À PROPOSITO DE /**ALÉM DAS ÁGUAS... SILENCIO!!!**/ - COMENTÁRIO DE Sonia Gonçalves





Composição suprema, texto sublime! Com certeza, sua hiperatividade nos é evidente e fica claro como seu cérebro é inquieto através das tantas lindas escritas que nos proporciona. Amei todo o contexto e conteúdo sempre poético, sobre tudo o detalhe em que cita o flamboyant que adoro!...Já o citei também em várias poesias... "Meu flamboyant de primavera que bonito que era dando sombra no quintal.." (Roberto Carlos). A partir daí me inspirou muitos versos e seu texto vem somente acrescentar...A paciência de Jó tão bem algemada nessa narrativa nos dá a sensação e certeza de quanto se deve ter essa dádiva, que vai se cultivando com o tempo...Obrigada Manu. Você sempre me faz meditar sobre as coisas simples ou quão as tornamos mais complexas... Bjos querido.. Parabéns por mais este enredo com seu dedo e faro peculiar.
Sonia Gonçalves


**ALÉM DAS ÁGUAS...SILÊNCIO!!!**
EPÍGRAFE:


"Só à custa do "Eu" a verdade se re-vela" (Manoel Ferreira Neto)


Águas cristalinas.
Águas límpidas.
Águas puras.


Jorrando da fonte. Fonte serena. Fonte de pureza. Fonte singela. Alegria efêmera. Alegria profunda. Alegria breve. Além das águas. silêncio. À sombra do flamboyant, re-festelo-me. Deixo-me livre. Deixo ideais, deixo pensamentos, deixo idéias rolarem em mim dentro, deixo dúvidas e questionamentos deslizarem solenes. Nada a pensar. Nada a re-fletir, nada a meditar. Vazio? Quem me dera estivesse! Sentimentos, emoções perpassam-me. Desejam atenção, privilégios, verbalize-os. Não o farei. Posso estar perdendo grandes oportunidades para encontrar outras dimensões do "eu", do "outro que se encontram envelados, "SÓ Á CUSTA DO "EU" A VERDADE SE REVELA", mas não quero agora empreender esta jornada, quero apenas estar aqui à sombra do flamboyant olhando distante, olhando nada, tudo longínquo. Poderia com perfeição continuar o itinerário que tracei até o anoitecer, dormindo nalgum canto, mas não, por aqui ficarei, aqui dormirei. O amanhã pode esperar. O tempo agora me pertence.


Louco, doido, varrido. Psdicopata, Esquizóide, Esquizofrênico.


Graças a Deus tudo isso, e mais algumas outras "cositas" deambulam em mim. Lá vou eu, sereno, tranquilo, seguindo a vida, lá vou eu pelejando por concretizar o para quê fui vocacionado, sem nada temer, sem medo, alfim que outra coisa faria da vida, deitado na rede, no seu vai-e-vem, com os olhos focados no In-finito? Nada é tão in-finito como con-templar o In-finito mesmo com a cintilância das estrelas, brilho da lua. O In-finito se real-iiza no arrasta-pés pelas estradas, sejam de poeiras, pedras, cascalhos.


Hiperativo que sou outra coisa não me restaria senão plantar os pés nos caminhos, como o escritor compulsivo que escreve sem limites, tudo atrás é apenas a ponta do iceberg, pouquíssimas letras que nada dizem, sentido algum têm. Ansiedade por ec-sistir no nada. O nada habita antes do In-finito, mas se localiza tão longínquo. Chegar lá é questão de fôlego e paciência.


Por incrível que pareça ou por increça que parível, como pode alguém hiperativo ter paciência de Jó para alcançar o nada, a partir dele rumar-se ao In-finito? As contradicções da vida são inúmeras. Essa é a minha suprema contradicção, talvez por o corpo estar começando a envelhecer, o espírito sentindo profundo que é chegada a hora da sabedoria, e a sabedoria é construída no tempo projetado ao além das águas... silêncio.


Sinto-me lânguido. A languidez é isso - o princípio do sono? Ou a languidez é simplesmente estar ec-sistindo no limiar da etern-idade, sem antes ter havido quaisquer a-nunciações do eterno? Alfim, a etern-idade é projeção da ec-sistência aos confins do que inda há a ser vivenciado.


Lembra-me um inestimável amigo, hoje com noventa anos, que decidiu organizar o acervo de toda a sua vida, faz seis meses que se entregou plenamente a isto. O acervo projetará sua vida até a consumação dos tempos.


A vida... O que importam todas as estradas, se, alfim, o amor por ela, projeta-a às arrribas da morte? Quem me dera mais vinte anos de vida para re-pensar tudo o que já pensei, com todas as experiências, vivências, sentir a vida mais de perto ou mergulhar-me inteiro nela, esquecendo-me de todos os seus caminhos. Vivendo só a sua fonte.


Algo aprendi na vida: a vida de certos homens chega à consumação, quando deixa real-izada a sua vocação.


O resto é além das águas... silêncio!!!


Manoel Ferreira Neto
(*RIO DE JANEIRO*, 05 de dezembro de 2016)

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