**COQUINHOS SAUDITAS** - Manoel Ferreira


Não há vencedor que acredite no acaso, mas há vencidos que acreditam o acaso lhes trará a vitória.
Desde que Machado de Assis me dissera "Aos vencedores, as batatas", achei a atitude, a fala sobremodo injusta, arbitrária e gratuita. O vencedor não merece batatas, alguém lhas enviar, porque a vitória custou-lhe bem cara, muita labuta. A vitória não aconteceu por acaso, se é que haja alguma frincha para o acaso na vitória, ela mesma sonha com o acaso, espera o acaso, tem fé no acaso. Ao invés de serem enviadas batatas aos vencedores, conforme os merecimentos, deveriam ser enviados coquinhos sauditas. O máximo do reconhecimento, consideração, amizade, carinho, afeição, afeto. Recebidos os coquinhos sauditas, mais que louváveis as vaidades todas, dançar, sapatear, saltitar, cantar a plenos pulmões, mesmo que desafinado: sucesso, fama estão sim confirmados e endossados. Esqueceu-me dizer que o vencedor, a partir desse reconhecimento absoluto, receber coquinhos sauditas, tem toda a razão de andar com um cofrezinho de maribondos dependurado no pescoço, os vencidos tem forte atração por se aproximarem dos vencedores, andar com os vencedores é também ser vencedor. Justamente por acreditarem no acaso, a vitória não é possível aos vencidos. Só abrir a porta do cofre, "adeus, vencidos", a corrida até depois do inferno é garantida.
Tantos amigos depois da vitória, tratado a feijão branco, reverências e mais reverências, e depois dos coquinhos sauditas os amigos triplicarem, não é por acaso, a razão é a vitória. Nestas circunstâncias, Héracles torna-se amigo íntimo e pessoal de Cérbero.
A vitória dos vencedores não foi por acaso. Mas para os vencidos, os vencedores apareceram em suas vidas por acaso, a grande oportunidade, a chance máxima, a dádiva suprema de se tornarem vencedores, aprenderão com eles os caminhos, as tramóias, tripúdios, como meter ambas as mãos na cumbuca. Chegará o momento de receberem os coquinhos sauditas. Saberão o sabor delicioso da glória, do poder. A vez deles de dançarem, sapatearem, saltitarem, cantarem desafinados.
Enviei a um vencedor um saco de coquinhos sauditas. De tão agradecido, tirou foto com os coquinhos sauditas, enviou para tablóide da comunidade publicar em sua Coluna Social. Laureado e aplaudido por todos os vencedores, que polidez a minha! Tornei-me conhecido por todos como quem enviou coquinhos sauditas a este distinto e digníssimo vencedor. Custou-me um preço, preço módico, obvio: sempre falar bem dele, elogiar todos os seus feitos, debulhar o terço de sua vida pregressa. O vencedor reconheceu-me a capa-{ch}-idade, e com ela realizei todos os meus sonhos.



Manoel Ferreira Neto.
(12 de março de 2016)


Comentários