@LOSUM YALOM MANI@ GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO



A natureza é perfeita.
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Por vezes, o pássaro acorda-me. Hora de tomar da pena, começar as escritas, arrancando fios de cabelo branco, aqui e ali, re-costando na cadeira de executivo, fechando os olhos, apertando a fronte, acendendo um cigarro, angústia, desespero, nada mais existe de difícil que as letras. A confiança não está nas palavras, nas suas estruturas, no silêncio que há entre elas, mas nos dons e talentos, na esperança, sonho, fé, a obra será escrita com perfeição, nos sentimentos e emoções que se criam, re-criam, re-inventam-se, na vida da escrita, nas suas asas.
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A obra perfeita é sempre a grande esperança. Ontem, o canto do pássaro foi lindo, hoje estava maravilhoso - já se foi, ele canta só até as cinco horas da manhã -, amanhã será esplêndido, resplendoroso. Sem a pre-sença da esperança da perfeição nenhuma letra existe.
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Jardim colorido de cores do amor
Música ouço de além o sentimento de plenitude
Na floresta de silvestres flores o perfume inebriante da entrega
Nuvens níveas de branco diáfano esplendo de universo a universo
No campo pleno de oliveiras, pássaros trinam livremente.
O espírito jornadeia além de horizontes plenificados de sonhos
A alma brinca de dançar ao som de orientais emoções do belo
No templo de efígies de deusas pagãs a luz do sol incide absoluta
Losum Yalom Mani...
Losum Yalom Mani...
Losum Yalom Mani...
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Canteiros floridos de êxtases do inominável
Poema ouço recitado por vozes serenas e sublimes
À beira do Senna, à la gauche, casais enamoram-se,
A noite parisiense sublimada de luzes
O amor suplica a presença da verdade da alma
Em estado de volúpia do divino absoluto do ser
A verdade reclama o amor celestial
Brinco de imagens dispersas, jornadeio pelos interstícios
Inconscientes dos tempos olvidados da sensibilidade
Losum Yalom Mani...
Losum Yalom Mani...
Losum Yalom Mani...
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Praças de fontes luminosas, pingos de água respingam o ar
Em mim presente o amor do meu amor, a vida da minha vida
Losum yalom mani, losum yalom mani,
O espírito recita palavras inteligíveis, sem sentido, sem significação
Fala a luz do eterno, fala o som do ser, fala a melodia do divino,
Fala o ritmo do absoluto, fala as notas transcendentes da alma,
Fala tudo, o nada fala.
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Hoje, sou madura, amadurecida, envelhecida, garatujando palavras, aqueles sentimentos de vaidade, orgulho, não se esgarçaram na passagem do tempo, deixo as esperanças livres perpassarem-me todas as dimensões sensíveis, trans-cendentais se re-velarem, deixo que me façam à luz delas, refaçam-me. A velhice é digna, honrada, proba, a consciência e sensibilidade de que os sentimentos foram vivenciados, junto com eles a realização de alguns sonhos. Sou letras e esperanças, sou este canto dos desejos da obra perfeita, da vida harmoniosa, sin-crônica, sin-tônica, sin-fônica com os sonhos e utopias do Verso-Uno do mundo e da arte.
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O passarinho canta só até as cinco horas da manhã - só paro de cantar aos oitenta e cinco, será uma cantarolia nos próximos anos, é a festa que faço para mim, não houve outra no de-curso do tempo, aquelas preocupações foram de acender as achas da fogueira, não deixar as chamas diminuírem, conservá-las, para isso mister foi vivenciar as contingências, suas dialécticas e sofrimentos.


Horto pintado de tintas do bem-querer
Melodia escuto do infinito a sensação de extensão
No bosque de silváticos fróis o bálsamo ebriático da rendição
Magotes alvos de lácteo translúcido cintilando de cosmo a cosmo
No agro pleno de olivas, passarões gorjeiam quitemente.
O espectro caminha além de perspectivas preenchidas de quimeras
O ser galhofa de regambolear ao sonido de levantinas comoções do sublime
No delubro de representações de deias gentílicas a luminosidade do astro-rei recai absoluta
Losum Yalom Mani...
Losum Yalom Mani...
Losum Yalom Mani...
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Talhões desabrochados de enlevos do que não possui designação
Poesia, atento, declamada por falas pacíficas e transcendentes
À borda do Senna, à esquerda, parelhas apaixonam-se,
A escuridão parisiense volatilizada de luminosidades
O bem-querer impetra a comparência da realidade da alma
Em situação de luxúria do celestial soberano do ser
A exatidão contesta o bem-querer ultraterrestre
Zombaria de representações dissemina, caminho pelos intervalos
Instintivos dos tempos desmemoriados da sensação
Losum Yalom Mani...
Losum Yalom Mani...
Losum Yalom Mani...
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Terreiros de nascentes luzentes, gotas de linfa aspergem o ambiente
Em mim assistente o bem-querer da minha querença, a alma da minha alma
Losum yalom mani, losum yalom mani,
O pensamento declama termos decifráveis, sem relevância, sem importância
Discursa a luminosidade do imperecível, discursa o sonido do ser, discursa a ária do deífico,
Discursa o compasso do supremo, discursa as assinalas sublimes da alma.
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A continuidade faz a perfeição, quando nela habita a esperança, o sonho, as utopias. Se não pro-duzir a obra perfeita, a obra completa terá suas perfeições.
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A Arte e o Ser estão em questão.


#riodejaneiro#, 31 de outubro de 2019#

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