@SONETO AO SILÊNCIO - DIÁLOGO DAS VEREDAS CON-TINGENCIAIS@ GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto/Ana Júlia Machado: AFORISMO



Pontes partidas... Haja quem esteja jogando pederneiras a esta metáfora, metafísica das passagens e travessias, já lugar-comum mais do que enfastiante! Haja quem! Por vezes, partidas a diferentes ângulos, perspectivas, por vezes pontes de extensão dúbia e ambígua, a que terra e vereda levarão, por outras vezes, re-versas aos in-versos ad-versos, melos significa meios de suavização, não só porque é suave, mas por seu efeito suaviza as coisas.
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Frestas à vista para a sinuosidade dos horizontes que mostram imagens dispersas nos interstícios das perspectivas, no íntimo dos acordes angulares – o melhor perfume está nos menores fracos -, quiçá a-nunciando a verdade in-consciente do verbo de tecer sendas ek-sistenciais, veredas con-tingenciais em direção à vida do eterno desfigurado de dogmas, desentrelaçado do absoluto hades, des-conectado dos preceitos da verdade e sublime, exclusos das vias sacramentais do destino, bloqueados dos interesses por cofiar o bigode das contingências, não me dou a este devaneio, desvario de quem não sente a vida, não se sinta vida. Quiçá revelando a in-consciência estética do sublime de compor o indicativo presente do que a a-mortalidade de princípios e raízes, por vezes havendo sementes e húmus, do vazio em plena náusea do nada.
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Quem me dera agora tivesse a harpa para “dedilhar” o soneto ao silêncio!...
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Mister descansar de nós mesmos
Por algum tempo,
Aquele que con-sentimos, olhando para nós
E para baixo de nós, e de uma certa distância artística,
Rir ou chorar de nós mesmos,
Professo, confesso a todos os continentes
De ser capaz de toda arte transbordante de alegria,
De nonsenses, dúvidas, inseguranças,
Verborreias e falácias,
Flutuante, dançante,
Para não perder aquela liberdade sobre as coisas,
Que o ideal nos exige.
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Frinchas à luz dos linces dos olhos con-templando as linhas cambaias do universo que desenham interditas palavras metrificadas de inauditos mistérios do des-nada sonet-ificando as tragicomédias do absoluto divino, sonet-izando a sátira lavada dos idílios compactos das sorrelfas subjuntivas do “era” verbo defectivo da morte pretérita do gerúndio de ser que atravessa as pontes partidas do jamais-sempre, do ácido crítico descascado dos pepinos, da insolência e perdão do estilo gafectivo, miríades de inspiração, num tributo à margem esquerda do Sena, Paris, lado "gauche" do Senna, a origem do estilo gafectivo, o verbo defectivo contribuiu para o olhar sarcástico do sempre-nunca, das arribas impretéritas da essência, metafísica do nonsense, teoria do conhecimento das partícipes nonadas do eidos-para a sepultura do além, tumba dos confins, mausoléu das arribas, cárcere eterno do mais-que-perfeito infinitivo, antropologia de lendas e rituais das florestas onde se abrigam os mistérios, alfim o ocaso à re-velia do crepúsculo e entardecer da inolvidável sombra pálida do não-ser de estrofes des-providas de sensibilidade e provérbio do espírito.
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Quem me dera agora tivesse a harpa para “dedilhar” o soneto ao silêncio!...
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Se induzo às formas de pensamento, sentimento
que têm uma ação entorpecente?
Combina com a idéia de que os fomentadores
De formas de pensamento
E sentimentos entorpecentes, como os mestres
Hindus...
A crença em um deus normal,
Ao lado de quem só existem
Deuses falsos e mentirosos....
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Se a querença for imensurável...
a expectação não será eterniza,
as acidezes não serão meias-medidas,
e o afastamento será sucumbido.
Se a intelecção altercar,
as contestações fortificar-nos-ão,
os incidentes far-nos-ão
zombar,
e as cortejas assinalar-nos-ão.
Se a ponderação prospectar,
as afeições serão mélicas e arrebatáveis,
os ósculos intensos e apinhados de apreço,
e os enlaçamentos doces e vitalizadores.
Se a fidúcia haver,
a incerteza se debelará,
as questões serão replicadas,
