A AUTENTICIDADE EM ANA JÚLIA MACHADO*




Cada parágrafo de seu texto, Aninha Júlia, Ana Júlia Machado, é uma reflexão profunda. Aliás, lendo a sua obra, venho percebendo a dimensão filosófica em altíssimo nível, o que a congratulo. Fosse relacionar a dimensão filosófica de seus textos com um filósofo, não teria a menor dúvida em citar Martin Heidegger, o Dasein(ser-aí). O "Ser-aí" está presente em todos. Não sei se já leu SER E TEMPO. Caso não o tenha, sugiro que leia, tenho a certeza de que irá contribuir imenso para a sua carreira literária-filosófica. Há quem aprecie centralizar: o Dasein é a pedra de toque da obra, Aninha Júlia é existencialista. Primeiro, centralizar é reduzir a obra, é reduzir a consciência e a sensibilidade do autor. Segundo, Heidegger não é existencialista, ele próprio negou isto. Heidegger é fenomenólogo-ontólogo da existência. Neste sentido, encontro Kierkegaard, Sartre, Lévinas. A linguagem sua lembra sobremodo O Desespero Humano, de Kierkegaard. O estilo é o seu - como diz William Woodworth "O estilo é o homem". Sem querer puxar a farinha para o meu saco, mas aqui e ali reconheço alguns traços de meu estilo na sua obra. Mas isto tem uma explicação: você conhece a minha obra já publicada aqui no Face, e pelo fato de a comentar sempre alguns traços você assimila sem querer, é inconsciente isto. Chegará o momento de se afastar de mim, trilhar os seus próprios caminhos, estarei sempre ao seu lado para reconhecê-la e incentivá-la.
"... sou por mim e não pelos outros que querem que seja…". Neste excerto de seu texto, está uma das dimensões filosóficas de Heidegger mais lindas, A AUTENTICIDADE. E para comentá-la sirvo-me de outro pensamento dele: "O artista é a origem da obra e a obra é a origem do artista". Ninguém pensa por você, ninguém escreve por você. São suas experiências, vivências, são as suas idéias, utopias, são os seus desejos, vontades, sonhos, são seus ideais, são suas responsabilidades e compromissos não só com a sua existência, mas também com o outro, nisto da Autenticidade, ser você mesma. Para isto, como dizia Sartre, é preciso arrancar-se de dentro mesmo que seja a força. Ser autentico não é coisa fácil: há sempre o medo do outro, seu modo de pensar outro, que gera o diálogo, suas censuras, que geram as insatisfações. Em princípio, todos tememos isto, o outro está agarrado em nós, perfeito carrapato, impedindo-nos de ser livres, impedindo-nos de ser nós mesmos, pensar e sentir significam ser o outro, o outro é a categoria. Já disse que no início tinha muito medo de entrarem na minha inconsciência e começarem a citar todas as minhas neuroses, a obra perder toda a sua validade, a sua importância. Mas somos artistas - literários, filosóficos, poéticos, não importa -, portanto a obra é a nossa origem. A obra é a nossa origem in totum, em todas as dimensões. Sartre foi verdadeiramente fascinado pelo "homem por inteiro", justamente por esta questão da autenticidade. Assim, escreveu ele O IDIOTA DA FAMILIA, sua última obra, três volumes, duas mil e oitocentas páginas, em que ele disseca Flaubert, a partir de Madame Bovary, a obra-prima de Flaubert. Para ser autêntico é preciso ser-aí, Heidegger, estar-aí, Sartre.
Ana Júlia Machado já está presente em toda a sua obra, já se revela, mas no inter-dito, se se quiser, entre-linhas, sendo agora necessário transparecer este inter-dito nas linhas, no dito, mas isto é com o tempo. A autenticidade - como dissera antes ser uma das dimensões mais lindas na obra de Heidegger - do escritor, do poeta acontece no tempo, não apenas na dimensão da obra, na dimensão da vida mesma, diante das situações e circunstâncias da vida, são os "acontecimentos dia a dia", como está escrito na primeira linha de A Náusea, de Sartre: "Les mieux serait décrire les esvanements au jour le jour", "O melhor seria descrever os acontecimentos dia a dia". Na vida e na obra o dia a dia. Há coisas, Aninha Júlia, que precisamos "arrancar" mesmo de dentro, mesmo que presenciemos o borbulhar do sangue correndo dentro. A obra e o artista têm de se cor-responder. No que concerne a mim, digo: estou muito longe ainda desta autenticidade, deste homem e escritor por inteiro, há coisas que ainda tenho de viver para alcançar esta autenticidade plena. A autenticidade é o tempo, são as experiências e vivências e experiências ao longo da vida e das buscas.
Continue escrevendo, minha querida amiga, a sua obra vai contribuir em todas as gerações. Se hoje, de início, há pouco você tomou da pena e enfrentou as letras frente a frente, já é uma grande escritora e poetisa, imagino daqui a uns cinco anos, será uma obra inestimável.
Um grande abraço!!!


