#VEIAS OBLIQUAS, VERVES OBTUSAS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO




Identifica-se a natureza. Calma, quieta.
Olhares inventamos para manifestar desgraças íntimas.
Outros para driblar e dissimular.
Inda outros para trafulhar e re-presentar,
Jogos da mente.
Havia o declive das avenidas
Favorecendo nossos passos comedidos.
O aclive para amortecer um pouco a prepotência.
Havia o beco estreito por onde passar,
Cortando caminho para a escola,
Havia a avenida a atravessar
Melancólico, nostálgico, pensamentos alhures,
In-vestigando os vestígios dos manque-d´êtres...
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Re-vela-se a manhã. Neblina embaciando a visão.
Sonhos, esperanças, inspirações re-criamos e criamos.
Estando os galhos inertes, o vento balança-lhes, dando harmonia às folhas verdes, molhadas pelo orvalho, engolfado de opacidade. O céu, com nuvens brancas de perto e, ao longe, no que é conseguido ver da montanha, algumas nuvens obscurecidas. Árvores impedem de saber se são contínuas. À janela – cabeça de fora, - não é verdade. Claras. Nítido nulo. Mudança irreal/real. Emoção sentida.
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Dor incrustada no peito.
Somos uns tristes e desamparados.
Somos uns loucos e dispersos.
Somos uns carentes e atores.
Dias de verão. Lugar em tédio deixado. De tudo, sentimento vivido. A renúncia encontrada em nós desta liberdade. Olhar de frente as coisas lineares renascidas nas veias oblíquas, nas verves obtusas. Vem a imagem de que necessito retornar à sombra de uma árvore, a cabeça sobre sua raiz, e olhei para cima, um vazio sem limites, mas esta lembrança permaneceu em mim desde sempre, embora não tenha sentido ou intuído antes. Fazenda.
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Assim, realizo com alegria intensa no peito aquilo de deixar impressas as memórias das palavras, flashes de passagens, momentos, angústias, pastagens de outras quimeras.
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Era tarde, o sol queimava o corpo a qualquer toque, um calor infernal, fui lá eu sentar-me por baixo de uma árvore, para descansar à sua sombra, fora quando senti um vazio enorme, e quando desejei ter ao meu lado todos os homens, de qualquer credo ou raça. Desejava trocar dedos de prosas, bater papo com todos eles, mas não sabia fazê-lo, as palavras envelariam esta ausência, e estaria conversando com eles.
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A terra sugere levantar-se, o céu descer. O verão vai chocar guinchos cerimoniosos nas vertigens. Transcorre-se ambíguo.
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Absurdo plúmbeo e clorificado.
Oscila entre sombras, tédio, obscurecimento.
O duplo transcorre-se.
Oscila entre o pessimismo, nostalgia, paz. Somos miséria, desgraça. A liberdade, luz estrídula: presente e futuro. Presente mesquinho, medíocre, vivido insuportavelmente. Não vislumbro nele senão um estranho e inexplicável mostruário de paixões e desejos reprimidos, de tradições e idéias maquinais, tudo mal misturado e ao acaso no rosto débil e lustroso de um homem que orça pelos trinta e oito anos, tão irresoluto e indeciso agora como o fora na mocidade.
#riodejaneiro#, 30 de julho de 2019#

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