EPIFANIA DA SOLIDÃO - MOMENTO DA VIRADA# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: FÁBULA DE ANO NOVO



Perpétuos ideais de verbos que evangelizem a vida, sonhos que iluminem os caminhos, esperanças que in-fin-itivem desejos, vontades... Perpétuos.
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Todavia, entretanto, são ideais, tão somente ideais, carregamos-lhos na mochila às costas con-ting-ências a fora; não sendo eles, o que seria da ec-sistência?
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Não sei o grau de sanidade de um homem quem, ombreando-se comigo, na calçada de uma rua, disse-me: "São muitos os mistérios entre o céu e a terra...". Talvez sério candidato à sandice, perdera nalguma alameda os sonhos e esperanças. Enveredou-se pelos mistérios entre os céus e a terra. Credito-lhe um méríto: procura e espera os sonhos nas pessoas, transeuntes, dizendo este lugar-comum, frase de efeito. Final de ano, os filósofos do nada saem à rua com as suas frasicas, frasetas, frasotas. Mais um crédito para o digníssimo homem; as frasetas fazem refletir. Quiçá nada há a re-fletir sobre a fala deste homem, re-flito-a eu para tripudiar com a solidão, desconsolo, desolação. O mais engraçado deste encontro fortuito foi haver eu parado, ficado olhando o homem que seguia seu caminho, não abordou mais nenhum transeunte. Por que a fraseta dirigida a mim? Não preciso que me digam destes mistérios: a vida são mistérios desde as tantas aos quantos.
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Sendo eu mais conhecido que notícia ruim, sabe das letras que trago escritas na cadernetinha dentro do bolso da camisa, as companheiras inseparáveis, quis que lhe dedicasse algumas. A cidade cochicha por todos os cantos e recantos o homem que se senta nos bares por todos os lugares, toma uma cerveja, branquinhas, e escreve em caderneta, agenda, papéis de cigarro, em silêncio, não dá atenção para ninguém, em silêncio sai, tendo no bolso o que escreve. Sou este homem. "Não sei a sua graça, mas o conheço por ombradas nas ruas."
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Não sabendo ou sabendo, a sua esperança com a fraseta era figurar na minha cadernetinha, para sempre estaria nela inscrita. Sua esperança de Ano Novo: a etern-idade nas letras de um escritor. A solidão faz coisas que até Deus re-flete nas suas caminhadas edênicas acompanhado de Immanuel.
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Poderia este homem ter entrado na Igreja do Tibira, estava a dois quarteirões de lá, ajoelhado, rezado a Deus por luz para o Ano Novo, abençoasse-lhe, protegesse-o , iluminasse-o; não o fez, escolheu-me para o eternizar nas letras com a sua fraseta: "Há muitos mistérios entre o céu e a terra" A missão é servir aos homens. Sirvo a este homem com a re-versa epifania da solidão. A esperança é a sua solidão. ,A minha solidão é a identidade. Os contrários se aderem no In-finito, onde todos os Anos Novos são símbolos, signos, metáforas do Genesis, princípio da Vida.
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Pensar nos mistérios entre os céus e a terra num final de ano, re-fletir sobre eles à luz da esperança do entre-laçamento de mãos entre os homens, suponho seja esta a mensagem do homem com quem me encontrei nesta manhã de 30 de dezembro: "A vida são mistérios sim, mas o sonho do verbo amar o outro é a estrela que guiará a humanidade nos Caminhos do Sublime."
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Quando se diz que o escritor, o poeta amam os homens, a missão é amá-los, não significa dizer que entende e compreende as suas falcatruas, mas sentem no peito a esperança de serem outros, sejam plenamente o perpétuo desejo das Inf-fin-itudes e Infin-idades. A vida mesma são verbos futurais do Ser. E só podemos os homens conjugar tais verbos, se inspirados no Amar-Sonho da In-fin-itiva Liberdade.
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São raios de sol que incidem em todas as rutilíneas linhas de desejos do Pleno, quando sentimos isto no coração, a luz da verdadeira vida.
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Ao homem com quem me encontrei, o meu grande abraço: "Aquele quebra-costelas de carinho e amizade...".
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- Feliz Ano Novo, São Muitos os Mistérios entre o céu e a terra... Quê esta fraseta seja-lhe amiga no decurso dos trezentos e sessenta e cinco dias que ad-virão.
#riodejaneiro, 30 de dezembro de 2019#

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