#CHOUPANA SINFONIA DE VOOS ALTERNANTES# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto/GRAÇA FONTIS: SÁTIRA ***



Só alguém muito fino, de sui generis finesse sem igual e medida, superando e suprassumindo a dos doutos e celebridades, pode entrar no templum vazio onde há um pensamento vazio, e com tal leveza, com tal ausência de si mesmo, que a paixão não marca, o desvario não cristaliza, o devaneio não personaliza, a sandice não enobrece, espera a completude ansiosa e aberta para seguir pensando e buscando intuir onde o ESPÍRITO deverá estar. Se é que devesse estar nalgum sítio específico ou aleatório. Tal estirpe e laia de pessoa(?), indivíduo(?), cidadão(?) possuem o talento, tem o privilégio de poder contemplar a baixeza desinteressada, pura, sem escusa intenção. Desempenham neste mundo egrégio papel: quer tragam consigo as trevas, quer as envolva uma auréola luminosa, são destinadas, umas e outras, a contribuir misteriosamente para o bem do homem. Dizer o que desta idéia que afagam com todo apreço, ultrapassando a fronteira da cáritas, não ser senão de elevadíssima sabedoria e genialidade. Quem não a conhece é que a compra.
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Fósseis obtusos de juízos, con-siderações do ab-surdo re-verberando sob cintilâncias de hipocrisias e farsas as trafulhas da condição humana no pôquer dos valores insofismáveis, a melancolia e a nostalgia das quimeras e utopias, sentimentos insolentes e indecentes se mostrando a esmo das investigações das atitudes, à beça dos con-sentimentos dos comportamentos e ações, palmilhar o chão de poeira de nonsenses e contradicções, devagar e de vagar em vagar é que se alcança o tão sonhado e desejado. Turba imunda em sua miséria profunda. Lousa fria de um sonhar que é morto!
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Corujas em silêncio... o canto adormecido sonha a música do vazio, o canto sonhado cria a lírica do sentimento do nada, quando o ritmo, melodia de tempos e ventos, de pretéritos inolvidáveis de liberdade e presente, aqui-e-agora, instante-já, de projectar outros anseios? Corujas em silêncio... A madrugada sem qualquer sentido, razão de ser, falta o canto da coruja presente.
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Lembram-me estranhas quimeras dos verbos que regenciariam os desejos de sentir as coisas do mundo, picuinhas da existência, esquisitas ilusões do ser livre que gerenciariam as esperanças de existir as contradicções, dialécticas e nonsenses, re-colhê-las e a-colhê-las em mim. Inda não sentia forte, presente e profundo o canto da coruja, ouvia-lhe o som, desejava apreender-lhe a sensibilidade do porvir no ritmo de sua respiração, e tudo caía por terra, tudo descambava, o canto da coruja ouve-se-lhe quando ser livre é atitude espontânea, sem plissado de "hipocrisia branca", aquela cuja única intenção é mostrar o seu rebolado nas questões de solidariedade, mas só chegara a encantar pela performance corporal, ao estilo das moçoilas que vestiam saias plissadas para puxarem os olhares de malícia dos rapazes pubescentes. Haveria de esperar, entregar ao sonho apenas não é suficiente, haveria-de tornar-me livre, o canto viria a mim, o vento soprar-lhe-ia em minha direção, as vertentes-de-águas esvoaçariam entre as gotículas sarapalhadas...
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Agora, sinto-lhe, ouço-lhe a todo instante - sossego, tranquilidade, calma. De silêncios, ondas de som perpassando as notas de ritmos batendo nas paredes da montanha, subindo o abismo, ondas de ideais e querenças bailando a performance da entrega incólume, despertando a intimidade de utopias vindouras... o canto da coruja em mim. As corujas estão em silêncio, outro canto virá na madrugada seguinte.