e os discursos lograrão ser patenteados.
Quiçá não seja um amor perene.
E não é uma querença abalada,
Nem um bem-querer utópico.
Mas um bem-querer verídico.
Aquele que extrapola os estorvos
Forçados pela existência e pelas conjunturas.
Aquele que não teme a eleição,
E emprenha a escolha genuinamente
Ser veemente sentida.
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Augúrio apaziguado, vagas plácidas, medos entupigaitados de nuvens claras e escuras embatem na face das casas, deslizam pelos muros desenhados de lodo, pichados de letras mortas, escorrem largamente pela terra. O meu pensamento fosforece. Minhas idéias reluzem-se. Evola-se no ar umedecido dos pingos de chuva que caíram por instantes, suspende-se o ergo non sum. Estou nu por dentro, vê-se nitidamente a minha intimidade tímida, envergonhada, e a inocência é aí, agora ainda, por sempre, na eternidade do instante, e a ingenuidade é lá, por algum tempo, na etern-itude do momento, o perfume da maresia marítima, os sentimentos de prazer.
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A lua vai alfim aparecer. A neblina alastra ao meu horizonte sem fim, aos meus uni-versos por serem, os olhos doem-me da nitidez estéril, do nítido nulo, da aparência frígida, da folha limpa por escrever. Timbre de prata, flutua. As cordas da lua tremem. Passam a legenda e os anjos, passam os mitos e as fadas. Passam os ritos e as bruxas. Que é que isto quer dizer? Ou nada quer dizer? Devo estar velho, a solidão ec-siste insuportável. Ou quê por ela? De repente a vida ficou muito mais extensa. Os olhos deambulam muito longe, a longitude da correspondência entre o horizonte e o infinito.
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Dizem os pescadores a rainha do mar fez última tentativa de igualar-se ao senhor dos céus. Olocum era uma hábil tecelã, dominando também a arte de tingir os tecidos que urdia.
Tão extensos, tão longe que tudo atrás fica lendário, tudo atrás é conto do vigário, é estória da carochinha. Respiro devagar, trago a fumaça do cigarro lentamente. Como se me balanceasse o corpo ao ritmo sereno do universo. Noite ofegante, olho-a. Pela janela, ao alto, sobre o negrume dos pinheiros da periferia , silencioso céu. Estendo-me na rede, extenuado das memórias do dia, do cão que latia incansavelmente por estar preso pela corrente, do barulho da água que enchia o tanque de lavar roupas...
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É no silêncio que vivo, aprenderei outra linguagem? É na solidão que prolongo os dias, aprenderei outro estilo? Não há palavras ainda para inventar o mundo novo. Não há sentidos ainda para revelar o outro dos sonhos, utopias, dos verbos que hão-de ser. Nã há antanhas e presentes das perquirições o aqui no instante do momento. Estou só, horrivelmente povoado de mim. Valeu a pena viver? Valeu a pena trilhar as estradas de poeira? Valeu a pena passear pelas manhãs, con-templando as folhas verdes umedecidas do orvalho da noite? Matei a curiosidade, vim ver como isto era, valeu a pena. É preciso que tudo des-apareça para que tudo possa re-construir-se - re-construir-se através de um "deus único", um "deus final". Não sei ainda a linguagem do mundo que terei de re-inventar, o estilo da ec-sistência que terei de re-criar, a forma da imanência que terei de re-fazer.
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Quem me dera agora tivesse a harpa para “dedilhar” o soneto ao silêncio!...
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De versos
O evo se constrói
De quimeras
Constituirá a sensibilidade
Do período
O período
De poemas
Declamará a pulcritude.
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Da perspectiva
A perspectiva
De apetites
Associará a eloquência
O tempo é composto, quimera e poemas
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Que se arruína e dissemina fora do meu tempo,
raciocínio enviesado sem exclusiva justeza de ser...
O meu sopor penetrante, é mediador para outro Universo,
ocasiona da existência decesso,
do bem-querer a malévola dita, e do âmago,
inspiração infrutífera.
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Persigo
em dianteira,
mas sem querença,
persigo igualmente sem rota.


#riodejaneiro#, 29 de outubro de 2019#

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