**SOLSTÍCIOS DE SOMBRA COMPACTA** - Manoel Ferreira


Deixe limpar de todas existências as amargas dores e angústias, náuseas das insanas ações re-fletidas no espelho de ontem, solstícios de sombra compacta, pagar a tagarelice da virtude com a tagarelice da glória obtusa de cobre uni-versal, trovões sobre as abóbodas cintilando verdades cor de enxofre, para que não re-flitam mais no futuro; no abismo dos sonhos as entranhas do ser expirando a decadência ambígua solta aos ventos soprantes, dando vida, de modo oblíquo, a gritos silenciosos dando voltas ao misterioso fascínio que reluz na imagem do tempo da derradeira solidão.
No ar des-anuviado, a foice da lua, entre rubores purpúreos, verde se insinua e invejosa ceifa pendentes redes, de rosas brancas e vermelhas, até caírem pálidas.
De que modo se distingue qualquer decadência? Por meio daquilo em que a vida já não reside em sua totalidade. Cada rosto sombra de segredos que se re-velam no ríctus e nas linhas da face sofrida, A palavra se torna soberana e irrompe para fora da ausência inaudita, da falta desconhecida, a ausência ultrapassa e obscurece o verbo do ser, a falta trans-cende e ensimesma á-gonias e nonadas de profecias da vibração e exuberância da vida comprimida em suas mais ínfimas ramificações, todo o resto desprovido de vida, todo o resto destituído de coragem.
Noites quentes feitas de sonho desfeito, tristeza que rasga, aos poucos, as almas das gentes. Enquanto fogos iluminarão a abóboda azul, viventes beberão a taça que se erguerá para o brinde do espaço conquistado por mistério do in-finito. O ritmo do tempo é insignificante para as vidas que se consomem em pregações sobre os enigmas do equilíbrio, sobre in-auditos da sabedoria.



Manoel Ferreira Neto.
(10 de março de 2016)


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