DE TURNÊS E VAZIOS GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA



De mim – quem, eu?
***
Sonhos alastrados de Édens,
Sensações eclodidas de turnês e vazios
Sugerindo d´Ursa de frissons
Das hipotéticas madrugadas insones,
Angústias e perdições, medos,
Palmilhando terrenos ambíguos, terras reversas
De perspectivas,
De medos, coragem,
Caretas de faces diversas,
De aparências multíplices de perdições
Ensimesmadas, introspectivas, circunspectas,
Caretas de angústias, tristezas, desolações,
Náuseas
Vazias e hiatos de lacunas,
Nada em antítese de ausências
Ruminando carências armazenadas ao longo de décadas,
Vozes íntimas sussurrando dores, ressentimentos, mágoas,
Pedras angulares do destino escolhido,
De por baixo, poeira cobrindo a terra seca, íngreme,
Passos inseguros, duros,
Perdições espalhadas nas veredas pisadas,
Correntes, algemas? Nada atrás, situações, circunstâncias,
Mister desviar os caminhos, abri-los,
Por que percurso desviar as veredas,
Liberdade que se sustenta, fortalece-se?
Em que porto do mar,
Resta este a ser conhecido,
Sertão e vale percorridos, o que resultou?
Ao léu das coisas e do mundo...
Instituir princípios,
Onde o recanto de existir?
***
Para o que não há sombra leve de explicação,
Dizer não haverá jamais, vertem séculos às pencas, definhem milênios à socapa, nada haverá que indique o motivo da ausência, razão da falha e falta?
Ter a Musa que fala, murmura à alma e ensina a sabedoria,
O espírito não é vedado às Musas,
Falta sempre algo, uma coisa sentida, não verbalizada, uma brisa, uma frase, som de voz,
A existência dói, quanto mais se inventa
Doída só por senti-la, por roçagar contra as coisas,
Deem-me o arreio que desejarem, lembrar-me-ei da existência,
Febre imensa dos instantes-já,
Sina e trágico destino só conhecer,
Experimentar ecos de mim,
Não capto o mim propriamente dito,
Seria de costas para o mundo,
Seria de frente para o pensamento,
Seria de lado para os ideais de vida e visão dos horizontes
Brancos da insensatez que perderam no tempo o desejo tresloucado de realização,
Lucidez entre ideais e utopias,
O homem possui a capacidade de construir linguagens
com as quais se pode expandir todo sentido,
sem fazer idéia de como e do que cada palavra significa
- como também falamos sem saber como se produzem os sons particulares.
***
O coração do homem de luta é cardo do deserto,
Desafia o sol durante o dia, mas pede o orvalho durante a noite,
"Entre as paredes internas e facticiosas da memória
Lugar de sombras e indecisão
Em que outra parte de mim vagueia..."
O primeiro pensamento claro,
O pensamento do nada,
O silêncio do vazio,
Grito, suspiro, murmúrio, ruminância
Dos elos olvidados,
Efêmeros de sentidos,
Recolho pensativo, reflexivo a unidade estranha,
Mundo assim pulverizado.




#RIO DE JANEIRO, 03 DE MAIO DE 2020#



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