FONTE LUMINOSA DO TEMPLO DE FESMONE III PARTE# GRAÇA PINTURA: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO



III
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Sete inteligências, noves-forando as duas reais também, mas assim reza o princípio das coisas do mundo, seguir à risca as lições da espiritualidade do número "7", no caso específico seriam "nove inteligências" - estar assiduamente noves-forando, con-sentem, autorizam, endossam nas canções mundanas de tempos antigos existe o pressuposto de que o ritmo exerce força mágica, ao se tirar água de uma fonte, pelos de ovos, para incrementar o cinismo e a ironia, ou ao se remar num bote, a canção é uma "macumba" contra os demônios atuantes.
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Sete silêncios queriam a todo custo tornar-se mais sábios, então assumiam expressão facial cor-res-pondente, como quem reza, ajoelham-se no banco, postam as mãos, e param de andar; ficavam horas a fio e estopins na rua, em silêncio mútuo os sete silêncios, sonhando a chegada do pensamento, assim escrito nos manuais do tormento, começar a pensar é começar a atormentar-se; transformei a questão súpera de todos os tempos, o ato de refletir perdeu toda a sua dignidade, e o gesto festivo da reflexão num escárnio, pois quem iria suportar a algazarra dos silêncios no ouvido durante toda a madrugada, ao estilo antigo das cerimônias de purificação da alma, quando descobrissem que em meio de transações de toda estirpe pensaram depressa demais as vozes que lhes habitam? É isto que a decência exige deles, e não só a decência.
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Sete cultos orgiásticos visam, tem por intenção fundamental, por determinação insofismável, des-carregar a ferocia da divindade, que ousadia, de tirar-lhes o chapéu como símbolo de respeito, vez por última, e produzirem uma orgia, para que após sintam-se mais leves, livres, soltos, tranquilos, levando a vida na flauta, e deixem os seres humanos em paz.
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Sete maruís e beija-flores flanando próximos da janela de guilhotina, aberta, tomando o néctar da flor estendida na parede, a criança dorme serena e leve no berço, a mãe toma banho, cantando "Admirável Gado Novo", enquanto Raul Seixas e José Ramalho ficam quarenta e oito horas sem dormir, compondo músicas.
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Sete mãos re-colheram no espaço celeste nuvens brancas e com elas esculturaram a fonte luminosa do Templo de Fesmone, e com as cores vivas do arco-íris imaginaram as águas jorrando luzes ao longo dos horizontes e universos.
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Sete vezes à beira do abismo e bem próximo da queda, não desejava empenhar-me, com os olhos abertos, pelo meu empobrecimento, mas aprendera o valor e o resultado da vida, muchamente importantes para mim, estão noutro lugar, este ser tão susceptível, pareço sentir meu autocontrole correr perigo com qualquer coisa que o empurre, puxe, atraia, impulsione, de dentro ou de fora, como um eterno vigia de sua fortaleza.
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Sete lâminas de machados entre-cortaram em sete árvores da floresta silvestre as sete imagens da plen-itude, as sete luzes que, nestas imagens incidiam, re-velaram os sonhos do ser pers-pectivados de miríades numinosas do in-finito.
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Sete estrofes musicalizadas de desejos ritmados de esperanças, utopias melodiadas do ser-para-o-pleno, compuseram a memória do silêncio onde toda, inteira, plena de "si-mesma" é vida, di-vers-ifica a natureza.
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Sete ovelhas de pelos suaves, ternos, delicados, charmosos pastam livremente nas margens do lago dos sete cisnes silenciosos de crepúsculos.
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Sete pelos ad-versos, diferentes, de origens estrangeiras e estranhas, espalhados na colcha de retalho a ornamentarem o leito onírico, produzindo em mim vontade sem quaisquer fronteiras de me ceder ao convite deles de tocar-lhes com a palma das mãos abertas, sentindo-lhes a suavidade do delírio e excitação das emoções, atribuindo à música o poder de purificar a alma, eles, os pelos, de sensibilizarem o tato.
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Sete imagens lavradas no espelho da face, sete poemas lavrados na imagem da pedra, sete pedras lavradas no sofrer da face, sete tempos na questão da morte, sete sons de guitarras, cavaquinhos, violões, violoncelos, harpas, cítaras, violino na questão dos direitos à vida.
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Sete degraus antes da soleira do infinito, sete passos neles antes de vis-à-vis-lumbrar no longínquo do espaço as cintilâncias da alegria e felicidade que velarão as alamedas e ruas desertas por onde os boêmios passarão recitando poemas da solidão.


#riodejaneiro#, 19 de outubro de 2019#

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