COMENTÁRIO DE ANA JÚLIA MACHADO ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA AO POEMA /*DO SARCASMO À RAIVA*/




DO MOTEJO À IRA


Aos Botinhas
De meu tempo, vocifero,
Brado ao custo dos milhares
Mundas emprenhadas, concebidas,
Sob a pulcritude, dor e arrojo de Madalena.


Mas entre a imperadora, a madre e a Cróia,
Permaneço mesmo com a redenção cândida da Michela.
Por que lhe advogo, caro do escoadouro!
Protejo com pranto e seiva brotando,
Sapiência e admiração transparente.
Sem solicitar, implorar, nem impor o bem-querer do másculo,
Nem da concubina de minha casta e espécie.


Agora
É estado indispensável que se cause ao ser humano
Um terrível gesto do ato de estimar.
Porque
Não arbítrio pela desbarato dos débeis,
Abatimento dos subjugados e arruinados.


Irmão,
Eis-me agora de corpo e espírito.
Por si,
Sou homem completo, consumado de todos os homens,
Com uma fracção de Divindade,
Outra porção de Sarcástico
Sarcástico Deus
Completo da fontanela ao âmago,
Do âmago aos testículos, dos testículos aos dedos dos pedúnculos.
Com olhar fincado no barro...


Indivíduo do solo. Criatura do Cosmos.
Seiva. Alvoroço. Susceptibilidade, mente e causa.
Lascívia.
Encarniçamento, insânia, quimera e desastre.
Carnação.


Vagidos, ais, refrulhos e berros proparoxítonos
Do tumulto da consciência à claridade da jurisdição,
Nos trens da mercê delicados de argumentos
Pejadas e artilhadas,
No fosso da rebelião do feito de quem é cidadão.
Muito pingo e sémen exsudados com alvoroço do
Motejo à ira.
Ana Júlia Machado


*DO SARCASMO À RAIVA*


Aos Calígulas
De meu tempo, esgoelo,
Esgoelo ao custo das milhares
Humanidades concebidas, geradas,
Sob a beleza, sofrimento e bravura de Madalena.


Mas entre a imperatriz, a freira e a Prostituta,
Fico mesmo com a salvação imaculada da Prostituta.
Por que lhe defendo, amigo da sarjeta!
Defendo com lágrimas e sangue jorrando,
Sabedoria e contemplação pura.


Sem pedir, rogar, nem exigir o amor do macho,
Nem da fêmea de minha estirpe e laia.


Hoje
É condição sine qua non que se faça ao ser humano
Uma trágica ação do ato de amar.


Porque
Não voto pela destruição dos fracos,
Aniquilação dos vencidos e fracassados.
Irmão,
Eis-me aqui de corpo e alma.


Por si,
Sou homem inteiro, feito de todos os homens,
Com uma parte de Deus,
Outra parte de Mefistófeles,
Mefis-Deus-tófeles
Inteiro da moleira ao coração,
Do coração aos culhões, dos culhões aos dedos dos pés.
Com olhar fincado no barro...


Homem da terra. Homem do Uni-verso.
Sangue. Emoção. Sensibilidade, pensamento e razão.
Erotismo.
Paixão, loucura, sonho e tragédia.
Carne.


Gemidos, suspiros, sussurros e gritos esdrúxulos
Da revolta do espírito à luz da justiça,
Nos comboios da graça pulcra de armas
Carregadas e armadas,
Na trincheira da insurgência do ato de cidadanizar.
Muita lágrima e esperma destiladas com emoção do
Sarcasmo à raiva.
Manoel Ferreira Neto.
#31 de janeiro de 2014#

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