#BEM AVENTURADOS CHUVILHOS DE ALLAH# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA

Desde as sendas da montanha,

Onde a auto-estrada se dirige para as trevas,

De por baixo dos bem aventurados chuvilhos de Allah,

Vivemos distantes por mundos.

A verdade não é suficiente para amenizar as contingências,

As certezas não são capazes de anestesiar as dores,

As filosofias não abrandam as ideias, os ideais,

As religiões não pensam a fé, não sentem as esperanças,

As ciências não fazem o homem de sentimentos,

Nesta íngreme e problemática terra,

Árvores secas, solo trincado pelos raios solares,

Ossos de animais mortos de sede e de fome,

Tristeza, desolação, desesperança, angústia...

Assim vivem os arquétipos no Saara.

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No pulsar forte de nossos corações,

Os vivos nos deixem seguir nossos caminhos,

Antes que os mortos nos deixem separados,

Permitamos que o sangue artificie uma ponte

Que atravesse o mar, levando para outros lugares diferentes,

Encontrar-me-ei com vocês no cume da serra,

Diante as águas abertas a toda a visão da amplidão,

Adornadas de estrelas cintilantes,

Temos este instante agora em vida,

Depois tudo será poeira,

Redemoinho girando pós de poeira por todos os cantos,

Pássaros de ferro espalhando chamas de fogo nos campos,

Tudo serão trevas e escuridões,

Deixemos a Arte dar o que traz no seu espírito de vida,

Vamos consentir que a Arte dê o que tem para dar.

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Deito a minha língua ardendo de palavras e sons

Sobre as suas sombras, cicatrizes,

Com fervor, argúcia, quase mesmo com violência,

Mas quando olho dentro de seus olhos,

Estamos separados por mundos,

Provo o sêmen de seus gestos, atitudes,

Mas quando cogito nas suas utopias

Nossos corações estão distantes

Deixemos a Arte cuidar de nossos destinos,

Levar-nos nas asas dos sonhos.

#riodejaneiro, 19 de dezembro de 2019#