**E AS LETRAS VOLTARAM DO DESCANSO** - Manoel Ferreira


Distância... Longitude...
Palavras re-festelando-se por alguns dias, tranquilas, serenas, deixando as coisas fluírem com espontaneidade, merecedoras de descanso, árduo o trabalho de significarem a vida, pés na contingência, "iis" no além. Horas já lhes são difíceis não se registrarem nas linhas brancas das páginas, no vazio das folhas, três dias então uma eternidade, crise de melancolia, nostalgia, saudade dos significantes, semânticas, dos tufos de cabelos arrancados, cigarros acesos um atrás do outro, embora ninguém acredite, escrever é deitar na rede, balançar, curtir o tempo. Para quem escreve Literatice e Poesice tudo é simples, uma prosa ou um poema por segundo.
Amor, carinho, afeição, afetividade - quê abraço forte e apertado. "Eis-nos de volta. Vamos bailar nos desejos e vontades do eterno." Semânticas, linguísticas, sentidos, significados rindo de orelhas a orelhas, quê delícia as palavras voltaram! As metáforas se olham de esguelha no lince do "sostalio" - tornaram-se as palavras mais experientes com o descanso de três dias, "Vão nos fazer rebolar, dançando na chapa quente das dialéticas do efêmero e eterno." Contudo, as núpcias da alegria e felicidade.
Então... De início, fonemas de olhos voltados para o infinito do uni-verso à cata do primeiro registro, enfim o namoro com a lua, estrelas no silêncio da noite esvaziou-lhes das a-nunciações do inaudito, esqueceu-lhes os verbos, érisis e iríadas do ser. Tinham o ser na própria contemplação de si mesmas. Nada lhes faltava, não eram carentes. Perfeitas e completas. Podia ter registrado a plen-itude do momento de namoro nalgum verso e estrofe, num soneto, nalgum prosa, testemunho de que são divinas. Nada de registro. O que viveram, vivenciaram só elas sabem e conhecem, a sabedoria outra que atingiram só elas sentem no mais recôndito dos interstícios nas forclusions do nada e ser. Direito delas o silêncio. Dever nosso respeitar-lhes.
Agora só querem saber de bailar com os significados no rito da balalaika, revezada com o fado. E o universo cintila de prazer e contentamento.
Em verdade, em verdade, estavam precisando de afastar das linhas, curtir a poeira da estrada a perder de vista, bem se sentindo confortadas à soleira da casa circundada da natureza cintilada de brilho das estrelas e lua. Contaram-lhes que uma escritora européia deu férias aos verbos e foi passear à beira-mar, tirar fotos sentada no banquinho de mármore do calçadão da praia, no crepúsculo sentar-se na praia e con-templar o in-finitivo do além-mar, a-nunciou-lhe o desejo de passeio noturno nas margens esquerdas do Senna. Mas isto ficou para outras férias, teria de pegar o trem de Lisboa para Paris. Os verbos vieram para o Brasil, para o Rio de Janeiro, serem escritos nas mesas de bares, como os músicos fazem com uma caixinha de fósforo, tudo dá samba, registram em versos a poeira que cobre as folhas. Reencontrando-se escrita e verbos, aquele grande e inesquecível abraço.
A vida está tão aquém das palavras, é carente delas para se sentir no espaço poiético da busca do Ser. Ser as palavras, ser-lhes a semântica, linguística, ser-lhes o verbo e o tempo, ser-lhe o sonho do perpétuo. Homem de palavras, indivíduo de letras, criatura de sentidos, ser de esperanças.
E as letras voltaram dos três dias de descanso.



Manoel Ferreira Neto.
(16 de setembro de 2016)


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