#ÁDITO DA ENTRADA🦋# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO




Nesta hora tão repleta de receios e perplexidades, medos, verifica-se o portento sem o qual toda existência humana é um vazio. A graça, que converte tudo real, divino e estético, descai sobre mim.
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O mundo me avalia esquivo, pérfido e adverso, errado, re-verso, in-verso, alheio, avesso, intransigente, grosseiro, prepotente, dono da lídima e incólume verdade, ovelha desgarrada(está no sangue andar sozinho por entre os homens.) Nada disso o mundo é: os homens são perfeitos, acabaram de des-cobrir que são eternos, não tem quaisquer moléstias psíquicas, doenças de toda ordem e categoria, efêmeras, prolongadas, fatais, produzidas ou naturais. Jamais houve em toda a História da Humanidade tanta solidariedade, compaixão, tanto amor. O meu transcorrido, isolado e sombrio. O vindouro, uma melancolia tosca que incumbia delinear em formatos toldados. Ultrapasso o ádito da entrada, importando fé, canícula e júbilo, exportando náuseas, vazios e nada. O instante travo converte-se, imediatamente, num instante bem-aventurado, num momento de júbilo.
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Meu modo de agora, de instantânea dita, presenteia-me um deleite indomesticável como se apanhasse um escol de esquiva formosura, brotada em loco inconsolável, ao gosto da ventosidade. Meu estilo atual, de metafísicos dizeres, doa-me um refestelamento indescritível como se colhesse uma erudição de adjacentes esplendores, ao saber de chuviscos. Minha linguagem atual, de suspeitas falas, cinismos, sarcasmos, ácidos críticos, ironias, lega-me verbos suspensos no tempo, e com eles vou tecendo sentimentos e ideias do que precede a essência, a existência. O sigilo, enquanto assim possa ser designado, conceituado, retém-me num gênero de extasio, num isolamento entre os homens, num divórcio tão perfaço como o de um algar no meio da serrania.
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A luz engolfa-se, condensa-se na borda fronteira do relógio - o mostrador escoa-se. No escuro, disco suspenso no nada. Caos. Som imerso no primitivo. Alucinante. Ritmos que não podem ser pensados, verbalizados.
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Ando a vagar. Ventos percebidos no espírito. Palpitação de asas sobrevive no mistério, enigma. Dilatado. Esquecido de mim. Olvidado de lembranças, visões. Logo, não além da eternidade, sim aquém da contingência. Depois da eternidade vem a imanência eivada do sublime, suave, sereno, felicidade, paz.
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O universo imputa todo o seu progresso a sujeitos des-venturados. Os ditosos limitaram-se dentro de modelos clássicos, regressivos. Postam as mãos à terra, os pés ao céu, agradecendo a sublime inteligência e sensibilidade com que foram dotados. Possuo a intuição de que, daqui por defronte, a minha legação será cultivar sémenes de diferentes mastros, confeccionar vedações, e, quiçá mesmo no tempo propício, edificar um lar para distinta gênese, e, numa locução, conciliar-me aos preceitos e às práxis pacatas da agremiação. Meu comedimento será mais pujante do que qualquer propensão titubeante da minha parte.


#RIO DE JANEIRO(RJ), 13 DE MAIO DE 2020, 11:58 a.m.#

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