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Farei do mesmo modo e simultaneamente, um faz-de-conta do inda sido para que meu coração não deixe de incendiar-se e que as partes mais íntimas das acumuladas horas de querências sem enlançar-se não deixem de prever em ascenção às amplitudes afetivas brumadas do quotidiano multifacelado pelas emoções, regozijadas vertentes do vir-a-ser como chuvisco aos primeiros passos sobre as folhas movediças e saltitantes à mercê dos ventos alternados das promessas que encetam voos nocturnos e diurnos sobre bosques aquáticos esquecidos numa nesga-de-mar qualquer sem ínfimo esforço à ocultação do possível imaginável onde nada resta além ou aquém do que derrama e abarque nossas almas nos átimos estampidos dos instantes em que as mentes dispersam a vaguear "elencando"/e alencam seus clamores internos na rusticidade natural facultativa e apetitosa, mas de larga hostilidade a estranhos... o silêncio lhes pertence!... Tudo no homem se transforma com grande rapidez; num átimo de segundo, um terrível verme pode corroer-lhe as entranhas e devorar-lhe toda a substância vital.
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Digo, imbuído de todas as idéias e pensamentos, que quando se tem espírito demais é pior do que não ter nenhum, o que é inconteste paradoxal. Seja esta a intenção primordial. Despertar-vos a atenção para tolices solenes de um indivíduo sem quaisquer pedigrees para o que quer que seja senão ruminar a esmo. Haveis vós de endossar as minhas palavras, sem mangofas, inteligente é o homem que em vez de desprezar este ou aquele semelhante é capaz de o examinar com olhar penetrante, de lhe sondar por assim dizer a alma e descobrir o que se encontra em todos os seus desvãos. Ruminai como vos rumino estas asnadas que me inquietam, procurai entrar nas suas suas radículas do bom senso. Não existe aquela falácia interessante: "Se a liga me ligasse/Eu também ligava a liga/Mas como a liga não me liga/Eu também não ligo a liga..." Só que somos unhas e carne no mérito. E o que vós eivados de conhecimentos elevados descobris nos desvãos de minha alma? Quem sabe?... Quem sabe?... Só sei de mim. E vós, vós sabeis de vós? Prometo-vos que irei dedicar algumas reflexões a respeito. Careço de tempo.
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Vertente de memórias e lembranças, seus casos, causos, circunstâncias e situações, enunciando idéias e sentimentos. Memórias e lembranças de quanto careço, de quanto estão ausentes em mim as utopias do outro e das coisas, saber e conhecer que outras visões se a-nunciam preenchem o vazio das verdades no amanhecer, no anoitecer.
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Perturba-me o mistério daquele compromisso com os tempos futuros, com os tempos para lá da velhice, para aquém da morte, em que serei tão nada como era antes de haver nascido num lugar onde, se as palavras não são mesquinhas, os espíritos são medíocres, vice-versa, para frutificar e dar sombra, daí a uma infinitude, a uma eternidade. Para distantes tempos futuros, que nenhum sonho tenha inda visto, onde os deuses, nos arrasta-pés, envergonham-se de suas vestes, dialogo e converso em linguagem figurada, gaguejando, capengando, engrolando a língua como os poetas, na verdade, envergonho-me de que deva dizer alguma coisa, como o bem-aventurado contradizer-se e reouvir-se e recompor-se de muitos deuses, misturando palavras para que o tempo se faça.
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Eis-me, vez outra, e não me é dado saber quando irei, alfim, deixar de buscar a sua plenitude, perder-me e encontrar-me nele, perceber com muita clareza a afinidade que existem entre o som das ondas batendo nas docas e a volúpia espreguiçando-se em noite de lua minguante diferenças tão gritantes que silenciam os cães ad aeternuum, serem efetivos despautérios de origem e genesis. Que artifício por intermédio do qual surgir uma realidade delicadíssima, nobre que passa a existência em mim? Seria que ela iria querer, consentir passa a sua vida em mim? Muito tempo é melhor do que tempo algum? Talvez algum dia à hora em que Judas perdeu as botas nas curvas do insondável da culpa e do remorso, enforcou-se. Volátil o que sei, quase inexistente, deixo-lhe entre mim e eu.
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Lindos olhos cheios de segredos, por cujo brilho os homens deixariam da terra inteira a mais empafiosa "Choupana", no seu interior os músicos representando a Sinfonia de Voos Alternantes.
#RIO DE JANEIRO(RJ), 31 DE MAIO DE 2020, 08:52 a.m.#

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