#JINGLE-JANGLE DA SOLIDÃO E RUMINÂNCIAS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA



Quero a imagem,
A pintura, as cores, as contra-luz e luz,
De Orfeu, de toda a miséria secreta,
Muita coisa que parecia inexprimível,
Muita coisa bem pequena e
Microscópica da alma,
Ele é o mestre sim do que é bem pequeno,
Sem querer sê-lo,
Escondido até de si mesmo,
Pinta suas verdadeiras obras primas,
Muitas vezes com um pincel só...
E também do cálice vazio,
Onde as gotas mais amargas e ad-versas
Para o bem e o mal
Juntam-se às mais doces...
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Quero o delírio da poesia
No instante de comunhão dos sons da lírica
Com as notas musicais,
Violino, cítara, harpa no instante-limite sublime
Da espiritualidade do belo e o espírito das contingências,
Êxtase, volúpia, exultação,
A música é o coração das Artes,
Pulsa as inspirações, intuições, percepções,
Vibra as intenções, vontades, desejos,
Seiva a sensibilidade, eiva os dons e talentos,
Duas pequenas asas de uma brancura com nuances
Que vão do vermelho-sangue ao rosa,
Liberdade, Consciência, movimentam-se livres,
À mercê e contra os ventos,
Afaga as angústias, agonias da criação, da criatividade...
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Quero refestelar-me de por baixo da Árvore do Mundo,
Sentir a "presença" da raiz situada entre os gigantes do gelo,
Alimentada pela fonte de Mimir,
Onde brotam a sabedoria e inteligência,
Profanando as idéias e sentimentos
Ardentes, ardorosos,
Emoções faiscando chamas
Do fogo dos desejos e utopias,
Que residem nos interstícios da alma,
Demandando o cândido alimento,
Seivado de sabores inestimáveis
Que a alma faminta roga a todos os pulmões e fôlegos,
O pecado cristão,
Jungido ao mistério pagão
Alanceia na tristeza sob o céu flamejante,
O tempo é, quiçá, ingrato
E funda é nostalgia das origens.
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Quero a melodia do éter e etéreo
Num tempo semiológico reduzir
O tempo real numa ilusão referencial,
Suspensão do tempo narrativo,
Signo dilatório,
Efeito preambular de quebra de ilusão,
Personagem através de uma vidraça,
Evocação da memória, ação efetiva,
Do vai-e-vem da rede no silêncio da noite,
Maresia do mar,
Fundindo-se num mesmo presente do indicativo
Engenhosidade e arte na expectativa de ex-tasiar
Intenções e desejos de desvendar o segredo
Do excêntrico e lúdico, do inusitado e exultante,
Jingle-jangle da solidão e das ruminâncias do belo
- os sentimentos eternos com que contava
não se inclinam mais para o meu lado,
minhas atitudes são absolutamente estóicas e superiores.
Acaso a minha desarvorada existência.
Grave tumulto psicológico.
Síncopes sapateiam cubismos, deslocações,
Alterando as geometrias,
Adulterando as sintaxes,
Sarapalhando as regências verbais...
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Quero o ritmo do efêmero e sublime
Pervagando as ad-jacências do inconsciente perene
De mistérios, de jogos lúdicos dos medos e fugas,
Tripúdios e tramóias do verbo e da carne,
Jingle-jangle do silêncio e dos gemidos de dor,
Gosto de São Francisco,
Percorrendo os interstícios do inaudito profundo
De sombras líquidas, trevas densas, brumas serenas,
Ao cair da tarde, o bronze soando triste,
O infinito re-colhe e a-colhe luzes longínguas,
Reveladas na síntese de pretéritos genéticos e advires pós-milenares,
Na verdade habita os raios numinosos do nada,
Vazio esplendidos e trans-elevados aos cumes
De confins ornamentados de arrebiques a-temporais
Da estesia do não ser
(na estética, o não ser é princípio do sublime,
na poesia, o não-ser é não criar a liberdade,
na filosofia, o não-ser é ser re-verso e in-verso
Às insolências do pensamento e da ampulheta dos ideais)
No absoluto a presença incólume da fantasia
Do espírito à espreita do trans-cendente
Às avessas com a alma entupigaitada de sorrelfas
No apocalipse do sem-ad-jacências de dogmas
De verbos pretéritos consubstanciando o divino
Contingente das efemeridades das dúvidas dentro da alma
Alucinada de desesperos...
Desmiolada de frustrações e fracassos...
Desvairada de náuseas, tremores e temores...
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Quero o acorde do in-audito e inter-dito,
Do mistério e enigma da pre-posição do nada
Regenciando o verbo transitivo indireto da travessia
Ao vazio que re-colhe e a-colhe melancolias e nostalgias
Defectivas de origens e raízes, prenhes de utopias
Da perfeição perfeita do verbo in-finitivo da verdade,
No cio de ideologias
Da imperfeição que concebe as jacências do efêmero
Rogando ao eterno a dádiva do des-contínuo
Da morte morrida de morrer,
De morrer a morte morrida,
De morrida, o morrer da morte
Re-nascer do Ser que busca a Contingência,
A idéia de defeitos
Torna a beleza mais interessante
Caminho entre os mortos, com eles entabulo conversas,
Conversas para enganar sábios, tripudiar trouxas,
Enquanto os bois dormitam no curral,
Acabados de chegar do pasto,
Sobre coisas do tempo, negócios do espírito,
Desfiando a recordação de que a Literatura
Estragou as melhores horas de devaneio e desvario.
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Quero o efêmero e sublime do ritmo
Que circunvagam o poema-arte do ser
Antes do caos, antes do cosmos, antes da criação
Criar o ser é antes conceber nos interstícios
Do evangelho sensível e inter-subjetivo
Dos preceitos morais, éticos e estéticos,
A luz Vésper no deserto do silêncio,
A Estrela Polar na ilha e bosque da solidão,
De re-versas vozes que recitam
As palavras versais e estróficas,
De in-versos olhares que urubuservam
Os sentidos e significados, linguísticas e semânticas,
Semiologias, metafísicas e metalinguísticas,
No silêncio da montanha a revelar-se
Nítida, trans-lúcida e trans-parente
No desfazer da neblina
Contemplando no tempo aberto
E plenamente incidido nos limiares do eterno
As inspirações, concepções, percepções,
Intuições, enfim o absoluto
Habitando o não-ser sonhando, idealizando
Na idealização iluminística da dialéctica
Do efêmero a liberdade em questão,
Da efemeridade da liberdade,
A vida em contingências.


#riodejaneiro#, 26 de outubro de 2019#

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