**FRONTISPÍCIO GÓTICO DO NADA** - Manoel Ferreira


Frontispício gótico do nada enaltecendo as falsas lembranças de éritos das saudades que templaram os sonhos do eterno, olhares enviesados dirigidos a confins, olhar de volos e ex-tases, no seu brilho, inda que estranho, a imagem nítida e trans-lúdica da ansiedade, percorrer os vales e mares à busca de torná-lo real, constituir-se de mergulhos abissais na alma, na querência da verdade, olhar de dúvida se o eterno não é uma idéia minha, não a criei, só Deus sabe com que intenções, mas, especialmente, por mostrar a espiritualidade vem no ser, enveredar-me por inteiro na trilha do desejo mais profundo, o eterno.
Cobrir de flores a decadência, direito a discurso, salva de tiros, decadência das vaidades e ganâncias do perpétuo, decadência das quimeras e sorrelfas de o homem decidir a sua morte, decadência das imbecilidades e cretinices de um paraíso celestial... Ande céus e terras, mares, abismos, labirintos, florestas rios para o homem cobrir de flores a decadência, isto não o fará, é de que vive, vive de vaidades, só de conferir a palavra registrada vontade de comê-la com os olhos, sentir-lhe o sabor de suas benesses, Carente dela, é alguém constituído de qualquer coisa, o limite é viver em brancas nuvens, ser constituído de qualquer coisa, isso não, as vaidades senão com aquele perfume embriagante de flores silvestres, cheiro de profecia de fenecer no crepúsculo pálido fracassos e frustrações, trazem no bojo, na algibeira, no alforje, e na mochila, há-de se ressaltar e sublinhar, as glórias. Cobrir de flores a decadência não, mas cobrir de decadência as flores, se é que se possa acreditar fazê-lo é estar decidindo a espiritualidade. A glória é o verbo do eterno.
Descobrir os des-encantos adormecendo nos recantos da alma em desabor, pois que o encanto sublime dos des-encantos é-se encontrado na sabedoria, isto fá-lo com a maior "simpleza" e "tigreza", a voluptuosa volúpia por um símbolo de engrandecimento, superioridade, e nos passos do caminho tristeza, desconsolo, desolação, solidão de dúvidas e seguranças atrozes, isto é húmus para o encontro do eterno e da etern-idade, isto é que é volúpia voluptuosa, não querer apenas o eterno, a etern-idade também. Sabor de nada na boca, o nada é a travessia para o in-finito. E lá se vai passando por pontes partidas, matagais, mata-burros, redes de passagens nos abismos e crateras, com os des-encantos, des-cobriu-os, ao léu, saltitante, alegre, além de confins o In-finito, o nada é efêmero.
Encantar com os oásis e miragens do deserto é deflorar a consciência, de sons e letras fonte que não seca... supremo astro do ser, entre dois Nadas encurvados, um ponto de interrogação, um mudo enigma, que nenhum desejo alcança e nenhum Não macula, eterno Sim do Ser...Doente, vítima do veneno da serpente. A angústia que se existencia - entre a alegria e a tristeza triste da carência - pertence-nos indubitavelmente, egoisticamente nossa Somos donos e feitores de nosso destino livre. somos e não somos e devemos ser. A sordícia e a grandeza; a miséria e a riqueza. Tal é a condição humana.
O vento soprou forte, trouxe o tão alejado passaporte para novas folhas de outono, gritar bem alto o pensamento em plena liberdade.
Frontispício gótico do nada... Palavras ocas, vãs, re-colhidas do antro de venturas, cheio de capricho de felino a saltar por toda janela, zás!, para todo acaso, para todo crepúsculo do ocaso, correr em florestas virgens entre bestas de jubas coloridas, subindo por mentirosas pontes de palavras, arco-íris de mentiras entre falsos céus pervagando, vagueando entre falsos céus, deslizando, flanando. Somente louco. Somente poeta.
Pássaro em liberdade, ver as noites plenas da iluminação, da claridade e dizer ao mundo que re-nasci. A síntese do homem: liberdade, espiritualidade, humanidade. Águia que longamente, longamente olha, nos abismos, em seus abismos, encaracolam-se, para baixo, para dentro, em cada vez mais profundas profundezas.


Manoel Ferreira Neto.
(10 de março de 2016)


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