URI SALA LASADI# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO



Uri sala lasad
A vida que não é vida.
Exéquias dos pequenos sonhos,
Instantes de alegria, felicidade,
Tributos ao tempo que passa inda mais ligeiro,
O sonho maior à mercê das circunstâncias,
A coruja do bosque esquecido entoa seu canto,
Na castanheira de minha choupana tem uma coruja,
Pássaros insones ouvem-lhe, alguns adormecem,
E não dizer que coruja não canta em castanheira,
Coisas lá do Gonçalves Dias
Sabiá de palmeira não canta, isto é real.
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A vida que não é vida.
Demônios endemoniados coscuvilham
Castigo e perdão por condutas escusas,
Excederam as etiquetas do figurino,
Estimulam intrigas pelos becos, alamedas,
E contemplam esfígie no templo, mãos postas,
Em reverência, rogando a aquisição
Das vaidades eternas, orgulhos perpétuos,
O sacristão mostra o pratinho de "esmola para o santo",
A beata no confissionário abre o cofre antigo de suas mazelas.
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A vida que não é a vida
Miríades de sons ressonam no horizonte
Fulgurantes raios numinam além do universo
Cores multicolores do arco-iris esplendem alhures
A alma con-templa o nublado da manhã,
Nostalgias, melancolias, saudades.
Uri sala lasadi
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A vida que não é a vida
Espectros de luzes iluminam de Gethsêmani
Os recônditos inauditos do íntimo, interstícios misteriosos
Do não-ser sendo o ser e o ser não sendo o não-ser
O brilho ofuscante da manhã nublada
Versa uma oração de enigmas do espírito
Tristezas, alegrias, dores, felicidades.
Uri sala lasadi
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A vida que não é vida.
Anunciações de sentidos con-templ-oram
Na basílica do tempo a querência do nunca-jamais
Re-vestido de esperanças de além
No Monte das Oliveiras os raios de sol resplandecem
O ad-vir do branco-níveo da rosa orvalhada de essências
Do pleno, absoluto, divino
Felicidade, amor, carinho, entrega.
Uri sala lasadi
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A vida que não é vida.
Revelações de silêncios, eivados da alma de sonhos,
Re-fletem a imagem-una de galhos de folhas verdes e viçosas
Contracenando com as nuvens acinzentadas da manhã nublada
No santuário milenar das oliveiras a efígie do eterno espírito
A alma do espírito cicia os sons de além nos ouvidos do absoluto
O espírito da alma recita os verbos do oráculo do sublime divino
Prazer, êxtase, gozo, clímax
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A vida que não é vida.
Um ser que não pode dispor
Sobre si mesmo
E que não tem direito ao ócio,
Isto não parece de modo algum desprezível,
Talvez haja em cada homem
Esse sentido escravo em demasia.
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Uri sala lasadi
A vida que não é vida.
Diálogos de solidão, monólogos de saudades,
Ritual místico de sons, luzes, palavras e sentidos,
Meditação, oração tecida de contas do terço de sonhos,
Uri sala lasadi...
Uri sala lasadi...
Uri sala lasadi...
No eterno, o efêmero dos sons,
No efêmero, o eterno inaudito
No inaudito, o além
Gethsêmani de idílios lúdicos do espírito.
#riodejaneiro#, 31 de outubro de 2019#

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