar as tempestades. Mas também temos a copa, que interage com o único, com as energias cósmicas, com os ventos, com as chuvas, com o sol e as estrelas, constelações e planetas, até do buraco negro. Sintetizamos tudo isso, transformamos em mais vida a nossa abertura, AS NOSSAS FRINCHAS, AS NOSSAS FRESTAS, as folhas vazias do tempo nos canteiros do tal-agora-aqui E se não mantemos a abertura - a copa -, o mundo estiola, as raízes secam e a seiva já não flui. Morremos. A dialética consiste em manter juntos o enraizamento e a abertura. Imanentes, mas abertos à transcendência.

costumava pensar que o mundo era plano

Raramente jogava meu chapéu pra multidão

Achei que tinha usado minha cota de desejos...

#RIO DE JANEIRO(RJ), 05 DE DEZEMBRO DE 2020, 06:18 a.m.#

 

 


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