INSTANTE DE INTROSPECÇÃO DA ALMA# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto e Graça Fontis: AFORISMO




Epígrafe:
"É nas faces do tempo o inscrever-se angustioso do olhar ininteligível dos sentidos multifacetados do próprio existir."(Graça Fontis)


"Imagem espelhada, mas que não se vê refletida, não se lhe vê a face..." (Manoel Ferreira Neto)
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Mas onde encontrar o silêncio indispensável à força, o longo hausto graças ao qual o espírito se re-compõe, a cor-agem se mede a si mesma, o medo se metrifica na linha das fugas, justificativas, explicações espúrias, a liberdade pensa a si nos auspícios da abertura completa às outras dimensões da dignidade e da honra, re-fazer-se, pós tremeliques das consequências, pré arrogâncias e soberbas das decisões, póstergos pitis e mazelas das responsabilidades, per de nosticidades das culpas e remorsos de gestos e comportamentos? Palavras apenas ao verbo dos ventos, soletragens das letras que compõem o sentido, será mesmo? ou "seria que mesmo fosse?...", certas construções da Língua, não é verdade?, mas são importantes para o que se intenciona in finitivum dizer, efectivamente, deixemos o latinório para depois de amanhã, vaidades de estar dizendo as coisas. Palavras soltas ao léu das metafísicas e da neve cobrindo montanhas, serras, picos, montículos... venenos e ácidos destilados à soleira do ponteleão das intenções metafóricas ao gosto da estupidez da língua que só verte e jorra cretinices e se entupigaita toda de importâncias, o deus dos deuses...
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Mas onde encontrar a pura solidão, atrás do silêncio, às custas da desértica re-flexão do ser-só na solidão da id-ent-idade do estar-no-mundo, o halo divino de outros nós graças ao qual a eternidade e a imortalidade se me afigurem a entrega por inteiro, somos feitos para a graça, aos ombros do caráter de liberdade significar, denotar, conotar "responsabilidade" com as idéias, ideais, decisões, "amor e entrega" ao ente amado conotarem as mãos entrelaçadas ao destino do eterno?
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-*TEMPO*
São todos os sítios,
São todos os olhares,
São todos os sonhos,
São todas as utopias,
São todos os desejos,
São todas as esperanças,
São todas as vozes,
São todas as metafísicas
Desde Sócrates, Platão, Aristóteles,
São todas as orlas marítimas,
São todas as ilhas e bosques,
São todos os silêncios,
São todas as solidões
Persigo a multidão.
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Estivesse eu em uma fase de profunda angústia e depressão, aliás, isto é bem verdade, de nada iria adiantar fugir, engabelar-me, não me superaria de modo algum. Precisava sim assumir-me. A intenção era sim de identificar esta depressão, desde o início de minha atitude, fundamentada e fundada, de proscritar a indecência, e desejo sim expandir a sua compreensão, dizendo coisas que não o fiz antes por uma questão de não estar disposto a seguir outra trilha, outra vereda, senão a compreensão e entendimento da depressão, além daquele sabor delicioso de saber na prática o que é isto de "proscritar a indecência...", até compreender e con-sentir as angústias são inestimáveis. Por que não dizer até eu ser daqueles que proscritam as decentes indecências? Contudo, a chave para muitas das indecências estão nestas poucochitas palavras. Acontecesse o que acontecesse comigo. Não quero velório, velórios, amigos pesarosos e tristes falando de mim, velas, padre encomendando-me a alma, faleci, esquife e sepultura de imediato. São-me inestimáveis as angústias, náuseas...
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Mas onde encontrar a nostalgia em seu estado lídimo e probo de delírio, devaneio, desvario, nutrindo-se dos éritos das vãs esperanças, dos medíocres sonhos, ridículas utopias da glória, para o insofismável mergulho na náusea da verdade nas sinuosidades do eterno e efêmero, do bem e do mal, da in-verdade e mentira, quando se re-vela nítida e nula a alegria breve da consciência de que o "paraíso" se faz na continuidade das persistências, insistências, das labutas?, o inferno, na eternidade de suas chamas a altíssimas caliências dos pitis e mazelas, hipocrisias e taradices da farsa, se faz calientemente por todos os fogaréus dos fogaréus, shalom!?
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Deveria rir-me a todos os fôlegos disto de "...fogaréus dos fogaréus, shalom!?...", quando interrompo as idéias e as intenções, entrando com ar trigueiro no jogo das intenções escusas? Alfim, isto de "por todos os séculos dos séculos, amém" está sobremodo defasado, obsoleto, perdeu a força da cor-agem de assumir as indecências; neste estilo trigueiro, atinjo e alcanço os objetivos de dar o ouro para o inimigo, sacolejai, oh vós, ao carregáreis nas costas tamanho peso, felicita-me o sentir que o abismo espera-me solícito, devo subi-lo, ir subindo, subindo, apesar das árduas labutas faço-o de escárnea sátira, isto porque assumo com todas as letras em riste as misérias que me habitam, a esposa nesta manhã de domingo de solzinho ameno, perguntara-me se vou levar para o esquife os pitis, pensasse nisso. Há dias que me não entendo a mim; não há razão, explicação, justificativa para estar irritado, e estou irritado. Nestes dias, nem eu próprio me suporto.


