*SIMPLESMENTE SIMPLES A SIMPLICIDADE...** GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA



Acordei esta manhã, ovos e bacon na minha cama. Depois da calamidade, ou deverei chamar de tragédia, confundi o vidro de azeite com o de pimenta, mesmo tendo sido algumas gotas, a ardência foi além dos limites. Para não jogar a comida fora, eram três da madruga, engoli-as, tomando apenas alguns goles de água. Acordei esta manhã, ovos e bacon na minha cama. Nem olhei direito para o meu prato preferido pela manhã, o estômago depois da tragédia da pimenta não tem espaço nem para uma côdea mínima de Panettoni.
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Circun-vagando ventos de leste eivados de dimensões futurais do longínquo, por onde passarem, inda que sibilando serenos, o longínquo é a meta, linguagem não do destino, desde a etern-idade até à eternidade pre-determinado, mas onde re-festelar-se, sibilando-se de silêncios, até o instante de prosseguir, o longínquo é apenas porto para o In-finito, o uni-verso é o Olimpo, encontro de todos os sibilos, sin-fonia de eter-idades aos ritmos e melodias do ser verbal nas regências da plen-itude, cujas seivas do espírito divino trans-elevam esperanças e sonhos às égides do pétuo-per dos prazeres e desejos.
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Simplesmente simples a simplicidade em dizer se etern-idade houvesse, o eterno viria antes de quaisquer eternos, fossem frutos da imaginação ou fossem o tão-somente real. O nada seria devaneio de varridos de pedra no instante absoluto da crise bacamartiana dos valores supremos, das virtudes egrégias, dos conceitos divinos, das categoria máximas, loucura trans-elevada além das nonadas trans-cendentais, e, além disso, o nada seria quimera de desiludidos com a vida ter sentido, fantasia de des-compassados, não correspondidos no amor, frustrados e fracassados com a esperança e os sonhos, simplesmente os que se arrastam nas sarjetas do mundo, puros vermes.
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Volte, Benzoca, a dizer que sempre dormiremos de pés cruzados, nunca nos separaremos, pedindo-lhe ajudar-me a dormir, estava carente. Volte, Benzoca, a dizer que nunca mais nos separaremos. Não seja uma estranha sem cérebro ou coração.
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Estando com você, de pés colados, dormindo de conchinha, mão dadas no transcorrer do dia, me esqueço de que já estive triste. Estando com você, Benzoca, me esqueço de que já estive triste.
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Sem você, não há sentido em qualquer coisa que eu faço
Ventos de leste. Sibilos de norte. Horizontes. Uni-versos. Nos horizontes, começam o caos do in-fin-itivo verbo-de ser, termina o cosmos das in-trans-itivas con-ting-ências do nada perfeitamente encalacrado nas travessias de nonadas, pontes ceifadas para os éritos do genesis, éresis do anti-princípio da terra, e dizem que a des-esperança do ser-verbo da plen-idade será vencida pelos terrenos baldios do mundo - simples a incólume sorrelfa do in-audito, sem a terra como podem os corpos humanos estarem em trânsito, sem o mundo como podem as con-ting-ências do absurdo se elevarem e buscarem a espiritualidade do ser na pedra de toque angular dos trans-itivos diretos e indiretos? - simplesmente um vazio obtuso circun-dando a etern-idade, vazio de sibilos do vento, vazio das raízes da castanheira, vazio das náuseas do absoluto, vazio pleno do mundo.
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Se etern-idade houvesse, nada justificaria o nada, se o nada precedesse a etern-idade, de algum modo a etern-idade está à frente, próxima ou distante, a grande questão seria arrebitar o rabo e sair correndo atrás dela, nalgum buraco de mundo ou abismo encontrá-la-ia, tempo de só alegrias, de correr atrás dos pretéritos consumirem-se.
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Nada pode me levar de volta a menos que con-sinta, patenteie com solicitude. Não posso parar aqui, de modo algum, e não estou pronto para descarregar.
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Ventos de leste. Sibilos de sul. Porque seria pergunta mais que percuciente no trans-curso, percurso dos ventos a esperança é sempre a música idílica da perfeição que ad-mira as imperfeições por ser ela o verbo "in", o mover das coisas, brincando e saltitando com as circunstâncias, por ser ela o sorumbático das melancolias, nostalgias e saudades das meiguices insolentes do inferno.
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Se a etern-idade nadificasse angústias, náuseas, se nadificação houvesse na etern-idade, habitasse-lhe as pre-fundas, simplesmente simples a simplicidade de conjugar os verbos defectivamente para o ser preceder o não-ser, para a morte preceder a vida.
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Etern-idade não etern-iza o nada.
Nada etern-iza a etern-idade
Etern-izada a etern-idade, nadificada a nad-icidade.
Nadificada a etern-idade, etern-icizado o nada.
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Não,
Não é de minha intenção fundamental
Ser mito, ser lenda, ser legendário
Seja ele inspirado nos deuses gregos,
Seja de origem culta,
Quero apenas re-festelar-me nas margens
Do Rio das Pulgas,
Cogitar o mundo, o pensamento, a sensibilidade,
Não sou menino de recado, de mensagens,
Bruxo que desvenda os mistérios da existência.
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Se continuar chovendo, a barragem vai quebrar, posso afiançar sem qualquer temor e tremor de estar de sacanagem, para usar poucochito do coloquial, a categoria deve estar sempre nos trilhos. Se continuar chovendo, a barragem vai quebrar, e estou a cá pensando e cogitando como os transeuntes vão passar para a margem esquerda da barragem. Algumas dessas pessoas vão tirar-me, tudo o que podem tomar de mim vão levar, saltitando pelos becos a fora.
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Bem, trabalhei no dique, Amigo, noite e dia, só esporadicamente um tempo para suspirar. Trabalhei no dique, Amigo, noite e dia, olhando as nuvens neblinadas de além. Cheguei ao rio, joguei minhas roupas fora. Vejo tudo que sou, tudo o que desejo ser. Alguns indivíduos tem pele apenas para cobrir os ossos.
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Silêncio do nada. Silêncio do eterno. Ouço o silêncio do mundo. Se etern-idade houvesse, simplesmente simples a simplicidade do silêncio habitar o nada, quê delícia deliciosa ouvir as vozes do nada, declamando o soneto do deserto, em cujas semânticas e linguísticas o epitáfio da vida estaria plen-ificado de epígrafes da morte, espírito e alma, enchafurdado no inferno das metafísicas, nas psicanálises do inferno.
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Acordei esta manhã,
Ovos e bacon na minha cama,
E daí?! - enraizar-me-ei nas alegrias do coração
Algumas pessoas estão dormindo,
Algumas pessoas estão acordadas...


#riodejaneiro, 17 de dezembro de 2019#

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