Ana Júlia Machado CRÍTICA LITERÁRIA ESCRITORA E POETISA ANALISA E INTERPRETA A SÁTIRA SOBRE A SÁTIRA #INSTINTOS DA DESOVA PSÍQUICA NAS MOVEDIÇAS FRONTEIRAS DA LEMBRANÇA E DO ESQUECIMENTO# ***



Nesta sátira de Manoel Ferreira Neto, #INSTINTOS DA DESOVA PSÍQUICA NAS MOVEDIÇAS FRONTEIRAS DA LEMBRANÇA E DO ESQUECIMENTO sinceramente não tenho uma ideia precisa de como comentar. O que tenta-me de imediato, é focar-me do que consta uma sátira e que está ao alcance de muito poucos, ironizar- mas falando o que pensa é tarefa árdua.
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A sátira é uma arte literária ou primorosa que escarnece um estabelecido tema (indivíduos, organizações, estados), o que penso que nesta obra do autor está patente todas estas vertentes. Geralmente como formato de mediação estadística ou outra, com o propósito de fomentar ou atalhar uma transformação. O adjectivo satírico reporta-se ao autor da sátira.
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A troça pode estar arrolada com a sátira. A boémia reproduz outra figura de talento, de uma forma excessiva, para conceber um resultado burlesco, satirizando, comumente, o tema e género da obra criticada. Ainda que por vezes o tecnicismo próprio da sátira e da farra se superpor, não são unívocos. A sátira nem sempre é irónica - por vezes chega a ser funesta. A troça é, inevitavelmente de cunho divertido. A paródia é imitativa por clareza - a sátira não frui de o ser. O humor satírico intenta, muitas ocasiões, adquirir um resultado burlesco pela sobreposição da sátira com a verdade, o que constata-se na sátira do autor Manoel. Ele usa este método para denunciar a hipocrisia, os falsos escritores e o ilusório. O primordial intuito da sátira é político, civil ou ético - e não burlesco... O humor satírico visa, pois, para a argúcia, sarcasmo e costume da consequência cómica do "deadpan" (imperturbabilidade do humorista, como se não compreendesse o caricato das condições que expõe).
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Nas sociedades celtas, concebe-se que uma sátira formada por um menestrel possuía consequências físicas, comparáveis a uma praga.
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Hoje ainda podemos falar de sátiras e farras audiovisuais, que nada mais é do que as proliferações da sátira ou da troça como as entendemos através de meios audiovisuais, como a televisão, o cinema e mais ultimamente a internet. A sátira e a paródia aqui auferem componentes novos, pois passa-se a labutar com o jogo de representações e sons, sendo esses dois os primordiais componentes com que se irá conceber o efeito divertido ou o efeito crítica-ironia, e não mais através meramente do texto e de sua exegese. O leitor da sátira e da farra passa ao assistente desses géneros que em última análise podem se patentear em qualquer linguajar.
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Uma das características da sátira clássica é a adequação paródica dos mais variados géneros literários da Ancianidade, abrangendo uma diversidade estilística em que conversa e poema achavam-se agregados no mesmo texto. Mas outra etimologia, aliada à língua grega, agrupa a sátira ao aspecto lendário do sátiro, sugerindo uma de suas específicas mais relevantes, já descoberta na facécia clássica e comunicada ao romance: a indevoção. O que distingue a desveneração satírica é o seu cunho acusador e moralista. De fato, a finalidade da sátira é agredir os erros da sociedade, o que facultou origem à locução latina: castigat ridendo moris, que se pode trasladar espontaneamente como "punir os hábitos pelo júbilo". Por seu sinal acusador, a sátira é particularmente paródica, pois arquitecta através da achincalhação de pessoalidades (verídicas ou simuladas), fundações e assuntos que, segundo os convénios tradicionais, deveriam ser estudados em estilo distinto. Ou seja: a sátira graceja de temas e individualidades "austeras", para acusar o que há de putrefacto por trás das frontarias aristocratas empurradas à sociedade. Logo o rir satírico é transversalmente adverso à imaginação heroica.
Sendo o júbilo satírico em geral excessivamente mordaz, o caricato é um dos comportamentos preferidos do satirista, que afaz exibir a alteração caricata do físico do personagem ridicularizado como uma fábula dos seus vícios éticos.
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Um idealista muito público por suas sátiras foi Gregório de Matos e Guerra, trovador de género excêntrico... Opondo-se ao classicismo
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Termino com uma ideia do autor, em que inclui-se em tudo o que é uma sátira:
“Existe, como nas obras afamadas, o passo do fingimento e do congraçamento. Nas obras banais, o cata-cavaco da sonsice e da interação social. Só ao longo da enorme campina é-se praticável um deparo com as proveniências, naturezas, com o astro-rei da meia-noite ilusório, telúrico, psicadélico.”


