Ana Júlia Machado ESCRITORA CRÍTICA LITERÁRIA E POETISA ANALISA E INTERPRETA O POEMA #VERBOS ENTRE-#VADOS# NO SUJEITO DEFECTIVO# ***




No poema do autor Manoel Ferreira Neto, constato que há uma crítica da forma como está-se a tratar da nossa língua-mãe. Com certeza vou andar para aqui a dissertar e não sei bem se será isto que o autor esperava. São sempre textos que carecem de muita atenção e estudo e nem sempre é fácil (ou nunca é) analisar textos ou poemas tão eruditos.
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Para compreender como os poetas, obreiros dos verbos, adiantam as invenções das erudições do homem e como a inspiração, sendo uma estrutura expressiva, ronda em volta do oco. Tenta-se exibir que os cantos são locuções do potencial de um planeta pressuposto, um prodígio imprevisível, a indecência da narração, dado que esta se interpreta mais pela emancipação de latentes, pela invenção que tudo insubordina, descompõe, questiona, do que por uma constrição de grandeza intelectiva. Jacques Lacan reconhece que o verbalizar dos idealistas foge à causa, aludindo não somente para a presença de uma Outra acção — o Involuntário —, mas igualmente para o verídico, como inexequível de ser traduzido.
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Quiçá seja uma crença que, ao instituir novos estilos de redigir e de decifrar, o autor tende fazer aparecer um ledor idóneo a realizar uma leitura estimulante e autorreflexiva e que seja apto de ser um real par na criação do feito, revezando o leitor trivial, aquele que elege uma atitude apática e que não possui a capacidade e/ou habilidade de criticar ou discernir -discurso acrítico. Em uso da particularidade e da importância que a diegese que não se pauta forçosamente na verdade, mas espera-se uma obra ou uma ideia a partir desta; intitula-se do que foi edificado dessa forma, possui em ligação ao conjunto da obra, sugere atestar que esta nos faculta um relevante auxílio para entender o autor enquanto escritor.
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Hoje que o pós-modernismo já foi dado como carente e despido, prefiro licenciar esse tema para os peritos do facto literário.
E como verbaliza o autor- dos pátrios, ela cai sobre as serranias, sobre os cerros.
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Sou sincera, mais uma vez não parece-me que esteja uma análise digna do poema. Mas, tentei já várias vezes, e não consigo mesmo fazer de outro modo...não é fácil de analisar. Carece de muito estudo e pesquisa. O tempo atualmente é muito pouco neste momento. Sei que infelizmente, a escrita está pela amargura da rua. Qualquer cão e gato escrevem ou mandam escrever e o que sai para a ribalta é o que vende, não o que de melhor nos faculta a língua-mãe de Camões tão mal tratada e a não fazer jus aos grandes escritores de outrora.
Ana Júlia Machado
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Aninha Júlia, Ana Júlia Machado, a prece profunda desta obra é justamente esta que você apresenta com categoria: a deturpação dos cânones e preceitos da Língua Portuguesa e a indecência da Linguagem e Estilo. E com engenhosidade você se refere a Jacques Lacan: a Arte é o ideal da beleza, do belo. "Qualquer cão e gato escreve ou mandam escrever e o que sai para a ribalta é o que vende...", com efeito, e isto não é Arte, é apenas um bilhete do cão e do gato para dizerem que existem no mundo, com este bilhete recebem os ossos e as espinhas de peixe para matarem a fome. Sartre dizia que a Literatura não mata a fome de ninguém, mas o despautério literário está matando as carências da importância, do reconhecimento, e são laureados como Ícones de um novo Tempo, de uma nova Arte Literária.
De excelência, a sua análise e interpretação.
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Beijos nossos a você, à nossa amada netinha Aninha Ricardo e toda a sua família.
Manoel Ferreira Neto
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#VERBOS ENTRE-#VADOS# NO SUJEITO DEFECTIVO#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: POEMA
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Epígrafe:
Do jeito que os verbos se revelam inéditos, efetivamente vão crucificar a Língua Portuguesa#
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Venham os verbos {{entre}}-#vados# no sujeito defectivo
Efectivando as orações essenciais dos termos pagãos,
Integrantes das verborreias e falácias das sintáticas sarcásticas
Acessórias das facécias analíticas das dialéticas cínicas!
Guardarei sigilo perpétuo de nossos inter-câmbios e comércios,
Cambiocozados de déficits e falências do senso
Coméstico de inteligência sui generis...
Na voz, travo algum de zanga ou moléstias psíquicas,
Sem me decifrarem os pretéritos, sem me ouvirem,
Deslizam,
Perpassam as coisas levianas e tornam-me o rosto face ao leste,
Possuem-me nestes silvos, sem itinerário, sem porto,
Não há sevícia que os levem des-entravados,
Na marca dos devaneios,
Neste tacto suave e frágil, deixam-se sentir, degustar,
Lutas com as suas regências e concordâncias,
Sonoridades e ações
Sugere sem fruto, não tem carne e sangue,
Contudo, a luta é término que não termina, segue-se deslumbrado,
Deixam-se enlaçar, tontos às carícias do tacto, do toque,
E súbito escafedem-se, nada há que os retorne,
Criá-los, re-criá-los, in-ventá-los, tudo o que lhes segue,
Independentes dos sinuosos becos coloniais
Onde passeiam ratos e morcegos noturnos.
