A PINTORA, POETISA GRAÇA Graça Fontis, ENTREVISTA O ESCRITOR MANOEL FERREIRA.


Graça Fontis:
Manoel, lendo e comentando os seus textos, há algo que gostaria muito de lhe perguntar. Como está sendo a sua con-vivência, suas experiências com o desejo de conciliar, comungar a Pintura, a Poesia e a Literatura, a Filosofia?



Manoel Ferreira Neto:
É um questionamento muitíssimo amplo e abrangente. Neste momento, por ser inda início deste desejo da Pintura na Literatura e Poesia, dar-lhe-ei apenas algumas perspectivas de como está sendo esta convivência.
Como você mesma está dizendo que "... como pintora não sabia que a imagem vem da sensibilidade e do sentimento e o instante no ato de pintar."
Em 1981, quando escrevia o primeiro romance O VAZIO, havia uma cena do personagem Romualdo Lacerda, sentado num banco de mármore da Praça da Liberdade, Belo Horizonte, a cena mais trágica e significante da obra, num instante de angústia que contingenciava sua existência, os olhos saem das órbitas, indo instalar-se no tronco da Palmeira, deslizando, deslizando, até mergulhar na terra, nas raízes da árvore. Descrever o deslize dos olhos não me fora difícil ao extremo fazê-lo, mas quando os olhos mergulharam nas raizes da árvore, a dificuldade fora imensa para descrever a imagem. Não tinha naquela época habilidade, agilidade, perspicácia com a linguagem, o estilo, a estilística filosófica para um mergulho profundo.
Agora, passados tantos anos, após a confecção do romance, com as nossas relações artísticas, tendo adquirido perspicácia, habilidade, consciência-estética da linguagem e da estilística, seria muito diferente a descrição dos olhos per-correndo, de-correndo as raízes da Palmeira. Naquela época, nem imaginava muito longínquamente que a imagem vem da sensibilidade e do sentimento.
Quando olhei nos olhos da mulher, objeto da Pintura que ornamenta o texto poético 'BRUMAS DE POR BAIXO DAS PINGUELAS", mergulhei na dor, sofrimento, amargura, que aliás está bem visível na sua face, fisionomia e semblante, a indiferença às coisa exteriores que o olhar revela, senti adentrar-me na alma em sua inteireza de questionamentos, indagações, desejos, vontades, esperanças, volos, utopias, sonhos, amarguras, o "olhar no insterstício".
A Imagem na Literatura e na Poesia advêm da inspiração e do desejo da estética, da subjetividade, do projeto da beleza do belo. A imagem na Literatura e na Filosofia é representada, na Pintura, ela é sentida.
O que tenho sentido, contemplado nesta tentativa de conciliar, comungar a Pintura na Literatura e na Poesia, é que para esta realização mister sentir o Verbo da Pintura, a a-nunciação da Imagem no interior, inner, da espiritualidade e do que lhe trans-cende que é subjetividade do sublime.
Como lhe dissera anteriormente, estou apenas lhe dando algumas perspectivas deste mergulho, deste desejo e utopia da "filosofia-poética-literária-plástica".
Este texto, inspirado no olhar da mulher, objeto da pintura, é um esboço da estética da imagem e da poesia. A imagem é a-nunciação da poesia e a poesia é revelação da imagem.



Graça Fontis:
E isto você tem vivido, aprendido nas nossas "trocas de figurinhas", momentos que conversamos sobre a confecção, feitura, composição de nossas Artes.



Manoel Ferreira Neto:
Sim... Não é troca? Então vamos trocar in-auditos e contra-luzes. A questão primordial é a síntese da imagem-anunciação-da-poesia, e a poesia-revelação-da-imagem. No horizonte e uni-verso de minha linguagem e estilo, isto só me torna possível, realizável, através da prosa, como re-presentação e da poesia como filosofia do estético.



Graça Fontis:
Sensibilidade e sentimento, sentimento e inspiração, ideais, idéias e esperanças, onde reúnem as dialéticas da existência à busca da Vida, as contradições e nonsenses do quotidiano. Com esta união, então está a utopia de seu sonho amar? E o olhar da Mulher de minha Pintura inspirou-lhe este esboço do Sonho Amar? Mas no texto este sonho está representado em que?



Manoel Ferreiras:
Nos IDEAIS, que é o início do texto poético. Os ideais são o verbo da eternidade do Amor.



Graça Fontis: Ao longo do tempo, vamos esclarecendo as nossas Artes em comunhão. Aqui foi apenas uma pergunta que sempre quis lhe fazer. Gracias por esta entrevista que me concedeu.



Manoel Ferreira Neto.
(25 de setembro de 2016)


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