#ANA JÚLIA MACHADO ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA RESPONDE AO TEXTO #RIO DE SOLEIRA ÀS MARGENS#




Um texto muito bom e coerente com o que sucedeu...mas será que com outro ser onde a erudição é nula o faria? Não...porque para esse ser o normal é servirem-se da embalagem do soro para dar de beber a quem tem sede...mas sede de saúde ou de ignorância>? O saber também pode ter um preço elevado ou não...porque não é normal quando se está doente estar a ouvir música em alto som e grande algazarra ....mas para muitos, infelizmente esse é o local onde lhe dão algo de comer, mesmo que fraco e pode com certeza ter uma tv e música que em casa não possui...e a sua ignorância leva-o a crer que está tudo perfeito e a ser muito bem tratado...a ignorância ou é amiga ou inimiga...depende do estado de saúde de cada um...mas para quem possui saber deve denunciar o sistema e tentar demonstrar aos ignotos que aquilo não é sistema de saúde, mas o brincar aos doentes e médicos...é o não haver respeito pelo ser que possui uma cultura muito pobre...mas com sua atitude correta ou não...trate de se cuidar em outro local, pois sabe bem o quão importante é a saúde...e que seja o erudito a dar o grito da descrença no sistema...que o dinheiro não compra saúde, nem vida, mas infelizmente ajuda a que as coisas sejam diferentes...o saber e o dinheiro não nos livra da morte...mas pode evitá-la por algum tempo...porque tudo que possuímos nada vai connosco...que os nobres não se iludam...tornam-se pó como os despidos de saber e dinheiro...mas não podemos deixar impune um sistema que não trata o ser humano com dignidade que lhe é devida e justa....Penso que quando fez o outro texto que estou a ver..o amigo já estava com um pressentimento que algo iria acontecer...tenho essa nítida sensação e quase certeza...quando verbaliza que os nobres possuem como convicção que o povo trivial é per si mentiroso...mas que os outros os tais ditos senhores, que cogitam que não hão doenças entre outros males... o amigo não me vai mentir...mas já não se estava a sentir bem..estava a prever algo...e quando Gracinha informou-me, a minha primeira reacção foi ver novamente o texto...pois meu querido ao erudito as coisas igualmente sucedem...o dinheiro efetivamente compra muita coisa...mas a morte não...


#RIO DE SOLEIRAS ÀS MARGENS#
Graça Fontis: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: PROSA


Minha eterna gratidão, Aninha Júlia, por tudo. Beijos a você e à nossa netinha Aninha Ricardo


Manoel Ferreira Neto


Epígrafe:


"Recusei-me hoje a permanecer no Hospital - fiquei internado dois dias apenas -, vítima de mais um infarto, o décimo, pelo atendimento precário: fizeram do frasco de soro copo para servir remédios aos pacientes, não colocaram nem o aparelho de medir pressão contínua, a enfermaria uma verdadeira muvuca, rádio de paciente ligado em alto volume, televisão ligada, algazarra de conversas altas, tive de pedir calmante para dormir, caso contrário não iria fazê-lo. Tinha de fazer exame de "eco cardiograma". Larguei tudo para trás. Estas são as condições de Saúde no Rio de Janeiro. Disse mesmo ao médico: "Em Minas Gerais a Saúde é excelente. Os hospitais são monitorados de todos os recursos. Passei por vários hospitais lá. E aqui o paciente é simples nada. É um absurdo." Deste acontecimento, compus esta reflexão.


No Rio de Janeiro, faço a minha terceira margem."
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De fato, todo aquele que pensa como pensa a si próprio e ao mundo, à terra em que habita e existe suas contingências, visão-de-mundo, visão-da-existência, há de confessar pública e notoriamente que andou por algum tempo ou por longo nas calçadas ensombrecidas, vendou os próprios olhos, tapou os próprios ouvidos. Se há quem diga "Não é assim não. A coisa não se dá desta forma?", só tenho a dizer-lhe assim tão simples que para a consciência estar presente, ser efetiva, éritos e érisis pretéritos foram vividos, vivenciados, experimentados com todo fervor. De antemão às revezes, é mister, sine qua non decidir as coisas, mesmo que as consequências sejam a morte, decidir a vida literalmente. Decido mesmo: que o mundo inteiro desabe sobre mim, contra a posição dos íntimos, dos amigos. Radicalismo. Pode ser aos olhos do outro; por mim o que penso e sinto.


