**FRONTISPÍCIO GÓTICO DA LUZ - I PARTE** - Manoel Ferreira


Epígrafe:



"Cada alma desesperada possui um útero de esperança que está pronto a lutar pela realização dos desejos e sonhos, pela sobrevivência e imortalidade..." (Manoel Ferreira Neto)



Queria trazer-vos um cântico de versos lindos
A-nunciando re-versos ideais cujos desejos trazem em si
A luz de raios diáfanos que ilumina
Raios de luz e cores
O silêncio de vozes sibilantes que regencia sentimentos e palavras
Re-velando in-versas utopias cujos sonhos e fantasias
Inter-ditam ocasos do crepúsculo,
In-auditam ritmos e melodias dos sons do universo
Colhidos nos mais profundos interstícios de mim.
As palavras seriam as mais sensíveis,
Amáveis do mundo,
Porém não sei que luz as iluminaria
que teríeis de fechar vossos olhos para as ouvir
neste cântico de versos lindos,
ternos, amorosos, meigos, compassivos,
solidários.
Sim! Uma luz que viria de dentro dele,
Dentro do gótico a luz, dentro da luz o espelho gótico da imagem
Raios que viriam de dentro deles,
Espectros esvoaçam no interior deles,
Dentro da luz as goticidades da verdade por vir,
Luz e raios que lhes habitam os interstícios do ser,
Os recônditos do tempo, o âmago dos verbos e dos ventos
Verbos de ventos que sopram de dentro os sibilos do tempo
Ventos de verbos que frontispiciam a transparência,
Evidência da luz.



Deixai-me segredar-vos
Um dos grandes segredos do mundo:
- Essas coisas que parece
Não terem qualquer sentido, qualquer beleza,
qualquer mensagem, qualquer cântico
de amor, de sublimidade
é simplesmente porque
não houve jamais quem lhes desse ao menos
um segundo olhar!
não houve jamais quem lhes in-vestigasse
e delineasse, burilasse o croqui espiritual
e o esboço das contingências!
Se, às vezes, vós perdeis a paciência comigo,
censurais-me, xingais-me,
não vos dou qualquer oportunidade
de outras realidades, de outros horizontes,
de outras verdades,
é que ainda não compreendestes
que a felicidade está dentro de vós,
só vós podeis sorrir de alegria e contentamento,
se me olhardes com os olhos da esperança
e fé.



Luz breve, que ec-sistas, onde? fugidio indício que me a-nuncie o meu lugar na vida... As nuvens brancas espelham-se em miríades de re-flexos, multíplice alegria, trêmula, sinais nulos, irrita e nula, os meus olhos tremem.
À janela do meu vazio, eu. Nítido nulo horizonte linear. Imperceptível une-se ao azul do céu, in-fin-itude ab-soluta in-eks-sistente, na linha in-eks-sistente da separação que os une, da união que os separa. A vida toda está aí. Os meus olhos passam por tudo, mortos que falam ainda, escrevem suas memórias póstumas, vozes nítidas e absurdas no ar, imóveis instantes de outrora... À varanda de minhas fantasias, quimeras, deitado numa rede, as rosas no jardim des-abrochando viçosas e ternas, manhã de novo dia, estendendo-me além das metafísicas da esperança e da fé, tentando encontrar um lugar no auspício de uma montanha, olhando o panorama do mundo, os olhos perdiam-se na frincha das folhas de um flamboyant do outro lado da rua, o in-finito se mostrando inteiro, nítido nulo o horizonte e já frio, um deus crescia dentro de mim.
Estava só, tão cheio de meu nada. No ponto nulo que separava a vigília que se esgotara e a que re-nascia... Mas agora, à distância destes anos, ou à distância nula da morte, agora tudo se amassa em encantamento ou em indiferença ou em absurdo - agora a rua está deserta.
...A não ser que re-torne para plantar na terra a semente que gerei... Meus sonhos são tão poucos, os meus sonhos. Minha alegria é tão pouca, a minha alegria. Tão pouco é o meu prazer. Não sou mais que uma combinação incerta de dúvidas e certezas, de acasos e encontros, de amor e de ódio, de encontros e de des-encontros. Em busca de um momento, em busca de uma flor, hei-de fazer-me verbo como se fosse palavra, dar sentido, ser esperança de encontro, colher a mensagem que a primavera deixou. Ombros frágeis são os meus para adormecer no tempo a graça da Criação de Deus. Eis o homem!... Eis Deus!... Eis-me in-verso, eis-me re-verso, eis-me ad-verso para tecer o verso verdadeiro.
... A não ser que busque a semente que pensei plantar e a guardei, dizendo que não era inda o tempo de os frutos nascerem, era preciso esperar o tempo. Quem sabe?!... Uma vez dissolvidas as tensões e livre a alma de suas angústias, depressões, fracassos, remorsos e culpas, pode-se usar tudo o que existe na literatura para mantê-la livre, e talvez até uma forma abreviada de psicanálise, na poesia para conservá-la sensível, e talvez até uma forma sinestesiada de movimentos da memória. Cada alma desesperada possui um útero de esperança que está pronto a lutar pela realização dos desejos e sonhos, pela sobrevivência e imortalidade...
Só eu e a luz do dia, só eu e os raios incandescentes do sol. Uma alegria nula. Indício fala no limiar das origens. Fulcro, certeza fora de mim, por mim escolhida, mas ec-sistindo na realidade, conferido com ela, ordenando-a, fixa e apesar de tudo mutável, limite máximo da minha direção, do meu impulso cego e absurdo.
Acendo outro cigarro. Trago a fumaça à revelia do que me trans-cende dos sentimentos de tempo e verbo de ser, expilo-a ao deus-dará de todas as con-tingências, recupero o lince de meus olhares à distância que vêem miríades de imagens que ensaiam as perspectivas da plen-itude branca da vida, iluminando-a de desejos e vontades do verdadeiro verso do espírito do eterno. Tomo um gole de vinho, sinto-lhe o sabor, um brinde às imperfeições que luzem as perfeições de alhures.
Alguém, à janela de suas verdades insofismáveis, sabe a minha linguagem final, a que aflora num susto a aparição do silêncio, a que sagra e a-nuncia os fachos de enigma.



Manoel Ferreira Neto.
(20 de setembro de 2016)


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