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Verbos esplendem, na curva da noite, que todos os princípios
Carecem deles,
Todos movimentos cênicos da dança de performances e gestos
São deles necessários, palavra que não separa da língua
Em riste de significados,
Paixões conjugam-lhes, regenciam-lhes,
Concordam-lhes ad infinitum
No pecúlio, cerradas as pontas, ceifadas as beiradas,
Nada há que os faça ausentes por átimo
De milésimos de segundo, movem-se,
Rodam,
Voam,
Flanam.
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Trans-literal-izados projectos do além póstumo,
Além póstero consumado
Na superfície e bordas do há-de perenizar, perecer,
Aglutinados aos in-fin-itivos
De gerúndios de sorrelfas compactas,
Con-solidados aos subjuntivos dos instantes
Indescritíveis e limítrofes,
Aos indicativos das sombras incompreensíveis
Que permeiam os recônditos do insondável,
Re-finadas nos ventos uivantes das colinas longínquas
Dos morros invisíveis, dos sons desérticos entre os montes,
In-terditas nos prazeres #ludo-luso#
Do panorama do bosque edênico,
Paradisíaco do outro lado das coisas, dos lugares,
Hadisíaco na margem contrária dos objetos...
*
Uma brisa sopra nesta noite, empurrando bolas de nevoeiro pelo chão. Kambaleio bebericado de líquido ardente em campo aberto por um momento, logo sou engolido pela névoa espessa, volto a emergir num trecho limpo. À luz das estrelas, posso ver, contemplar as bolas prateadas de nevoeiro rolando pelos campos ao redor. Sorrio de mim mesmo, prosseguindo em meu caminho, pensando como tenho a capacidade de alterar a natureza, deturpar as raízes verbais da florestas indevassáveis – enfim nestas terras não cai neve, apenas o orvalho na madrugada molhando as folhas das árvores e a grama dos quintais, terrenos, canteiros de flores, regatos, pelos de cães vira-latas ao léu noctívago, velos de ovelhas à mercê das ampulhetas da contradicção -, para ajustá-la aos meus próprios pensamentos, para ajustá-la aos hiatos de vaga insônia aderida às náuseas santificadas e deificadas, já que é um dom do espírito desvencilhar-se daquilo que a consciência se recusa a assimilar, talento do instinto re-colher-se daquilo que a razão negligencia as origens.
*
Nas adjacências do uni-verso, que re-flete sombras líquidas,
Ah, éritos
Do pretérito consignados aos sonhos de futurais particípios,
Havendo
Finos indícios de horizontes perspectivados de liberdade
Espiritual nas imagens
Que se esplendem nos imperativos do tempo,
Luzes emitem às cafuas in-finitas, compondo a face
Egrégia de semblante angelical, fisionomia demoníaca,
Onde se lê a sutileza do espírito puro, alma herege, profana,
A claridade que se ilumina, ilumina as ruas, os sítios,
Os cômodos de casa, porões de barracos e choupanas,
As germânicas vias negras dos chapadões do bugre,
Onde o ser beberica o si-mesmo
No sonho de travessia a outras contingências e ausências,
A labuta árdua continua...
*
Há um momento melancólico, hora hermética e difícil,
A cor-agem impulsiona os atos e atitudes,
Os gestos, em que "a dúvida, prosseguindo nas ruas do sono,
Penetra a alma ou nenhum fragor denuncia?,
Instante-limite entre o tudo e o nada palmilhando as
Terras do submundo,
Passando solitária, a rua do olhar me tateia, toca-me, a fitar-me
Quem in-voca, evoca exausto "fitar o contínuo nas suas sinuosidades",
Imagino olhos, calmos, solitários...
*
Velas,
Velando veladas dimensões da etern-idade
Eterna, eternizam com as achas do fogo milenar,
Com os raios das chamas seculares,
Solstícios do crepúsculo de flores que exalam perfumes
No amor
Eivado de volos espirituais, ex-tases do sublime;
O corpo ranger, re-fluir, enlaçar, errar em coisas retrógradas,
Sob eles soterradas, sem recalcadas dores ignóbeis,
Neurotizados sofrimentos pueris,
Lesões que nada justificam, exemplificam,
Esclarecem, explicam,
Nem piedade,
Confiar ao que bem me importa do sono.
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As águas, aquando tornam a cair sobre si mesmas, rompem o tempo verbal com um som similar àquele do vento entre serras, um som sibilante. Quanto a mim, sei que as águas me precedem e me seguem, elas sabem que o outro do "livre-arbítrio" reside na liberdade in-édita de criar e re-inventar os valores à face estética e ética das etern-itudes pós a consumação das etern-idades e eterno.
*
A noite não cai sobre as águas de um rio, não será levada ao longo dos sítios e terras sinuosas, seguindo os aclives e declives da jornada, esvaecer-se-á no prelúdio do alvorecer, suntuosa e magnânima, re-nascendo dos termos sem termos, das regências sem gerências do pós sem ad infinitum dos vernáculos, ela cai sobre as montanhas, sobre as colinas.
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A noite emerge do fundo das águas.
#RIO DE JANEIRO(RJ), 19 DE MAIO DE 2020, 10:17 a.m.#

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