Ana Júlia Machado POETISA E ESCRITORA COMENTA O TEXTO /**NÃO ADIANTA CHORAR O LEITE DERRAMADO**/

Somente, tempo sumido e muitas vezes sem razão…as pessoas é que gostam de complicar… E logo nós que protestamos tanto da escassez do tempo… e concluímos por esbanjar algo que é tão escasso e precioso em nossa existência…

O tempo não indulta… logo que ele abala, não regressa mais… nesse caso, habitemos o tempo que possuímos, para que posteriormente não careçam lacrimejar sobre o leite derramado ou pelo tempo subaproveitado…Quando apercebermos que o leite está a derramar…deitemos fora por completo, sem lamentos nem procurar subterfúgios…e enchemos o copo com leite novo…

Algo diz-me que este texto será para alguém...

Ana Júlia Machado

Para quem sabe ler, pingo é letra. O meu grande e insofismável defeito é responder às coisas, sejam quais forem, de modo que a carapuça sirva bem a quem são dirigidas as minhas palavras, jamais cito nomes, não é necessário, e ela, a pessoa, não tenha quaisquer contra-respostas. No Brasil, chamamos isto de "sapo seco", para sempre atravessado na garganta.

Manoel Ferreira Neto.

**NÃO ADIANTA CHORAR O LEITE DERRAMADO**

A paz lega digressões, lazeres. As palavras con-sentem com estas digressões, lazeres.

Diz o adágio, se se quiser, ditado popular: "Não adianta chorar o leite derramado". Não adianta atribuir a responsabilidade ao copo: xingá-lo, descascar-lhe os pepinos, chutá-lo para bem longe, jogá-lo na lixeira ou no terreno baldio, quebrá-lo. O leite foi derramado, continuará derramado por sempre. Não satisfeito com tais atitudes, escrever matéria no JB, no Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, no Times, nas redes sociais, mostrando todas as responsabilidades do copo pelo leite ter sido derramado, é cretinice, idiotice, imbecilidade. O bom senso, a inteligência, a racionalidade dizem que o melhor a ser feito é colocar outro leite no copo, tomá-lo, sentir-lhe o sabor, satisfazer o desejo. Esquecer do leite que foi derramado. Nada vai mudar isso. E continuar a todo instante falando da responsabilidade do copo, do leite derramado é viver de passado, é deixar de viver o presente, tomar outro leite até mais gostoso do que foi derramado.

Este "Não adianta chorar o leite derramado" é metáfora. Com esta metáfora outras situações podem ser aventadas. Por exemplo, o namoro. Se não deu certo por aquelas e aqueloutras razões, não adianta nada ficar denegrindo a imagem do namorado(a), descascar os pepinos todos. Nada vai mudar o fato do namoro terminado. É cuidar de encontrar outro namorado(a), curtir a relação, entregar-se, viver feliz, esquecer que o namoro anterior não deu certo. Aliás, é ridículo, vulgar, baixaria quem se sentiu ultrajado ficar denegrindo a imagem do outro. Acaba se tornando vulgar. A vida continua, precisa continuar. O mesmo no divórcio: divorciou, é cada um seguir o seu rumo próprio, particular, peculiar, e não mais haver qualquer relação, contato com o requerente ou requerido, sumir no mapa, e seguir a vida. Nem mesmo filhos justificam ou explicam divorciados manterem relações. Não é preciso que a mãe leve os filhos para as visitas ao pai, outra pessoa pode fazê-lo, a lei pode cuidar disso. Pensões podem ser creditadas na conta bancária. Acabou a relação, a relação está acabada. C´est fini.

Quando se compreende e entende este adágio ou ditado popular, a vida se abre a todas as dimensões.

Manoel Ferreira Neto.

(19 de setembro de 2016)