GRAÇA FONTIS, ARTISTA-PLÁSTICA(PINTORA), POETISA, COMENTA O TEXTO /**ROSA DE SEIVA HAURIDA COM A FRESCURA E FRIO DA NOITE**/


Há pouco observando-o á distância...andavas de um lado para outro inquieto,mais um cigarro...uma taça de vinho...preocupada...Não poderia interferir, pois sabia ser uma batalha subjetiva entre o Escritor/inspiração/introspeccão...taí o resultado...essa maravilha de texto deixando-me extasiada diante de tanta beleza e sensibilidade a meu ver sublime certificando a presença de algo além de nossa imaginação. ..sem mais palavras...apenas resta-me deleitar-me a essa bênção de tê-lo como companheiro/parceiro/marido!...Admiração/amor eterno sempre....



Graça Fontis



Antes de você me observar, logo que nos levantamos, disse-lhe no quintal de nossa residência que estava sem lugar. Saímos um pouco mais tarde, fomos no alto, de onde se contempla o mar, a Praia da Ilha de São Gonçalo. Conversamos um pouco sentados na grama, perscrutando a imagem do mar ao longe. Retornamos. Vim escrever. Escrevi. Você leu, abraçou-me e beijou-me de alegria. Passou a responder. Continuando a Publicação, pensei em dizer-lhe que poderia dizer de quando me observou inquieto, a "batalha subjetiva entre o Escritor/Inspiração/Introspecção"... Não o disse para não interferir em sua crítica, comentário. E você comenta de início sobre isto.
Sin-cronia... Sin-tonia... Harmonia entre o universo do real e o universo da Arte.



Manoel Ferreira



**ROSA DE SEIVA HAURIDA COM A FRESCURA E FRIO DA NOITE**



Post-Scriptum: Este texto teci-o, inspirado na Peça de Pintura da Artista-Plástica(Pintora) Graça Fontis que o ornamenta, Peça pintada a óleo.



Admira-me, as luzes apagadas de todo, que neste mundo tão propenso de glórias e conquistas, ainda haja quem se lembre das carências e sedes seculares, acompanhadas ambas de fomes milenares.
Os esquisitos dizerem há longínquos anos que questiono a existência por nada ter o que fazer, tolices, não há respostas para coisa alguma. Estou deixando a sensibilidade livre para o sentir, con-templar, sentir os horizontes e universos outros, deixando o vento girar o catavento.
Arrancando-me ao enlevo de um passado, que nem ao menos era real, e só existira como doce quimera, fazendo brilhar os olhos, neles uma nuvem tênue de quê longínquo ainda não saber dizê-lo, mas no tempo será possível a presença no interior, tendo adentrado pelas retinas. Percorro o cômodo de minha residência, a alma palpitante, que me envolve e encerra dentro em mim as horas inebriantes e deliciosas.
Cedo-me a um segundo, desejando que o ente querido ache como que entranhada na elegância dos gestos e atitudes os adornos drapeados da cortina que cobre a janela; cedo um instante à mágica influência de lembranças e esquecimentos poeticamente reconheço habitarem-me inteiro, e creio que assim posso contemplar as cúpulas de prata sobre pilares de ouro.
Percorro os cômodos e volvo o olhar para fora através do vidro da janela e vejo o espetáculo inestimável da neblina que empana a luz do sol e alivia as tensões que porventura se apresentam.
Os botões de rosa cheios de seiva haurida com a frescura e frio da noite, esperando a luz do dia para desabrocharem, enquanto as flores da véspera que havia cerrado o seio à tarde, abrem-no de novo, mas pálido e lânguido, para despedir-se do sol, que lhe tinha dado a vida, e a orná-lo, como as mãos do artista sabem as estratégias de tecimento da rede que servirá de leito, quando, deitado, assistirá o crepúsculo de cúpulas de prata sobre pilares de ouro.
Se até este segundo não fora ainda possível vislumbrar que sentimentos sobrepõem o coração virgem e cheio de paixão, há nada a lastimar ou reclamar. Essa ostentação de meiguice e insolência, irreverência e ternura, só a muito poucos revelando no meio dos sorrisos e com distinções outros sonhos para a alma que se não perdeu de todo. Às vezes, é mister ensinar ao olhar as estratégias do espírito, é mister lançar um olhar ao tempo em que entrara a conhecer os seus mistérios.
Não sou dotado com a lucidez precisa para o estudo dos caracteres psicológicos, limito-me a referir-me ao que me perpassa o espírito e, sedento de mergulhar na sua profundeza, vou-me dizendo em silêncio, deixando à sagacidade de cada um atinar com a verdadeira utopia que poeticamente me habita.
Persuadido de que também o coração tem palavras que a língua não fala, embora diferentes das que porventura a mente insiste em exprimir, aquele já mais que demodê dizer "jogos da mente", operando na alma uma transformação, na qual os sentimentos bons e afetuosos se mostram, sigo passos ermos e solitários, mas na esperança de os encontrar.
A idéia, a que afago no peito e sorrio, é patentear a imensidade da paixão que soubera compreender a sua anunciação, postando-me à janela da sala de visitas que, por pouco, não é possível vislumbrar o mar, olhando as cúpulas de prata sobre pilares de ouro que se formam nas nuvens azuis e brancas do inverno, suplicando as esperanças que desnudem a meus olhos o ermo sáfaro em que me ficara a alma, aquando perdi as ilusões e fantasias que cobriam o peito.
Às vezes, súbita auréola de júbilo, que me resplandece a fronte, quando percebo eclipse de luz íntima que filtra claridade serena, que se derrama sobre os objetos e os envolve.
Paixão como a minha tem o seu incólume direito de ser implacável! Essa mulher que se entregou a mim com a mais sublime abnegação, essa mulher a quem a sorte ligou-me eternamente, essa mulher única, eu a amo, admiro-a
Não edifico cúpulas de prata; teço-as sobre pilares de ouro, e quem me ouve neste instante, deseja transformar os fulgores da noite em sonhos dentro de outros sonhos, dentro de outros sonhos.
Esse amor que suscita uma ilusão de poeta, um sonho da imaginação, aqui está em sua realidade esplêndida.



Manoel Ferreira Neto.
(24 de setembro de 2016)


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