#FINA TEIA DE SEDA: PALAVRAS, IMAGENS, INTELECTO👁‍🗨:# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA SATÍRICA



EPÍGRAFE:
#Fina teia de seda... crepúsculo à luz do vir-a-ser de verbos que numinem o alvorecer do Ser e da Liberdade.#(Manoel Ferreira Neto)
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Onde as éresis do espírito - luzes incidem no eidos do tempo, águas re-fletem na plen-itude a graça do brilho de moléculas, seguem solitárias os caminhos. Vou desenhando as formas do infinito de minhas finas teias n´alma.
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Não quero, acima de quaisquer verdades, abaixo de quaisquer quimeras, desilusões das esperanças e sonhos, incomodar, aborrecer, insatisfazer os deuses e os gênios serviçais, empu-tecer doutores e cientistas, professores e comerciantes, mister deixá-los em paz, saboreando seus habitats, rodeado de suas ninfas, degustando delicioso assado de ovelha e bebendo bom vinho, e alegrar-me, satisfazer-me, aprazerar-me com a suposição - não seria melhor dizer "insinuação"? - de que a minha singular agilidade e perspicácia prática e teórica na in-vestigação, avaliação, inter-pretação das utopias da consciência e liberdade chegaram ao seu ponto culminante. Longos e inestimáveis anos levaram-me para artificiar a METÁFORA DO ESTILO E DA LINGUAGEM.
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Também não é intenção sine qua non imaginar que a sutileza de minha sabedoria seja tão elevada, o que digo às minhas discípulas, vocês é que pensam nesta sabedoria que habita em mim, longe inda de lá chegar, quando ao mesmo tempo, vapt-vupt, ad-mira-me, surpreende-me tanto a esplendorosa harmonia, esplêndida sintonia que surgem aquando toco o instrumento de meus idílios e devaneios, uma harmonia tão estilosa, uma sincronia tão melodiosa que mal ouso atribuí-la a mim mesmo, fora a habilidade dos dedos com as cordas e notas da subjetividade e sensibilidade; aqui e ali, lá e acolá, frente aos instantes-limites, ao lado dos absurdos e paradoxos circunstanciais, alguém toca comigo, acredito seja algum "ser do espaço" a inspirar-me a balada dos sonhos e verbos que me habitam os interstícios da alma, é o meu preferido acaso, sem ele tudo seria mera fantasia; eventualmente conduz a minha mão - com que acuidade!, com que ternura e finesse! -, surge-me estar ele ensinando-me a desenhar os sons, como se artificia as letras na palavra sendo registrada, a lírica dos ritmos, e a mais percuciente, erudita, sábia providência não poderia imaginar e conceber, gerar e dar a luz à mais sonora e bela, à balada mais suave aos ouvidos do que esta a mim doada livremente tocar com a minha mão insensata, insolente, rebelde e irreverente.
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Talvez resida no mais inconsciente - este é criativo e possui a sua lógica, da desordem vai tecendo uma ordem surpreendente -, indizível, invisível e inaudito de mim, algo do eminente Demóstenes: a implacável seriedade e sinceridade com que dirijo a minha missão, não apenas para superar-me a mim próprio, mas estabelecer virtudes e valores, e a força do golpe com o qual a cada passo e traço, a cada vez me aproprio dela; envolvo-a em minhas mãos e, ao mesmo tempo, apreendo-a como se fosse de bronze; minha arte adquiri-a nas situações e vivências, numa entrega sobrenatural, além de todas as capacidades, de todos os dons e talentos, dores, angústias e náuseas, minha arte age como natureza restaurada, reencontrada, não traz nada de discurso demonstrativo, exemplificativo como todos os baladeiros, seresteiros, boêmios naquela temperatura de eloquência que a língua sente o sabor do ser e do nada, do tempo e do vazio, dos ventos e das esperanças, que oportunamente jogavam com a arte a fim de dar mostras de maestria, ser não é mostrar-se e mostrar-se não é ser. Jamais poderei avaliar o rigor e a uniformidade da vontade, do desejo, a superação que me fora necessária ao longo de minha formação, educação, tempos inestimáveis, lembrando-me do que os sábios antigos diziam: "Habent sua falta libelli", os livros possuem seu destino misterioso, o escritor, suas sendas e veredas a trilhar, a compor os seus caminhos de luz nas trevas, para poder, alfim, na maturidade, preâmbulo do crepúsculo, com alegre liberdade, fazer o necessário em cada instante da criação. Minhalma ardente dessa arte sempre ansiou vaguear sem freios na liberdade, na natureza selvagem, na meiguice insolente do inferno, ser o "Tentáculo que parcas ocasiões cedeu/O punhado que numerosas vezes/O bocal que não se emudeceu.", assim me dissera uma de minhas discípulas, num jantar à beira-mar em Niterói, estava passeando aqui nas terras brasileiras, de origem lusitana.
