#SUBTERRÂNEO DA ALMA VAZIA DE NADA# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA




Sarapalhas... Nada mais que Sarapalhas... A des-razão renascentista modula a contradição em uma dimensão cósmica, em que real e imaginário se misturam; a desrazão clássica a modula em uma dimensão ontológica, no nível do ser ou não ser, em que o paradoxo da loucura consiste em manifestar o nada, o não ser; já a des-razão de nossas conjuncturas se dá em uma dimensão antropológica, que se ins-creve a partir das oposições sujeito x objeto, sentido x sem-sentido. Essas seriam, portanto, as grandes estruturas da des-razão.


Apesar de surpreso, não pensava, não eram de meus pensamentos e idéias lembranças, re-cordações se revelassem no vazio como pude conferir na crise havida - quê crise, putz! achei mesmo que fosse sucumbir nos braços do vazio! -, nestes três dias após, estou lânguido, o gosto de cabo de guarda-chuva na boca não se efemeriza, não se dissolve, os nervos do corpo tensos, carne e ossos, sou assim feito, o feito de mim assim o é, vivo de carne e ossos, nas coxas das pernas, atrás, sinto estremecimentos, a carne tremelica independente da vontade...


Tomando banho, passei a toalha na superfície lisa do espelho, tirando-lhe o vapor da água quente, olhar-me a imagem refletida. Passo atrás, vi-me desfacelado, a face se movimentava, caranguejo e seus tentáculos frente ao inimigo a atiçar-lhe, instigar-lhe com vareta de bambu, os bagos dos olhos à espreita dos movimentos da imagem, nas órbitas, um vácuo, aproximei-me para olhar dentro dele, talvez visse o cérebro pulsando, nada, um vácuo sem limites, fronteiras. Sentei-me no sanitário, fora de mim, olhando a água cair no chão. Quem sabe não haja artificiado juízo: considerei a imagem no espelho refletida, a minha face, considerei-a expressionista subjetivada, dependendo do ângulo de visão vê-se coisas ad-versas.


O porquê de louco parece permanecer incógnito, mas crê-se que a crise nevrálgica seja consequência do meio em que vive – é uma crise social; ele próprio (o narrador) discrepa de todos à sua volta. E o que mais assusta é que, apesar da dista dos séculos, essa é uma realidade permanente.


Pudesse re-tornar, evitaria a crise de algum modo, mas fora inesperadamente, de supetão, quando percebi, a crise em mim. Bastou a "palavrita" pronunciada e tudo aconteceu. Não me lembra qual fora ela, talvez "subterrâneo", estivera a pensar no "subterrâneo da alma", onde todas as mazelas estão presentes, talvez "prefundas", ainda talvez "abismo". Não o sei. Não fora qualquer delas? Não será lembrá-la que me restituirá o senso, resgatarei a lucidez, algum verbo incógnito de mim.


Lembra-me... Assim que entardecera, estava sentado numa pracinha pública, olhando de esguelha a uns trinta passos um vira-lata dormindo debaixo do leque da fonte luminosa, casal de adolescentes se beijava sofregamente, o professor de matemática assassino cumpriu a pena de cinco anos encarcerado atravessou a pracinha, caminhando devagar, quase parando, cabeça baixa, chamando a atenção dos transeuntes. Tive uma sensação estranha: estava à beira de abismo, ventava muito, folhas secas de árvores flanavam no ar, pareceu-me dilúvio de ventos. Saí da beirada do abismo, refugiei-me numa gruta. A sensação fora tão forte e presente que me levantei do banco, apanhei o chapéu ao lado, coloquei na cabeça, saí andando de cabeça baixa; em mim, o nada de sorrelfas, o nada de idílios, até o nada de quimeras e fantasias. Amigo tocou-me o ombro, dizendo: "Viu alguma alma penada, meu querido? Está com uma cara daquelas!" Sorri, e respondi: "O calor está demais. Odeio o verão, odeio o calor." Despedimo-nos. E, andando, dirigindo-me à minha residência, resquícios, vestígios da sensação, acompanhados de tristeza, tristeza abissal, a razão não soube explicar.


Isto me lembra antes da crise da madrugada. Crise de vazio não envia bilhete, informando a sua presença em breve. Enquanto se está projetando os próximos passos para a realização de um desejo, o vazio acontece, tudo perde as suas estruturas, tudo se esvaece. Isto nada explica, nada justifica.


Ando sem rumo, sem destino, entrando e saindo de ruas, um calor sem limites, o suor escorre-me na face, pinga no chão. Tiro o chapéu, enxugo o suor com uma toalhinha que trago sempre no bolso da calça para enxugar o suor.
O que é de mim neste absurdo instante-limite?


Deixo o mundo para entrar nas trevas. Haverá alguma saída, solução?


#RIODEJANEIRO#, 27 DE MARÇO DE 2019#

Comentários

  1. Bom dia meu querido Manoel,tudo bem? Aqui estou deixando temais um comentário,de uma forma discreta,de acordo com nosso
    calendário,em rimas dessa forma minha expressão se
    completa.
    Não sou cantor apenas um
    otimista,em meu pensamento
    contigo estou,não admito afastar te dá minha lista
    o conquistador contigo se sente otimista!
    Escolhi te para enfeitar minha
    galeria,em meu WhatsApp curto te nos instantes de cada
    dia,de um modo que não te esqueço,nessa oportunidade
    expressando me te agradeço
    por está presente comigo me
    fazendo companhia!
    Obrigado,depois te expresso
    mais,que Deus sempre esteja
    do teu lado,desejo te felicidade,conquistas e muita
    paz em tudo que você faz!...

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