Ana Júlia Machado
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RESPOSTA À CRÍTICA SUPRA


Meu Deus!... Divina, Maravilhosa, Esplêndida... De excelência. Tudo o que eu arquitetei revelar sobre a sátira e as minhas condutas e posturas literárias e filosóficas. Putz!... Só você mesma para uma análise e interpretação, crítica neste nível.
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Realmente, nas entrelinhas desta crítica, você deixa lúcida a minha essência satírica, as suas origens. Na infância, quando ia ao cinema com a minha mãe legítima assistir a filmes de Farwest - o meu gênero preferido do cinema - chamava-me ela a atenção por torcer pelos índios e não pelos mocinhos. Na vida, dediquei-me ao intelecto, à cultura, à Filosofia e Literatura, ao invés de construir bens materiais como os homens normais, por dois anos vivendo na miséria, num muquifo de dois cômodos. Hoje, Benzinha sempre diz que sou um homem "atravessado", "reverso", inverso", "avesso" em todos os níveis. Tudo isso desenvolveu a Sátira em mim.
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Como o mês de junho será dedicado às críticas que você, Graça Fontis e Sonia Gonçalves desenvolveram em sete anos, esta crítica abrirá o seu evento de crítica.
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Beijos nossos a você, à nossa amada netinha Aninha Ricardo, a todos de sua família.
Manoel Ferreira Neto
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#INSTINTOS DA DESOVA PSÍQUICA NAS MOVEDIÇAS FRONTEIRAS DA LEMBRANÇA E DO ESQUECIMENTO
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: SÁTIRA
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O sol deita-se e as nuvens azuis colorem os terraços brancos, as águas fedorentas do Rio Grande, em direção à favela da Palha, o jardim do Seminário São Judas Tadeu, a calçada da Cúria Metropolitana. Afigura-se-me haver distendido uma mola no interior, soltaram-se algumas ruelas e parafusos dos princípios eruditos satíricos. Parece-me, em princípio, haver sentido uma eclosão, por haver dito com o mais profundo ser EU zero obtuso à esquerda, sei que os instintos da desova psíquica ficaram excitados, manifestado-me bem para além do inteligível, das “movediças fronteiras da lembrança e do esquecimento”. Ouço à superfície das águas a eclosão dos sons, os sons do silêncio, das luzes.
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O mundo vil e vulgar termina à porta – daqui para dentro é o infinito, um mundo eterno, superior, esplendoroso, nosso, da preocupação e de mim, das moléstias macunaímicas, paulicéias instintivas, carioquéias das malandragens egocêntricas, sem regras, sem cardápios, sem figurinos, sem etiquetas, sem leis – um só mundo, uma só vida, uma só vontade, uma só afeição – a unidade sensível de todos os desejos e vontades pela exclusão das que me são adversas e controversas. Sentir um estímulo forte de querer ou não querer é assunto do intelecto interpretativo, que naturalmente trabalha em mim de forma inconsciente, digamos nestes termos, seguindo certos cânones súperos, embora para mim o seu estilo de ação e atitude é uma adesão dos instintos e razão in-versa. Sonhei esta madrugada que havia visto em carne e osso São Nunca, a sua batina era ornamentada com diamantes puros, encontrados no rio de Lavrinhas, batendo um papinho bem excitante com a Esfinge da mitologia grega, enquanto eu estava pescando peixinhos para o aquário particular com uma peneira adquirida na Loja Leandro Costa, especialista no gênero.
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Deixo-me ser algo sem nome, uma sensibilidade no âmago. Comigo mesmo, penso ter sido a despedida mais original a que jamais me outorguei. Coloco em palavras os sentimentos, a intimidade do ato, da atitude, da ação, do sonho, da utopia. Deixo-as irem consigo mesmas em toda a viagem, uma viagem de carruagem guiada por cavalos de pura raça, três, e um jegue iniciante na labuta é sempre agradável, proporciona os prazeres mais indecentes e indecorosos, no balanço tweedle dee, tweedle dum das estradas do vale. Fecho-me sobre águas calmas. Por onde passei, a minha busca, as ondas voluteiam imensas e suaves. Procuro um original no âmago e essência.
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Irá haver um abismo entre a subjetividade e as palavras, um caminho da roça entre a caverna e a ponte movediça da metafísica e exegese, da metalinguagem lacaniana e teoria do conhecimento à la Habermas. O rosto fica na sombra sob o ouro do diadema brilhante.
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A distância vai-se efemerizando lentamente. Aos saltos, realizo-me. O declive do vale favorece as enormes passadas. As enormes passadas são favorecidas pelo prado do declive.
Alcanço a água do rio sem margens, sem pressa, resfolegando. Teço um longo discurso, laureando a sublimidade do mundo e da terra, mas não há palavras, só alguns sons sussurrados, quando do sarcasmo, ritmos cochichados, quando do ácido cínico destilado. Mergulho com grandes gargalhadas.
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Há, como nas obras célebres, o passo da simulação e da reconciliação. Nas obras vulgares, o cata-cavaco da hipocrisia e da interação social. Só ao longo da grande planície é-se possível um encontro com as origens, essências, com o sol da meia-noite fantasmagórico, telúrico, psicodélico.


#RIO DE JANEIRO(RJ), 25 DE MAIO DE 2020, 13:35 p.m.#

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