Andar o córrego de soleiras às margens é ainda muito mais vergonhoso que nas calçadas ensombrecidas, pois que se imagina nada ser no mundo, não trazer em si dentro quaisquer valores dignos de re-conhecimento, e sempre atribuindo, conferindo ao outro suprema inteligência, divina sensibilidade, outro que não só vê e enxerga as margens do córrego, trilha-as satisfeito e imbuído de todos os orgulhos e vaidades, inda sendo capaz de criar a terceira margem deste córrego, acreditando ser ele próprio filho das musas e homem de cultura mais que elevada, trans-cendental em todos os níveis que for possível conceber. A decisão, olhando-a com os linces do olhar, metafísicamente, cria a terceira margem: o amor à vida.


O córrego de três margens deixei para trás.


Andando à soleira do rio sem margens, brilhos nos olhos por sentir-me firmemente convicto de que a "cultura", intelectualidade são a expressão plena e completa do autêntico conhecimento da vida, das artes, da existência, das ciências e, visto que ombreava e encontrava em toda parte pessoas instruídas laia e estirpe, evoluía com o sentimento vitorioso de ser re-presentante da uni-versalidade do conhecimento da vida, e formulava, como tal, exigências e pretensões, reivindicações e intenções. Para que direção seguisse, logo participava de uma convenção tácita sobre uma multidão de assuntos, de idéias artísticas, filosóficas, religiosas, notadamente no domínio da arte. Este "tutti unisono" espontâneo, extrovertido induzia-me a julgar diante da uni-versalidade, diante do conhecimento uni-versal.


O mundo foi girando, rodando na sola de meus sapatos já bastante gastos de tanto trilhar as soleiras do rio, às margens, quase mesmo furados, julgando-me zero à esquerda, zero obtuso. A existência é muita dura, sem nunca conceber repouso, sempre me esforçara ao máximo para os próprios ideais, a liberdade em questão, agi de tal modo e tão bem quanto estava em meu poder.


Num determinado sítio de andanças, percebendo o obstáculo de todos os espíritos vigorosos e criadores, o labirinto de todos os incertos e os desgarrados, o nevoeiro deletério em que se asfixiam todos os germes vivos, virei-me à esquerda, acenei-lhe a mão, não era um espírito acanhado e vulgar, nalgum lugar outro senão aquela soleira do rio sem margens o verdadeiro espírito, jamais julgar haver encontrado a verdade, a uni-versalidade do conhecimento, das ciências e das artes.


Ainda sendo possível ver-me à distância, lembrou-me música que no momento parafraseei. Deveria saber que só há um modo de honrar-me: prosseguindo incansavelmente a busca, dar-me nascimento, não às virtudes do saber elevadas aos auspícios, no mesmo espírito e com a mesma cor-agem. Instante limite! Meus olhos se abriram para a própria caminhada. Refugiei-me no idílio e opus à sede inquieta e criadora do artista uma certa satisfação #plácida#, a satisfação de minha própria estreiteza, de minha quietude, até mesmo de meu horizonte limitado. Alegrias ingênuas e tocantes eclodidas nos interstícios... Persuadido da falta de gosto e da falta de idéias e da grosseria estética do sábio...


E o filisteu seguiu seu caminho,
Nalgum porto do olimpo terrestre,
Os homens entre palmas eufóricas,
Cantando-lhe:
"O filisteu alfim chegou,
Estamos contentes e felizes,
Por que razão demorou tanto
Para nos ensinar todas as lições
Do espírito do conhecimento e da verdade
Quiçá inda escarafunchando os mistérios
Inconscientes,
Por que odeia tanto o gênio que possui,
A justo título,
Incontestável, in-cólume,
A reputação de fazer milagres?
Isto é milagre:
Este "tutti unisono" espontâneo,
Estrovertido se induzia a julgar-se diante
Da uni-versalidade,
Diante do conhecimento uni-versal?"


E continuo as minhas andanças pelas estradas de poeiras, possuindo as duas margens, a terceira margem construindo através das decisões.


#RIODEJANEIRO#, 30 DE MARÇO DE 2019#

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