ESCRITOR E CRÍTICO LITERÁRIO Manoel Ferreira Neto RESPONDE À CRÍTICA LITERÁRIA #AZ-VIANDO CAMINHOS - II PARTE#, DE Graça Fontis ***


Epígrafe:
**E... badalo gritante do sino
Acorda, o dia seguinte já chegou
Coma os frutos, saboreie o manjar
O cardápio é suculento na roda em que giram os homens..."(Graça Fontis in AZ-VIANDO CAMINHOS - II PARTE)
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O sino da igreja badala. Meio-dia em ponto. Revisto-me, com olhar furtivo. Não entendo, compreendo o furtivo deste olhar. Sentimento de paz invade-me, antes não sentido, percebido, intuído. À noite, recolhido ao leito, deslizo-me por sombras, por caminhos de trevas.
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Águas entre mortais conhecidas. Somos para elas coisa estagnada, ficamos para aqui exilados, banidos, rechaçados, excomungados. Olho-as fascinado, olho-as sempre e uma interrogação milenar na minha garganta, por sempre vivo silêncio perpassando o ouvido.
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"Não reterei lembranças
Deixo-as fruírem
O que fora, já não é
Deixou de ser nesse distante voo interior
Desta minha falsa inocência
No sumidouro por onde os dilemas se desenrolam
Deste, meus próprios enigmas e..."
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Águas entre-cortadas. O milagre está em ti. Vivo, latente.Tu abristes os olhos num grande susto e deitastes fora a tristeza toda. Que proibição é não patentear o des-acorrentar o pretérito? Diante de ti pensava em fugir. Tu não me vias. Olho-te e sei que está longe.
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O que a mim é havido - proximidade com a fluidez universal, liquidez contingente. Sensações. O que a mim é havido - silêncio dos sons presentes. O que a mim é havido - uni-versalidade do verbo trans-crito de regências de sin-estésicos sentimentos. O que a mim há - vida.
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"Na fome e na procura desse imaginário
Excedente sob a cortina da madrugada e do mundo
Umedecido pelas absurdas gotas vernaculares
A pingarem sem reticências
Às dezenas de pernas do leito PENSANTE..."
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O desespero enfraquecido. A angústia fracassada. A agonia frustrada. O que a mim é havido - linguagem separada, a língua reunida, o estilo desvairado de dores e angústias, sensibilizado de desejos e volúpias do ser e do espírito. A civilização abandonada a esperar o reencontro. O que a mim é havido - ritmo alterável. (Imagem instável e desordenada do nada). Revelando a lucidez sem memória.
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Vou esgoelar. Confessar que o silêncio foi um incenso. Um enigma a par. Além das águas, vou criar nome. Aquém do silêncio, re-criar palavras a lavrarem invisíveis imagens. Asas do condor. Claridade. O que me foi - distanciamento da frieza. Loucura domina quem sou.
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"Oxalá explicável a voz perdida
De espreita a circunspecção
D'entre lâminas das dúvidas
Para acordes requeridores
De outra força inda inaudita
Como um rio engrossado por sementes
Gerrminadoras de esperanças..."
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Emocionado. O badalar dos sinos. Reveste de lisura o universal. O passado diverte-me. O rio silencia-se, caindo a noite. Espectro, abismo. Macunaímas de espectros sentimentais refulgidos serenos e tranquilos nos recônditos da alma. Retenho as poeiras de ser quem sou. Exausto. De ser banido. De ser expulso. De ser companheiro. De ser cassado. Exausto. De silenciar-me. Calar-me. Emudecer-me. Exausto de não saber como entabular uma conversa.
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"Crenças ilusórias não transparecerão
No caminho com que meus pés marcam
Substancialmente o ritmo tácito do meu esquecimento
Ao não valha a pena lembrar... foi-se!
Extemporâneas fugiram
Para onde nascem, morrem
No meu bocejar engole lua Ahhhh... quê sono!"
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O que a mim é havido - canteiro de flores secas ao longo espalhadas, terra seca, por onde o olhar fitasse tudo destituído de vida, vazia a mente de pensamentos, a boca tragando e expelindo fumaça de cigarro, nonadas de suspiros no observar a respiração no seu ritmo contínuo - ao menos a angústia, tristeza, amanhãs apenas como aparições do tempo?! Destino inexistente, rumo sem horizontes.
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O que a mim é havido - cenas do amor seguinte. Vou tricotar linhas e desvendar o mar. Vou tecer cores e tintas e desvelar os mistérios, enigmas de compor ventos que passam solitários, acompanhando-os nem mesmo brisas, orvalhos, neves, neblinas. Desaparece. Liquefaz. Abisma. Desgoverna. Cai o manto da preguiça.
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O que a mim é havido - galhos naufragados, espumas abismando águas. O que a mim é havido - folhas conflituosas, veículos desgovernando estradas. O que a mim é havido - baladas entristecidas, pingos de orvalho caindo rechaçados.
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O que a mim é havido - sibilos desconstituídos, fumaças liquefazendo maquiagens. Há as ondas, mas há, para além, os passos de quem locomove e traz às vezes o ritmo nas docas, no cais, vozes. Nas margens de uma estranha nuvem, a linha de um eucalipto esfuzia até ao indizível.
"Lábios mordiscados, gélidas indiferenças
Meus olhos lacerantes gemem
No infindável murmúrio que a garganta prende
E as cores da incoerência
O meu consciente apreende
Como grãos noctívagos
Em tempestades de areias
Entre muros, vielas e
Outras tantas apagadas cidades
Das minhas mãos são expelidas..."
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O que a mim é havido - ventos insubstanciados, véus desaparecendo desorganizados. Águas entre(mentes) estendidas. Abundantes, imitam as evidências todas. Alguma coisa assusta-se e fico à escuta. Tenho medo de mover-me. Alguém me chama? Respondo. Aguardo uma...
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O que a mim é havido - períodos in-subordinados ad-verbiais de lugar, temporais e causais, orações a priori de princípio, meio e fim pro-jectadas, quiçá, não me re-corda a mim, aos gerúndios do espaço, e sem vozes acusando o envio, re-colher-me na alcova insone e silenciosa.
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O que a mim é havido - estrelas da madrugada piscando, passos deixados ao longo das alamedas, o peito arfando de ilusões frívolas, indefiníveis. Tristes trópicos. Manhã submersa. Estrela polar. Alegria breve. Huis-clos.
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O que a mim é havido - cem anos de solidão. Por que clamar presenças? Flor dos trigais só dá no meio do trigo, aparece em diversas cores e formas. A presença carece de campo aberta para ser.
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O que a mim é havido - vitória-régia no jardim botânico de minhas carioquices, carioquéias, apesar de viver de quimeras, utopias, devaneios, desvarios, sei das águas que perpassam as pontes de travessias, de passagens, sei das sombras. É de me morrer delas, aquáticas as angústias e vazios os sons de chocarem-se com as docas. É a flor marítima que despetaladamente revela, através da sensibilidade a liberdade das utopias do vazio, o esplendor nascendo no som odorante da maresia da liberdade.
#RIO DE JANEIRO(RJ), 09 DE MAIO DE 2020, 07:57

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