SOU DO CIRCO PICADEIRO E TRAPÉZIO🎇# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: DITIRAMBO



EPÍGRAFE:
É no circo, picadeiro de gracinhas e piadas, risos e gargalhadas, no trapézio, equilibrando movimentos, que se sente a presença da Vida. Ser do Circo é projetar sonhos e esperanças..."
***
Aqui estou
De alegrias,
Pulsando o coração,
De felicidade,
Olhos faiscantes, sorriso límpido
Lembranças de momentos
De angústias, dores, indecisões,
Medos, inseguranças,
Recordações de desejos
De ser lenda, mito,
De ser eterno, universal,
A cada passo subindo a escada,
Sentir frio por um instante,
Continuar,
Verborreicamente descobrir
Que o enrolar-me nas inspirações habitantes
Nos sonhos, ficar inerte diante de revérberos sítios,
Onde sobre papel deixar que a mão deslize,
Des-velo os velos dos percursos, curdos e cursos, decursos,
Instantes-limites de vazios a trans-bordarem nas taças
Dos ideais efêmeros, intuição e percepção de cada grão
De areia, perpassando a garganta da ampulheta,
Ser perquirições, indagações, questionamentos,
Ser verdades de in-verdades à-toa aos devaneios e desvarios,
À distância a a-nunciação de luzes de outros tempos
Faz-me desejar partida menos imediata,
Tempo de despedida, lanterna na mão, e contar os passos
Que não espero luz além
Da que me envolveu os devaneios e desvarios,
A vida é bastante, na incompreensão e no sublime,
O tempo é boa medida.
***
Em direção ao céu,
A cada olhar con-templando
O novo panorama, a inusitada paisagem,
O novo tempo, os novos projetos,
Sentindo o amanhecer do inverno.
***
Hoje, nada disso sou,
Sou quem de mim vive,
Sou quem anda a estrada de mim dada,
E o que me interessa
Ser eu de carne e osso,
O que interessa a alguém
O que sou,
Interessa sim
O que está por trás de mim,
O que sou nos bastidores da vida
O que sou nos camarins das utopias.
O que sou no picadeiro das ilusões e esperanças.
***
No início do crepúsculo da vida/alvorecer de maio,
- Maio: signo, metáfora, símbolo, categoria da SENSIBILIDADE -
Olhando através da janela aberta
Nuvens brancas passeando no azul do céu,
Sinto que haver acreditado
A vida era minha,
Não importaria quando se revelasse,
Fez-me compreender e entender
A vida é o que é,
E o que compus, criei,
Realizei, pres-ent-ifiquei,
Nos momentos de inseguranças do passado,
Que sempre segui,
"Ser não é mostrar-se
E mostrar-se não é ser",
Decerto não pressentia como o branco
Pode ser uma tinta mais dispersa
Da mesma brancura,
Mais ad-versa da mesma alvura.
***
Não sou nostálgico,
Posso ser bom de palavras,
Não sou futurista,
Posso ser bom de sonhos,
Não sou modernista, contemporaneísta
Mas o que sinto mesmo
É que há caminhos ainda a serem trilhados...
Há ideais a serem ascendidos,
Amava re-tornar e começar tudo de novo,
Início dos caminhos,
Início das querências, desejâncias.
***
Se me oferecerem diamantes e cristais,
Posso dizer que eles me trazem
Memórias de sonhos, desejos,
Mas prefiro mesmo
A poeira das estradas,
As pedrinhas colhidas
No fundinho do rio
***
É manhã outono/inverno nebulosa.
A luminosidade do sol, inda frágil e serena,
Por isto toda a sua beleza e resplendor,
Cobre a Serra das Águias,
Vista da janela de meu escritório,
Janela aberta,
Sinto a maresia do mar forte e presente
Re-costado ao parapeito,
Fumando cachimbo;
Em alguns pontos,
Há a presença de sombras,
O equilíbrio de sombras e luminosidade
Torna a paisagem inda mais bela aos olhos
Que desejam unicamente contemplar a manhã,
Senti-la profundo.
***
Penso que "estou inspiração"
- mas isto de inspiração não acontece de repente,
como por aí dizem,
como dizem "num piscar de olhos",
a inspiração é presente a todo instante,
nas suas bordas,
circundando-a houver dons e talentos
Nada há a ser feito,
não há compromissos,
encontros, diversões.
***
É ficar em casa,
Talvez sentado na poltrona da sala-de-visitas,
Fumando um cigarro,
Olhando o tempo,
Deixando-me vagar nas asas do verbo
Que in-fin-itiva os ex-tases dos desejos,
Que gerundia as volúpias dos sentimentos,
Não importa quem se seja,
O que faz da vida,
Para que lugar está indo,
Vai,
Necessita-se de alguém ao seu lado.
***
O mais não se diga,
Não verterei lágrima alguma,
Desde que alguém esteja ao lado.
***
Decido sentar-me nesta mesa,
Ao lado da janela,
Escrevendo ao sabor da paz,
Sem qualquer determinação de estabelecer
Um horizonte de minhas idéias, pensamentos.
Muito menos do sentimento e emoção.
Um ato absurdamente gratuito.
Escrever é um ato em absoluto gratuito
- saber o sentido do "gratuito" leva à
compreensão deste dizer,
caso contrário,
o ato responsável,
compromissado com isto é aquilo
não produz coisa alguma.
****
As palavras,
Penduradas no tempo,
Suspensas no uni-verso e à soleira da eternidade,
Vão desfiando novelos de linha,
Linhas grossas,
Próprias para crochets,
Tecendo as letras de uma compreensão e entendimento.
***
Cada instante é, no fundo, insubstituível:
Necessário concentrar-me,
Mister dispersar-me,
Dispersar-me e concentrar-me, a síntese.
Quisera-me difuso, um pouco mais.
A liberdade espera-me de braços dados,
Mas quem disse que o seu desejo,
Vontade não é de abraçá-la sempre,
A inspiração, espera-me a cada momento.
Conheço-a sempre e jamais a reconheço inteira.
Talvez com os segundos teça incólumes figuras,
Teça imagens com os volos dos ideais do apogeu
Da compl-etude,
Esboçando as veredas suspensas no horizonte.
***
As letras, suspensas no tempo...
Tergiverso o olhar para o teto da sala,
Vendo uma teia de aranha;
***
Vivo imprimindo no espaço imaginário do papel
A lingüística do momento.
Emitem, no roçagar da pena,
O ruído com grande energia e esfrego as mãos
Como se estivesse meditando,
Algo contemplando,
Sem reconhecê-lo,
Meditando,
Não meditar,
Em verdade penso e questiono,
E quando me pergunto se expresso a verdade
Que me a-colhe no re-colher da idéia, respondo:
“Ora, fique quieto e se deixe levar,
Deixe-se leve,
Um passear no entardecer,
O sol se despedindo atrás da serra,
Num bosque sereno”.
***
Deixar-me sentir, deixar-me pensar, deixar-me ser...
Volos dos ideais
Do apogeu da compl-etude
Em cujas asas do verbo os desejos
In-fin-itivam a línguística da verdade
Desfiando simbólicas letras no signo lúdico
De sin-cronias e sin-estesias dos instantes
Que segue a linha do tempo,
Enovelando sonhos, a-lumbrando o vir-a-ser
Em cujas eurítides uni-versais do sublime
Moram a magia mística do eterno,
O mistério mítico do espírito.
***
Lâminas de água na luz da lua, na luz do sol,
Quiçá chova dentro de poucas horas.
Alvorecer de maio.
#RIO DE JANEIRO, 01 DE MAIO DE 2020, 13:09 a.m.#

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