#SILHUETAS DE IDEAIS NOS BRAÇOS DO TEMPO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO




Encurto o canto nessa subjetividade estéril...
Re-duzo os cânticos nessa sensibilidade impotente...
Embainho de ritmos e melodias as inspirações, intuições,
Devo sair pela porta da varanda,
Por lá, o sustenido das levianas idéias
Amplia a voz das ruminâncias dos medos e fugas,
Silhuetas de ideais nos braços do tempo sendo
Som a ninar os sonos nos sonhos que se fazem solitários,
A gaita continua a música o gaiteiro toca...


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Qual a razão de eu ser assim tão obscuro? Que justificativa houvesse de ser para estirpe tão con-sumida nas trevas dos pensamentos, das perquirições sobre o sem-respostas? - daí tirar deleite e volúpia? Seria que não haja concebido a luz que iluminará os passos, inda não haja desejado e querido ver com transparência as coisas obscuras em mim dentro, saber os segredos e mistérios de minha inconsciência, enigmas da alma? Ou ainda seria que não houvesse lenda ou causo destituído de senso que me impedisse de postar-me diante das circunstâncias e dizer o que penso e sinto pianinho, pianinho, como se tem costume dizer, houvesse algo mais alto que os monumentos erguidos à verdade....?
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Ando às cegas,
capengando no escuro,
usando bengala nas sombras,
boné para cobrir o teto de minha cabeça,
calvície mais que exposta a leste e oeste,
óculos escuros ao estilo James Dean,
no sol escaldante;
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Ando claudicando passos,
mãos postas, cabeça baixa
observando as pedras da rua,
a poeira que cobre as calçadas,
um modo de evitar tropeções e quedas, o progresso e o desenvolvimento não chegaram inda neste buraco de mundo em que resido, e nunca chegarão, pois que os únicos valores que tem são os do passado, contra todos os meus desejos e vontades, observando o movimento das pernas, nem das trevas retiro um drama sério, tragédia pujante.
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Ando me arrastando no esquecimento
de aceitar e compor, avaliar o frio vespertino na orla marítima, ver a cor,
ver o silêncio, outra palavra que goteja,
palavra esperada na dúvida e no cacto,
metáfora de balada de lavadeira ao pé da fonte,
no Rio dos Velhas,
salmos, caravanas nostálgicas desbravando as vias
onde esporas tinem e calcam a mais fina grama
e a idéia mais fina corrige o oblíquo pelo aéreo,
o obtuso à feição de pera mágica...
As mãos sabem a cor da cor,
múltiplo verde-róseo em duas gerações,
e com ela veste o nu e o invisível do visível,
tudo tem cor em poder de encantação,
mas não é verdade que o branco e preto
encanta por refletir as origens e o pó
das demolições de todas as coisas,
no muro nu...?
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Refugio-me em versos vagos,
estrofes vazias de sentidos e linguagem,
poemas esvaziados de sabor do vinho
em palavras in-versas de sentido e ritmo,
em razões re-versas de musicalidade e enredos,
que se quebram nas lamúrias,
re-clamações e rogos,
que se dobram nas penitências e arrependimentos,
suplícios e cochichos,
choramingos e sussurros,
que estão aquém das liberdades,
da arte de amar, dos segredos do caminho,
na viagem de todos os sonhos,
além das transcendências e metafísicas,
metáforas e contingências aquém de ventos anunciando,
de tempos envelando a visão do bosque na ilha,
nas gulas íntimas que estão aquém da fome,
das ausências e querências,
das faltas e saudades,
por todo o sempre e antes do nunca
a sede da cólera, os prazeres criaram raízes,
o retrato não me dá res-postas,
fita-me e se con-templa nos meus olhos nublados,
em tudo será pelo contrário meu fado extra-ordinário,
minha polka ultra-inédita,
performado o vale sinistro onde não mais haverá
solicitude, onde não mais haverá algemas e correntes,
a vaca Comprida dará leite no curral vazio
para o menino de coqueluche...
Não me envie correspondência
dizendo que leite com conhaque é
santo remédio para esta doença....
Senão se selo gravado em plano dionisíaco,
a desdobrar-se, tal fogo enigmático e sinistro,
incerto, mostrando o ser deserto,
nutre-se das chamas do próprio nada....
#riodejaneiro#, 29 de julho de 2019#


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