**MÚSICA DE LUZ PURA** GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA



Vós me ouvis, Senhor?
***
Quisera amar, Senhor,
Preciso amar. Careço de sentimentos ardentes.
Todo meu ser são imensos desejo,
Vontade, esperança, isto existi per siempre;
Meu coração, meu corpo
Dentro da noite se tesam e retesam como quem busca
O desconhecido para amar.
Silêncio e desolação se entrelaçam,
Viro-me, reviro-me no leito,
O pensamento elenca erros e equívocos pretéritos,
Tudo poderia ser tão diferente.
Meus braços batem no ar
E não posso, não consigo apanhar
Um objeto para meu amor.
***
Estou sozinho, Senhor, e queria ser dois.
Falo, e ninguém para acolher-me a vida.
Reflito, e não encontro certezas, apenas dúvidas,
Culpas, arrependimentos, remorsos.
Por que ser rico assim e não ter ninguém a enriquecer?
Por que tanto amor no peito e não haver a quem entregar
Com volúpia e êxtase, com alegria e felicidade?
Donde vem esse amor?
E para onde vai?
***
Quisera amar, Senhor,
Preciso amar.
***
Aqui está, Senhor, esta noite, todo meu amor inativo.,
Na alegria e no sofrimento,
Na desgraça e na felicidade,
No fracasso e na glória,
Não há em mim esconder, fingir, tripudiar as verdades,
Não negligencio valores.
***
Escutai, meu filho,
Parai um pouco, e fazei, silenciosamente,
Longa romaria até o fundo de vosso coração.
Caminhai ao longo do vosso amor novinho “em folha”,
Como quem remontasse à corrente
De regato para encontrar a nascente.
***
E bem no fim, já no fundo, no infinito mistério de vossa alma
Conturbada Me encontrarás a mim,
Pois meu nome é amor, meu menino amado,
E desde sempre outra coisa não fui senão amor,
E o Amor está em ti.
***
Fui eu quem vos fizestes para amar,
Para amar eternamente,
E vosso amor passar para um outro você mesmo:
É aquele que procura,
Fica tranqüilo, ele está em vosso caminho,
O caminho desde sempre, na Estrada de meu Amor.
Há que esperar que ele passe,
Ela se aproxima,
Você se aproxima,
Vos reconhecereis,
Pois para vós fiz vosso corpo, e fiz o vosso para ele,
Para ele fiz vosso coração, e para ele o vosso
***
Procurai, filho, os dois, dentro da noite,
Em “minha” noite que se fará em luz se me mostrais confiança.
***
Guardai-vos para o vosso amor, meu filho,
Como ele se guarda para vós.
***
Eu vos guardarei um para o outro,
E já que tem fome de amor, coloquei no vosso caminho
Todos os vossos irmãos a amar.
***
Crede-me, filho, é um aprendizado bem longo o do vosso amor,
E não há muitas qualidades e espécies de amor:
Amar, sempre é deixar-se para ir aos outros...
Sempre, como dizia Camões, “é um andar solitário por entre a gente”
***
Senhor, ajuda-me a esquecer-me por meus irmãos os homens,
Para que um dia, dando-me, eu aprenda a amar...
***
Senhor, vós me ouvis,
Tenho fé, sinto-a; tenho esperança contemplo-a?
Não, Senhor, dirijo-me a vós,
E clamo que me ouvis,
Sei que me ouvis.
Outros são os momentos, mesmo vós que me ouvis,
Não compreendeis bem o porquê
Destas entrelinhas o húmus de outros tempos que vivo,
Não compreendeis o porquê de a re-presentação destas linhas
De recordação, memória, lembranças,
Mostrar um itinerário, mas acabo de me despertar noutra manhã,
E sinto profundo outras anunciações e revelações,
Desde que vos dirigi a palavra, estando a sentir-me angustiado, triste
Cabisbaixo e melancólico.
***
Será que deveria Senhor,
Não vos pedir apenas que ouça a minha “fala”,
A minha “confissão”,
Pedir-vos, Senhor,
Prestar mais atenção no que ora vos digo,
Quando as emoções, sentimentos, estados de espírito
E de alma, são outros.
Outros são os tempos, Senhor, e os tempos são outros,
Contudo,
Devo dizer-lhe que me sinto livre, a liberdade
Da águia que sobrevoa os horizontes
De ontem,
De hoje,
E nos leva em suas asas a desejar contemplar
O que nos habita profundamente,
Claro, Senhor, hás-de convir comigo
Que tenha sido mais verdadeiro, enfim era uma dor
Pujante, dilacerante,
Que trespassava-me por inteiro,
Então, escolhendo as letras não como modo de me expressar,
Um estilo de exprimir o que dentro trago em mim,
Para dizer, contemplar o que em mim habita o íntimo,
Sendo verdadeiro, digno, honesto comigo,
Em todos os momentos,
Dores e sofrimentos são trilhas nas razões
In-versas dos horizontes e universos
Que nós os homens necessitamos trilhar a cada passo,
Só que penso e sinto na dignidade,
No amor,
Na esperança,
Na fé,
Na fidelidade,
Na lealdade,
Em busca de horas terras e florestas onde
Possamos nós os homens sonhar e desejar
Outros caminhos e becos, por onde
Continuar a andança pelas estradas da busca
De que sou,
De meu conhecimento,
E em mim o desejo eterno
Da imortalidade, da eternidade.