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Fina teia de seda, imagens conciliadas às contingências do finito e as esperanças trans-cendentes do Infinito, do Verbo de Ser.
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Dentro em breve retornarei a casa, tomarei uma xícara de Capuccino, quentinho, sentir-lhe o sabor, à mesa da sala de jantar, lembrando-me de que saí para perambular na praia sem quaisquer intenções, apenas divagar com a companheira do amor, das coisas do mundo, das esperanças e sonhos. No momento, desejo viver com o mínimo de dispêndio, economizar os gestos, as palavras, os pensamentos, simplesmente boiar.
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Con-templ-orando divos verbos, in-finit-ivando esperanças do há-de vir que re-velem de horizontes o espírito da alma, o ser de desejos, alvorece a fé que se esplende pelos vales, abismos, essência-eidos da vida... Silêncio... Solidão... Luz de estrelas, marulhar doce das águas, melodia constante do vento, onde os paráclitos da felicidade - na lareira as chamas ardentes aquecem os volos da alma, pensamentos longínquos, nas asas da águia a perspectivar o infinito, o tempo já não mais existe.
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Sinto que os segundos me fogem por entre os dedos. Respiro a plenos pulmões, porque o ar do mar revigora, a maresia aguça as intuições dos mistérios e enigmas: apenas a respiração regular, profunda, como a de quem dorme, sente a presença do companheiro no toque dos corpos, sente amparado, em segurança, pode sonhar à vontade, confirma que estou vivo, e que inicializo a compor um sonho de longos anos, a metáfora da linguagem e do estilo.
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Tudo na vida são sentimentos, emoções, pers da sensibilidade, retros da subjetividade. Olhos de águias, linces do porvir, límpida, cristalina visão do pleno, peren-itude do ser que, na continuidade das buscas das éresis da estética e do amor à beleza, dimensão espiritual única que trans-eleva a contingência aos auspícios da luz que ressurrecta o espírito do absoluto, refaz-lhe, re-nova-lhe, re-cria-lhe, re-inventa-lhe, não sendo apenas a senda de aproximação, mas veredas da vivência.
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Fina teia de seda... crepúsculo à luz do vir-a-ser de verbos que numinem o alvorecer do Ser e da Liberdade.
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Quê lindo olhar de dentro a vida do espírito, sentir-lhe nos seus interstícios, nos seus âmagos plenos, carícias, toques. Gostoso o amor de dentro visualizando o éden das primícias dos jardins, cujas flores exalam o perfume do eterno pré-figurado, pós-figurado de sinestesias do belo, da estesia.
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Mais lindo ainda quando a visão é plena, visualizo a manhã alvorecendo, um passarinho pousado na amurada, saudando a manhã, os raios de sol, o brilho do dia, os rostos das pessoas no trânsito das alamedas, ruas, avenidas, o bêbado deitado na calça dormindo, o mendigo na porta da igreja com o seu pratinho esperando a esmola que lhe garantirá o pão e o café, um marmitex no botequim, olhar-me no espelho, saber se estou bonito, se estou feio, se os cabelos estão embranquecendo. Visão de dentro, visão de fora. Absoluto do olhar. Quem sente, em verdade, estes olhos, sente profundo a vida, o olhar no ser de olhar.
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O mar agora está cor de ardósia, sobe lentamente. Esta noite atingirá a maré cheia(assim o diz a meteorologia). "Insisto em abstrair, sorver o húmus da noite
Noites insones, sonhos dispersos
De sorrisos passageiros
... Jogar-me as perscrutacões... porquê?
Do lá além das montanhas
Prados e vales com densa vegetação
Os delírios poéticos são mais iluminados", assim disse-mo outra discípula na praia de Iguaba Grande, tomando uma caipirinha e comendo um torresmo delicioso.
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Olhar a vida na sua éresis da beleza, da natureza, das montanhas, a vida enfim. O resultado é o sentimento de elevação, de crescimento interior. As palavras, as imagens, o intelecto e o mundo entrelaçados, a terra e o conhecimento de mãos dadas, a Existência e o Mundo em sintonia, embora as suas situações e circunstâncias, apesar das dialécticas e nonsenses, contradições e hipocrisias, e os sons da vida na continuidade de suas aspirações e desejos da Koinonia do Existir e da Arte, aquelas lembrancinhas e recordações das noites de circo, rindo, gargalhando, de onde recolhi os risos, gargalhadas, lá inocentes, aqui, ácidos críticos, contudo a gargalhada continua... "Até para falar de mim", como Frejat, o gênio do sentimento e das indagações da vida e d´alma, canta, sentir-me à vontade...
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Fina teia de seda...
#RIO DE JANEIRO, 02 DE MAIO DE 2020, 09:26 a.m.#

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