-*TEMPO*


São todos os desenganos,
São todos os erros,
São todas as ilusões,
São todos os fracassos,
São todas as frustrações,
São todas as vitórias,
São todas as decepções,
São todos os ódios,
São todas as animosidades,
São todas as glórias,
São todas as desilusões,
São todas as faces iguais,
São todas as horas sem paz,
São todos os humanos indo
E vindo na multisolidão...


Não habito, não resido na virtu-solidão,
A solidão é-me a ausência do "eu",
Não a falta do "outro",
Não regateio presenças...
Sigo os presentes de espírito, alma,
Verbos, utopias...
De mãos entrelaçadas, subterrâneos do espírito...
Re-colho, a-colho, colho
Ensinamentos, experiências, luzes
De crescimento, amadurecimento...


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Alma de sombras e brumas, crepúsculos de desejos e vontades envelados de tristezas, melancolias, o trem da glória segue os seus trilhos, passando pelas pontes, águas correndo, seguindo a trajetória dos caminhos, no alvorecer nublado, a glória continua na linha férrea, passeando vazia pelos dormentes, nas ruas ainda desertas, os boêmios levam a guitarra no ombro, dedilham nos sentimentos das nostalgias pre-cursoras das notas as utopias efêmeras, à beira da praia, no crepúsculo, o brilho intenso do sol, imagens, perspectivas...


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Certa vez, em Várzea da Palma, cidade do sertão das Minas Gerais, retornando de um acampamento na Serra do Cabral, na estação rodoviária, no início da manhã, vi boêmios com seus violões na mochila, nas costas... senti-me mineiro naquela ocasião... Julho de 1983, de mãos dadas com conhecidos mais chegados intimamente.
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Carioca hoje considerando-me, contudo não nego as origens mineiras, sou nascido mineiro. Nego a hipocrisia da terra regional, denominada terra-natal, porque a hipocrisia não tem leito de flores no regaço de minh´alma, sempre fiel e leal a este pensamento de Machado de Assis. Minas Gerais é-me a terra-mãe. A minha terra-natal é de origem a mais hipócrita.


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Fecho o diário. Os olhos param num sítio qualquer. Observam e nada percebem. Vão cair na armadilha das coisas. Não fossem os olhos, a condição seria tão só vaga idéia, abstraçãozinha medíocre. Existem. Jamais reparei que a existência estivesse nos olhos. Penso, sinto e raciocino através deles. Saíram do lugar em que estavam localizados. Dor horrível nas órbitas. Saí trucidado.


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Dilacerado até ao fim. Imagem espelhada, mas que não se vê refletida. Conheço através de uma missiva a dor e sofrimento de mãe por seu filho amado e querido ter problemas sérios de visão, mas que cursa Letras na Universidade, apaixonado com as Letras. Consciência morta. A superfície plana. Incólume verdade sobre isto de enxergar: para quem nasceu sem a visão, cego por sempre, os homens aprendem a conviver com este limite, muito embora as dores e sofrimentos, mas quem perde a visão jamais irá se conformar ao menos. Solidarizo-me com ambos: sinto profundo o que isto de não possuir a visão. Com os seus limites, mas tenho a visão.


-*TEMPO*


São chaves erradas,
São lágrimas vertentes,
São trancas trancadas,
São algemas fechadas,
São correntes aferrolhadas,
Preciso socorrer-me.
Persigo o Tempo!...
São luzes brilhantes piscando
Em uníssono, imagens escalafobéticas,
Risos, apertos, tremor e temor,
Desespero Humano,
Diário de um Sedutor,
Maulraux, Kierkegaard, Camus,
A ciência de o silêncio do vazio
Exalar silvos, sibilos, é compreendê-los,
Ouvi-los...
Persigo o tempo...
#riodejaneiro#, 28 de julho de 2019#

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