SONIA GONÇALVES ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA COMENTA A PROSA METAFÍSICA /**CORTEJOS SONOROS DE SEDA**/




Texto fabuloso, Manu, admito esse está impossível de ser plagiado, mesmo porque eu noto em seus textos uma conversa misteriosa de você com o seu eu poeta e aí, meu amigo, somente você saberá a senha que leva ao decifre de tudo que realmente está pensando, usando do vocabulário mais lindo e muitas vezes margeado de metáforas ricas e insolúveis para quem não se integra e entrega ao texto desde o começo.Teu livre arbítrio faz as palavras dançarem por sob nossa visão humana nos transportando para um lugar diferente, um mundo requintadíssimo, amo muito, dificilmente será plagiado, mas valendo o alerta para os incapazes, improdutivos e sem ética alguma. Parabéns e agradeço. Bjos.
Sonia Gonçalves

#CORTEJOS SONOROS DE SEDA#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: PROSA METAFÍSICA

Epígrafes:
"Nas adjacências em que Só o olhar explica-se há-de se adjetivar o subjetivo na explícita verbalização." (Graça Fontis)

"O verbo dos ócios se tornou osso impotente de ser cinza ao longo das regências que figuram as imagens estilísticas." (Manoel Ferreira Neto)

Ressumbram-se a brisa noctívaga, o chuvilho vespertino, o que houvesse de místico nos pensamentos e idéias, nas utopias da efêmera verdade, o que houvesse nas volúpias plenas da metafísica, aquele instante-limite de delírio, desatino, devaneio em que nonadas e travessias sintetizadas tecem, crocheteiam, performam o além, adornam re-trospectivas, con-templação do panorama e paisagem das "cositas" uni-versais, que carecem de princípios a fundamentarem a liberdade de palmilharem os séculos vindouros e lhes iluminarem com êxtases, clímaces?

Por que a intenção de silenciar o silêncio, se não se lhe ausculta o som metafísico do tempo e dos ventos, metafórico do não-ser e das garoas, se não se lhe sabe ritmar os sentimentos que concebe da solidão, melodiar a lírica que regencia as utopias e sonhos da verdade, musicalizar os parágrafos que gerenciam as estruturas e formas verbais da imanência? O que se des-atou num só instante não cabe no infinito. O melhor seria vis-à-vis-lumbrar os inter-stícios vazios da alma, onde o nada devaneia e pervaga, re-colhendo-o, a-colhendo-o, tornando-lhe auto-vácuo eivado de frivolidades, no vácuo da alma, mesmo sem ins-piração, sem dons e talentos, quiçá sejam diligências a glória e o esplendor, carruagens o poder e as sombras.

Tome-se meia dúzia de despeito. Acrescente-se uma dose de margarina do ciúme. Adicionem-se sete gramas de polvilho da inveja. Coloquem-se três ovos de codorna, uma pintada sutil de malagueta. Agite-se com a mão da incapacidade. E dê de três em três horas marcadas no relógio de um ponteiro só, cujo pendulum desliza lentamente de um lado para outro sem emitir qualquer som, as horas voam. Excelsa receita para criar a alma de que o corpo está carecendo. Rola a falácia de que só no instante do nascimento a alma entra no corpo, no momento da morte esvaece-se. Miríades ondulantes resvalam os instintos na linha da iniquidade, ruminam a voz esganiçada da falsidade, da farsa, do preconceito, da hipocrisia...

O silêncio é o que é: sente-se-lhe, ouve-se-lhe, vive-se-lhe, põe-se-lhe em questão, a liberdade anuncia-se plena e o destino se faz, constrói-se, institui-se, enveredando-se pelo justo valor de existir, pela ingratidão do inevitável que em completo desvario ronda nas cavernas de que os instintos possuem a esquiva rota. Imagens trêmulas de expressão passam em cortejos sonoros de sedas, sons que vibram solenes e agudos e não ec-sistem cordas a movimentar-lhes.

Divas esperanças das sorrelfas perenes de plen-itudes e sublim-itudes, horizontes e uni-versos mergulhados nas trevas mais-que-perfeitas do nunca que é um tempo longínquo demais, se se realiza, é que o subjuntivo do vir-a-ser enovelou-se com o particípio do passado entre a náusea da contingência e as ipseidades do livre-arbítrio, nas brumas gerundiais enoveladas de particípios do imortal que é um tempo sem limites e fronteiras, se se ressuma, é que as declinações não se prestam a estabelecer a alma da morte, os genitivos não re-leem a sem-palavra dos causos que o entendimento não alcança, o espírito de morrer entre o gosto da reverência ao destino pre-determinado da promessa da ressurreição e glórias de prazeres e felicidade indizíveis, inenarráveis, indescritíveis, por tudo que se encontra por todo o horizonte, entre a crença de que só o que pode ser visto e sentido está claro e explicado, o que não pode sê-lo é motivo de escárnio e negligência.

Ao léu do efêmero, o orvalho da madrugada para respingar-lhe com ternura e carinho de moléculas indicativas do jamais perfeito, mesmo na consumação dos verbos, no alto da montanha o catavento inerte, lobos uivando à mercê da neblina gelada, é no lobo que ec-siste o que sou, o que sobro, a coruja muda toda encolhida na galha da mangueira, o inverno está de lascar os ossos, sensação de quarenta graus abaixo de zero, carece-se de lenha norueguesa para esquentar a carne, do in-finito a roda-viva das etern-itudes à espera do incognoscível e in-audito para esplenderem o absurdo. Ando perquirindo a rocha imperativa, e a tudo me lanço, nesse quando alvorece frescor de coisa viva.

Uma semente engravida a manhã, é o dia se anunciando. Origens e gênesis do ad-verso pers-versando as linhas fronteiriças das ausências e carências do nada vazio de pectivas, do vazio nadado de prismas e ângulos, da nonada náusea, das angústias sarapalhadas nos lotes vagos de liberdade e vontade de artificiar a consciência e o ser.

Estilizo o não-dito à moda da sempre-viva chama, não perceptiva, tão mais devastadora, lavrando traços cômicos, de uma a uma, disjecta membra, deixando inda palpitantes e condenadas, no solo ardente, porções de minh´alma. Nada lhe peço, manhã invernal de julho, senão que continue, no tempo e fora dele, irreversível.

O verbo dos ócios se tornou osso impotente de ser cinza ao longo das regências que figuram as imagens estilísticas.
#riodejaneiro#, 20 de julho de 2019#

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