POEMA DO NADA-NADA# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: SÁTIRA


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Nada
De nada aos obrigados por solidariedade, compaixão,
Desobrigados por livre e espontânea pressão, coação,
Nada aos vencidos e vencedores, por realizações, fracassos
Nada aos amantes e amados, por verdades e lealdades
Nada de nada, ser com os nadas quotidianos
Ser de nadas conspurcando os nadas de ser
Nada-de-nada, horizontes ensombrecendo crepúsculos pálidos
Nadas pálidos,
Nadas quotidianos,
Nadas sendo de nada
Nada-com-nada seduzindo náuseas a negligenciarem verdades,
Nada-sem-nada bolinando luxúrias a verbalizarem vaidades,
Nada-nada de nada
Nada-de-nada nada
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Deus lhe pague
Por nada ser, mas não arrastar-se nas sarjetas da vida
Deus lhe pague
Por ser o nada, sobreviver de migalhas do dia a dia
Deus lhe pague
Nada a nada de nadas nadiversando baldios do não-ser,
Inscrevendo nas tábuas do tempo os vácuos
Do abismo-nada re-versados de escusos princípios da alma
Nada de vazio no terreno baldio da alma-nada
Terreno baldio de nadas-vazios de pectivas-res do infortúnio
Desconsagrando os limites do perpétuo
Nas limítrofes linhas do efêmero re-vestido de perenes cintilâncias
De luzes a nadificarem os pilares da eternidade
Des-crucificando os sibilos de ventos
Que altissonam o destino de tragédias solenes
Des-cortinam os sons, harmonias do fugaz
Que sussurram e murmuram sagas de angústias perenes.
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As teclas ou os digitos do nada estão bem gasto,
Do nada nada se pode criar, inventar, poemar
Em instância última, antes das endemoniadas estâncias,
Se não seria possível esquecer o nada,
Esquecer-me, já que nada sou, mesmo sem nada,
Trajetória sem rumo, sem direção,
Aquilo mesmo de "um elefante incomoda muito
A gente, incomoda, dois elefantes incomodam
Muito a gente, incomoda, incomoda..."
Ladainha, matraca de nada dá urticária...
Se sem direção, rumo a trajetória
Não há onde chegar, aportar,
Vida em brancas nuvens,
Nada justifica, aqueles orgulhos linguísticos,
Estilísticos não dizem qualquer coisa,
Balelas e daquelas bem vulgares,
Entendo e compreendo
Qual o seu interesse, suas dignas intenções
Com o nada de mim,
Digo-lhe, contudo,
Não tenho quaisquer interesses de nada.
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Nadas nadas de nadas
De nadas baldios nadas revestidos de vazios
De vazios-nadas revestidos de terrenos
Das nostalgias ad-vindas das genesis, ad-vindas do primevo
Ontem-ontem de nadas
Hoje-hoje de vazios à busca de outros nadas
Amanhã-amanhã de ilusões desfaceladas,
Agora-agora de silêncios refestelando-se
Sob o fogo da lareira, chamas, faíscas do nada,
Amanhã, outro dia, serão outros sonhos
Nadificados de baldias des-esperanças da esperança
Terrena fé das incondicionais posturas, condutas
Do nada habitado de eternos, do nada sendo eternidade.
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Lá na venda
Lá na vendinha
Lá mesmo é que tem nadas mesquinhos
E a mesquinharia do nada
Plenifica a vida medíocre
De nada o nada-nada,
Precisa visitar a nossa vendinha
Tomar um trago e ouvir as mesquinharias
Dos clientes.
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Por que o vazio do nada e não o nada puro?
Nada de genesis
Nada do apocalipse
Por que o nada vazio de nada?
Subterrâneos do espírito, cavernas do ser
Nada,
Nada,
Nada do nada nada.
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E assim sendo, sou eu que profiro que quanto mais curso por veredas, menos sei. Que sou nada de nada, mas que sendo nada do nada, existo! Efetivamente não como tencionava. Porque os distintos não cedem, os tais medíocres da taberna, os omnipotentes e os belzebus.
#riodejaneiro#, 31 de outubro de 2019#

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