#ERA UMA VEZ UMA VELA# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA



Nenhum vento úmido. Nenhum orvalho de amor.
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In-trans-itivos genesis. Era uma vez uma vela, feita de especial, excelente cera. Quem a fizera entregou-se por inteiro aos detalhes e ornamentos, desejava-a vela po-ética.
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Andara longe, distância incalculável, para encontrar um cordão especial. Desejava-a não só beleza, símbolo, signo, metáfora da estesia suprema, mas que real-izasse sua vocação sui generis, a de iluminar, a chama ser luz. Todo o carinho dispensado a esta vela mostrou ser maravilhosamente gratificante. Nascera, não há duvidar, uma bela vida. Depois de muito pensar, re-fletir, meditar, o artífice desta vela a presenteou. Colocou-a diante da porta de entrada de uma casa, ao lado de um vaso de orquídeas brancas, e foi embora, passos lentos na calçada, cabeça baixa, perdido na sua felicidade, alegria, contentamento de haver presenteado a vela que, com toda a dedicação, ternura, amor, artificiou. Alguém a encontrou e levou para dentro de casa. Contudo, diante de tanta beleza, acharam conveniente não colocá-la no castiçal sobre a mesa da sala de visita, acharam melhor guardá-la. Eis que a vela foi habitar dentro de uma cristaleira.
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Ficou ali por muito tempo, tempo inominável. Conviveu com taças de cristais francesas, porcelanas da China, e começou a amar ser uma vela apenas de enfeite.
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Certa noite faltou luz naquela casa, e todas as outras velas já tinham cumprido seu decurso, percurso. A vela surpreendeu-se com aquele fogo que saía dela. Por instante sentiu-se fascinada. Desejava que todos vissem que era com sua luz que a casa fora iluminada.
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Onde a luz de vela vive de dentro de sua fonte e age pela sua vocação de iluminar o espírito de estesias existe. Onde a espiritualidade da luz de vela se re-vela livremente o amor sincero medra os in-fin-itivos do ser verbo de esperanças e sonhos do eterno.


#riodejaneiro, 26 de dezembro de 2019#

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