**NÁUSEA DO VAZIO/VAZIO DA NÁUSEA - XIX PARTE** - Manoel Ferreira


- Amor, você está se sentindo bem? - perguntou-me Berenice. Estava acordando, voltando do desmaio.
- O que é isto? Onde eu estou, Beré?
- Tive tanto medo de perder você, Sérgio. Estávamos almoçando com meus pais, você simplesmente desmaiou. Caiu com o rosto no prato de comida. Fiquei louca. Papai e eu trouxemos você às pressas para o Hospital? Não faça isso mais comigo, benzinho. Ficou desacordado por dois dias no CTI.
Está sentada numa cadeira ao lado da cama do CTI. Passava a mão com muita ternura na minha testa, afagava-me os cabelos, olhava-me com uns olhinhos azuis tão tristes.
- Estou no Hospital? Dois dias desacordado?
- Sérgio, por favor, você não pode exasperar-se. Está ainda no CTI.
- E o que eu tenho?
- Princípio de AVC. Disse aos médicos que teve uma crise de vazio muito forte. Estava sozinho em sua casa. Correu o risco de ter realmente um AVC. Tinha de ter procurado um médico logo. Depois de quatro semanas desmaia.
- E quanto tempo vou ficar aqui?
- Depois de amanhã você sai do CTI. Temos um apartamento. Estou dormindo aqui no Hospital desde que foi internado. Aqui no CTI não posso ficar com você. Posso ficar no hospital, no apartamento.
- AVC...
- Os médicos dizem o que causou este princípio de AVC.
- Tensão nervosa. Agora estou entendendo a gravidade dos tormentos que estava sentindo por não querer assumir o seu amor por mim.
- Beré, meu amor... Tive muitos pesadelos e não sabia verbalizar. Essa tensão nervosa foi causada pelos pesadelos que não sabia explicar. Sonhava com trevas, pura treva.
- Não vamos conversar sobre isso. Precisa de muito repouso.
Berenice foi procurar o médico que não se encontrava no CTI. Disse à enfermeira que cuidasse de mim, enquanto ela achava o médico. Tinha voltado do desmaio.
Quando o amor brilha nos homens, tudo se realiza. No méttier dos artistas, em todos os níveis, diz-se: "Quando o amor brilha nos artistas, o nome está inscrito nas estrelas".
Erros, enganos, equívocos acontecem numa relação íntima. Ferir os sentimentos de alguém, magoar, ressentir, difícil haver o perdão. Havendo amor verdadeiro, perdoa, mas ao longo do tempo percebe-se ser sempre sombra a acompanhar os passos.
Sabia que Berenice estava sofrendo muito, uma dor inestimável. Amava-me e eu não correspondia a este amor. O que fazer? Queria enveredar-me pelo vazio a fora, conhecer-lhe profundamente. Mas amava você. Descobri que podia viver as duas coisas ao mesmo tempo. Não me perdoaria jamais se eu terminasse com Berenice. Iria sofrer muito. Seguiria o vazio e as letras. Eram a minha alma. É a minha alma.
Não se fica sabendo de histórias à toa. Alguma lição ser ministrada. Aí a oportunidade para saber discernir onde o amor está presente.
Casal se encontrou virtualmente, apaixonaram-me, mas por parte do homem havia muitos problemas estava com sérios problemas, amava o namorado, era verdadeiro, mas ela estava com problemas sérios no casamento. Por razão de seu estado de saúde, fora internado, passando setenta e cinco dias no CTI. Saindo, entrou em contato com uma amiga, conversasse com o namorado, estava com medo de aproximar, ser refutada por ele, o melhor era seguir a vida sem o namorado, nunca o esqueceria. Houve o encontro deles no bate-papo, conversaram um pouco sobre como fora a relação deles. Havia muito o que fazer naquele dia, iria fazer o almoço, no horário em que se encontravam ela voltaria on-line. "Voltaria..." que passou ano e meio. Estando ela on-line decidiu chamar. Chamada que durou horas de conversa. Perdoou. Retornaram a relação. Casaram-se depois de seis meses. Divorciou-se do marido.
Tivemos nossos problemas, Berenice e eu, mas nosso amor ultrapassou os limites das contingências. Seguindo juntos, um escritor renomado e uma mulher que o ama demais, amam-se apaixonadamente - cultura, intelecto não fazem a vida, orientam os caminhos, o que gira os cataventos da jornada é o coração, sentimentos, puros. Vivemos felizes, briguinhas, rabos azedos, insatisfação, o famoso "... soltar os cachorros em cima de coleira e tudo..." existe, são os têmperos, ingredientes para os nomes escritos nas estrelas não apaguem, e elas deixem de brilhar. E há exemplo na história literária de casal de níveis diferentes, um intelectual, um imortal escritor, universal, uma mulher simples, dona de casa viveram uma vida de muita felicidade, Machado de Assis e sua fiel esposa.
Pombinhos que se encontraram numa churrascaria no bairro Bexiga, apaixonaram-se.
Berenice levantou-se de sua mesa e foi até a minha.
- Posso me sentar com você?
Convidei-a a sentar-se.
- Gostei de você... Seu nome é?
- Sergio Palanti.
- Gostei de você, Sérgio. De hoje em diante considero-me sua namorada.
Fora muito direta. A conversa prolongou-se por algum tempo. Saímos de mãos dadas da churrascaria. Tomei um táxi e a levei em sua casa.



Manoel Ferreira Neto.
(30 de março de 2016)


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