***
Sim, senhor, o conhecimento histórico, o conhecimento de mim, sem medos e peias, sem correntes e algemas, mesmo sofrendo, sentindo dores, às vezes dilacerantes, brota sempre de novo, de fontes inesgotáveis, as coisas estranhas e disparatadas que vivemos intimamente, complexas e difíceis de serem entendidas, e nesse momento vejo, vi e verei nitidamente, com estes olhos que a terra há de comer, como temos nós, as suas criaturas amadas, o costume de dizer quando se deseja ser o mais sincero e digno, sinto presente os limites, o que me parecia haver sido real-izado, embora tenha sido noutros ângulos e perspectivas, é apenas esperança, fé, de alcançar a minha ressurreição, redenção, ser merecedor, Senhor, do Paraíso Celestial como Vós nos prometestes aos homens, e que Deus em Sua Plenitude doa a quem seguir as Suas Palavras, as Palavras de Amor, Solidariedade, Fé, Compaixão.
***
São horas de cinza de espírito, não tenho a ousadia, não sou aventureiro, pudera sê-lo, não me pergunto para que é isto que não é para coisa alguma, para nada, estaria apenas tentando preencher o vazio das horas com algo sem sentido, não há resposta, nem posso entender que, não tendo resposta, como uma pergunta fora criada, fora feita.
***
Tenho-me esquecido do tempo, em verdade. Vivo um tempo que não sei decorrer, um espaço para que não há pensar, não há imaginar, não há sentir, não há desejo e nem vontade, um decorrer fora do tempo, uma extensão que desconhece as emoções e sentimentos, conhece o saber como é suave saber que a espiritualidade, o conhecimento, a contemplação, na clepsidra deste imenso desejo, sonho, vontade do sublime, entregar a vida a esta busca, esperançoso de vir a sentir o gosto do sublime, gotas regulares de esperança, de fé, marcam horas irreais.
***
Lá fora, a noite tão longínqua! Sonho e de por trás da minha atenção sonha comigo alguém... E eu, que pela manhã da distância, da lonjura que vai o dia quase a esqueço, é ao lembrar-me dela que sinto em mim desejos os mais excêntricos, os mais inusitados de, num recanto afastado da sabedoria o ritmo íntimo das vozes que ouço a dizer-me próximo à alma do alto silêncio, mostre se a vaga à pressa resvala como um cúmplice fugaz, perante a noite confusa; se a poesia íntima dos versos da canção embala o que está perdido e as sendas que servirão de trilha para o encontro revela a saudade que o sudário esconde; sinto em mim o espanto que as horas de desassossego, para além da linha externa das montanhas, são hábitos de estilo, costume de formas, e para além dessa não há nada...
***
Os olhos não são escuros, mas claros, e é apenas a sombra das longas pestanas que os escurece. Penso poderia estar alhures. De mim já se afastou a última esperança. Acaso a natureza ou nobre alma agora um bálsamo não têm, que me traga bonança? Por vezes, não sinto limites no corpo. Con-templo ora o sorriso cínico e irônico, revelando rebeldia e meditação acerca de o cristianismo con-templar a morte e não a vida, dizendo-me da melancolia e nostalgia. Ponho em nível de suas sensações as extremidades algo longínquas das mais nobres emoções. Imagino estar algures.
***
Hesito, agora, em continuar a idéia que se me revelou na mente. Não há muito que, encostando-me ao parapeito da janela, após a estiada da chuva, olhando à distância a neblina, e agora, tudo se me afigura um sonho. O coração bate descompassado, não estou nem um pouco consciente da emoção que se me revelou a ponto de o coração bater descompassado, para isto, para o fazer bater descompassadamente, há-de ser algo emocionante, inusitado. Em princípio, ouço com um sorriso calmo e paciente, que raras vezes me abandona; mas, pouco a pouco, uma expressão de espanto e, em seguida, de medo transparecem e se fixa no meu olhar. O sorriso não desaparece de todo; mas, por momentos, parece vacilar.
***
Na neblina da montanha, chovera por quase três dias seguidos, pela manhã de hoje estava toda encoberta, já vislumbro e vejo as musas passarem dançando, e, em que depois, descansando quieto no equilíbrio da alma matinal de por baixo de alguma árvore, encostado ao seu tronco, dessas copas e ramagens me sejam lançadas coisas novas, inusitadas, excêntricas e claras, dádivas de espíritos livres que moram na montanha, no bosque e na solidão...
#RIO DE JANEIRO(RJ), 12 DE MAIO DE 2020, 04:36 a.m.#

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