Manoel Ferreira.


O que queria….mas não deixam…..


.Eu só desejava um diminuto tempo para alcançar meditar e repousar o ónus do Universo que carrego em mim ...
Um silêncio e onde não me questionem insignificância, nem me roguem nentes, somente que me deem e me possibilitem o querer de dar escoamento ao plangor que chego ingerindo com o alvor, enquanto trajo a anteface para gritar ao mundo, vejam só como sou uma criatura destemida e potente....Sim, porque mesmo que não queira, os outros querem…..e olham para mim dizendo és uma guerreira(minha vontade é dizer, pois eu dou-vos o que tenho e aguentem).
Estou saturada de escutar por parte dos grandes" eruditos"….o que desiste é fraco. Nem supõem o prazer que isso me dá. Como eu gostava de ver essa gente a sofrer o que tanta gente sofre ( desabafo….não gostava coisa alguma, não vivo com o mal dos distintos).Mas então há uma frase que proferem muito…Deus só oferece as coisas aos fortes. Tira-me do sério. Se existe um Deus, por ventura acha que um inocente aguenta as malvadezes do ser….por favor!!!


Mas Queria ser a bambina que pode prantear desafogadamente, sem apontarem o dedo e até que me coloquem no regaço, repondo assim, o comedimento que careço para descansar em serenidade.


Gostava de aventar-me na indagação dos devaneios, sem haver que matizá-los com as pigmentações da prostração, ou matizados com os pigmentos do inexequível. Porque isso seria cair na tentação mais uma vez, do irrealizável.
Fruir apenas o contubérnio (tão escasso) igualmente nas oportunidades em que tudo aparenta haver desaparecido, e reaver unicamente um zelo onde possa relaxar minha fraqueza, um ombro que seja sossego e ternura, e que não julguem sem saber...


Ambiciono ceder que me infeste todo o sofrimento da Terra neste momento, porque ela é minha, verídica e ímpar, e que como tal faça-se assentida e compreendida... mesmo que eu ainda não possua erudição para laborar com ela ...porque o ser é um ser incompreensível, e não estima o que há de mais belo……


E proferir com toda a liberdade que me assiste sem alvitras….


Estar atormentando sim e muito…porque sou gente…mas gente com sentimento…


Sem atemorizar seja quem for (que me apraz dizer que a poucos poderia assustar…), originando uma revolta tão colossal que meu Universo patenteie ainda mais livre . ..Seria exequível?


Percebo que é mais um desabafo, que logo, próximo ou longínquo, tudo dista aparência dissemelhante e novo, eu sei….ou penso que sei… Caminho enxugar as minhas vistas e vou novamente à briga….. e da compaixão que sinto pelo mundo e pelos homens. Hei- de renascer mais vigorosa ... isto, porque ainda sou alguém ou penso ser, que medita e com alma e não se fragmenta …ou pensa que não….e sou por mim e não pelos outros que querem que seja…..


Deixem as pessoas chorar quando têm que chorar e não as coloquem com o rótulo de fracos….Porque de pseudo -potentes está o mundo carregado e não fazem patavina, a não ser destruir e criticar o próximo……


Ana Júlia Machado
#12 de agosto de 2014#

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