ANESTESIA EIDÉTICA, ESTÉTICA# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: FILOSOFIA



“A sina de ser”, o destino de cont-ingenciar o quotidiano, o elo de todas as coisas, flores são espetáculos da natureza, liberdades são cenas eivadas de ternura e carinho, “instante de sedução”, "a saga de contar" por que mistério o sonho se banha na arte, a arte se refestela no verbo sem sombra e fugitivo, "o fado de alumbrar desejos" por que enigma no lírico comungam-se o eu e o mundo, estado de espírito que é desabafo íntimo. Querer brincar com estrelas, correr campos, velejar, beber a sede das ruas, queimar a luz do luar, lavrar o corpo no grito.
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Para que o silêncio ressurja e o olhar suspenso, a aflição dos espaços, a surdez absoluta da montanha e o intocável da noite, é necessário transpor o limiar diferencial do imediato e asceder às origens de mim, ultrapassar a soalheira do passageiro e marginar as res e bordas dos prováveis, aí onde a con-sistência se dissolve e a eternidade se desprende da sucessão do tempo, aí onde a imagem e as perspectivas a-nunciam o nascimento do sol, nas pers da passagem da noite ao dia, nas pectivas do que haverá de ser e acontecer, do que haverá de ser esquecido e tornado história, do que haverá de ser lembrado e tornado tempo, e o meu olhar se descola da apreensão do ontem e do amanhã, sensações e sentimentos se comungam, inspirações e intuições se aderem, desejos, vontades e razões dão-se as mãos, desprendem-se das situações e circunstâncias que me algemaram ontem, as utopias que me acompanharam nas estradas de poeiras metafísicas, os sofrimentos e dores me acorrentaram anteontem os ideais que em mim trago dentro nos longos passos que empreendem na jornada das buscas e encontros, que me libertarão amanhã. A memória é o que dá o substrato da consciência! Este presente absoluto é perder-se de si mesmo. Por que gostaríamos de nos perder assim de nós próprios? O passado nunca é realmente passado e jamais pode ser conjugado no pretérito perfeito, e o fogo e o combustível estão inter-ligados tanto em termos lógicos(como conceitos) quanto empíricos(como eventos). O resultado é que "fogo" e "combustível" não são entidades substanciais, apenas simples abstrações desenvolvidas para se descrever único processo - a combustão, como explica Candrakirti: "O que é apropriado é o combustível, o que é construído em sua apropriação é chamado de o apropriador, o pensador, o eu que faz."
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Sou dor
Anestesia eidética, estética,
Extase da arte!
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Sou tristeza
Perspectiva pujante sinônimo
Do etéreo.
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Luz uma luz
Em forma de imagem resplandecente
Através de que con-templo
O rosto eterno do verso verbo do sonho.
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Sou fogo,
As chamas do desejo de saciar a sede
Faiscam, chamejam a liberdade de sentir
O paladar, o sabor da água,
Mesmo que imaginariamente.
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Não me restam fatos
Como objetos do irrevogável
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Desejo, busco
- Uma querência -
A expressão do absoluto
Embora abstrato.
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Suspensos os meus olhos, o meu ser, um arroubo alevanta-me, vertiginoso ergue-me e o espaço abre-se da comunidade de mim com o espaço sideral, o alarme e o augúrio, o sufocante mistério, o laço mortal dos erros e crimes, a profundidade da noite. Desde que vivencie a esperança e os mistérios da vida, transcenderei todas as cancelas e porteiras, todos os mata-burros e pontes, todos os rios de águas límpidas e sujas.
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A Cultura persegue a Natureza, no ímpeto de sojigá-la, para a escrava do seu harém, e ela, indômita, domada, na estética de sua prisão, não mostra assim ares de tristeza...
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Cada homem, a seu modo, executa essa prisão: a Natureza é inocente. Cada homem é um soldado, doido, vão, inclemente.
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A Natureza, porém, cedo se vinga de cada espoliador, sem dó: a sete palmos de terra, esconsos do seu império, da Cultura se desforra...
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A Cultura, num esforço de fênix, tantalicamente, recomeça, do zero, em baldada luta, seu novo ataque à natureza, que não aceita ser vencida, apesar de, aparentemente, parecer ser prisioneira da Cultura.
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Assim eu canto, assim eu recito, assim eu declamo, por vezes busco expressar isso na poiésis de poemas metafísicos, ontológicos e transcendentes. Assim eu sonho. Assim eu canto a celebrar o prazer de viver como vivem os deuses.


#riodejaneiro#, 18 de outubro de 2019#

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