DO SOL DO CREPÚSCULO AO VERSO-UNO DOS DESTINOS INAUDITOS GRAÇA FONTIS: FOTOS Manoel Ferreira Neto/Graça Fontis: PROSA AFORÍSTICA



Saracuteando os
Pro-emblemas do nada
Das volúpias e tristezas,
Devaneio das idéias,
Silvo de utopias e vontades,
Desvario de perquirições...
Emblema dos equívocos,
Desenganos, desatinos,
Cujo valor inestimável...
Todos misturados,
O que sei dele é tão volátil
Que fica entre mim e eu
Aconselhável não transgredir,
Não sair espalhando a todos os ventos,
Norte, sul, leste, oeste...
Guardá-lo no subterrâneo das insurreições,
Irreverências, insolências, prepotências...
Silêncio se evola sutil
Do entrechoque das intenções fundamentais
E as idéias que se esparramam pelas frases a fora...


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Onde o sublime da liberdade a jorrar
Nas fontes que deslizam solenes e suaves
Os brilhos inebriantes?
Onde o prazer inusitado, estrangeiro, inédito
Sarapateando passos de dança na varanda,
As lenhas crepitando no fogão?
Sons das quimeras e idílios
Dedilhados nas cordas do violão,
Crepúsculo solitário de um casebre,
À soleira da montanha, um caminhozinho-da-roça,
Sonhos nunca morrem, suprassumam os tempos...


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Projectar a cor-agem de devanear
O agradecimento às ausências e vazios,
Faltas e falhas,
Forclusions, manque-d´êtres,
Ermas perspectivas de antanhos pretéritos
De algazarras e ruminâncias,
Que concebo à postura de
Permanecer presente, aqui e agora,
Este instante-limite à mercê da lâmina
De navalha que corta a barba dos tempos,
Dos ventos, apara o bigode ao estilo James Gardner,
A Hora da Pistola,
Às re-versas de vazios de silêncio,
Às contro-vérsias do vácuo e do abismo,
O silêncio aportado na Ilha dos Pródigos
Pensantes visionando barcos marolantes
À cata dos destinos inauditos a serem
Sementes, plantados no canteiro dos sonhos,
No jardim das sandices frente ao Pico dos Condores,
No limiar de todas as marolas
Do mar infinitivo e infinito
Dentre todas as efemeridades
Que o ser abraça,
A língua arregaça as regências,
Coração e mente trapaçam as gerências,
Por intermédio e dentre as contingências
Do ser na vida pré-pró expectativada
Num enredo folk-lórico do
"Deixar-se acontecer...",
Numa estrutura lendária do
"Levar as coisas do mundo na flauta...",
Em que o tempo,
Só o tempo,
É sabedor dos mistérios do xeque-mate,
Não há como prevê-los,
Dos enigmas do pôquer,
Não há como adivinhar o naipe dos valores,
Os símbolos, signos das importâncias...


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Glória
Glória e bem-aventurança para quê?
Que sentido trazem no alforje?
Palavras que o olhar des-cobre outros gestos,
Pré e pró-blemas do nada seduzido pelas trevas
E brumas
Da passagem da madrugada de criações e imagens
Da almática luz que inebria a solidão
Do beco que leva às fronteiras e fronteiriças
Às porteiras e cancelas
Do além genitivo da exuberância das cores,
Aos mata-burros e pinguelas
Do aquém declinativo do esplendor das tonalidades,
Que leem os traços do croqui,
Espelhos lúdicos do desenho e sonho
O uni-verso,
Imagens à mercê da fertilidade da mente,
Subjetivadas,
Onde balançar no trapézio do nada e vazio
Ritmados e melodiados
Nas perquirições e in-vestigações dos ínterins
De tique-e-taques outros do pêndulo
Do relógio de três ponteiros,
Os dois que marcam os átimos de segundos e minutos
Até à hora entre a luz e a contra-luz,
Até à hora entre a escuridão
E o nada de tonalidades escusas,
O terceiro que desliza no espaço
Entre as sombras e os silêncios,
E é o pêndulo do belo em que o cão
Espera os restos de por baixo da mesa,
A galinha cisca à porta de entrada,
O pintor pinta o par de botinas no seu ateliê,
Diante da natureza,
A mãe alimenta seu filho,
A deslumbrada abraça sua cadela estilosa,
É que a beleza está no simples,
No complicado é fruto da não-observância,
Do olho mágico
Que a tudo com sabedoria e percuciência,
Sensibilidade tira, extrai do mundo o melhor,
Artifício por inter-médio do qual surge uma realidade
Indizível, indescritível, inenarrável
Que passa a existir...
O lapidado ativo das quimeras e cores do crepúsculo,
Vir-a-ser do lapidado,
É a humanidade demonstrando a sua existência
No caos circunstancial, vigente, regente, impingente,
Das trevas-luzes que preambulam sonos e sonhos
Do verbo de sentir os
Prazeres da Vida...


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Há-de se balançar a vida!...
Há-de se sacudir a vida!...
Há-de esganar a vida!...
Mas a vida deve
Ser vivida...


(#RIODEJANEIRO#, 27 DE JULHO DE 2019)

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