RES-POSTA AO COMENTÁRIO DE ELIZABETE REGINA GARCIA DE MELLO AO AFORISMO 635 /**TRESANDADA DESOLADA**/





Muito nome divertido...
Mentir verdades é SER verdadeiro para SI; entre o invisível e surreal do mundo!
Mundo imaginário dos eus destemidos dentro de cada silenciosa versão de uma nova história!


Elizabete Regina Garcia De Mello Mello


Uma obra de eminência erudita, filosófica, intelectual prescinde de leituras percucientes para a sua interpretação, análise, pontos de vista, caso contrário revela-se um vazio, um abismo incólume e insofismável entre as intenções da criação e o inter-dito da obra criada. Georges Clemenceau, conforme o post apresentado como fundamento do comentário, diz ser mais difícil manejar o silêncio que a palavra, o que certamente é uma verdade indubitável; mas, na crítica literário, no comentário, faz-se mister a síntese do silêncio que habita a obra e da palavra a ser expressa sobre este silêncio, manejá-los com excelência. Assim, penso e sinto ser mister inter-ferir nas interpretações, resguardando a sua integridade. Em verdade, não há qualquer fresta ou frincha para visualizar o tema ou temática sobre a "Mentira". Em verdade, este texto, em duas partes, fora inspirado em duas dimensões: na música de Bob Dylan, DESOLATION ROW, e o filme ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE, estrelado por James Dean e Gregory Peck. O texto discute, apresenta dois prismas, o Mito e a Realidade. Os mitos aparecem como antecedentes que ajudam a entender os acontecimentos. Se não antecedem o entendimento dos acontecimentos servem à alienação, ao vazio, à construção do mesmo. A realidade se mistura ao mito, como o mendigo bêbado sentado no meio fio da calçada, num monólogo eufórico sobre a pobreza e a morte, que eu próprio assisti num boteco de Curvelo, numa noite pós chuva. Isto ao longo do tempo se torna lenda, mito. Tresandada se tornou uma cidade vazia, alienada por conservar e preservar mitos, lendas, folk-lores, e desse vazio adveio a desolação, perdida no mundo das coisas e dos objetos, Tresandada é uma cidade Em-si, uma cidade mesmada, entupigaitada do mesmo - os mitos e realidades folk-lóricas que poderiam ser outro caminho para re-in-corporar a vida, estabelecer o histórico, extinguiu o tempo e o movimento, não assumiu a trilha da interpretação universal, caminha para o abismo impreterível, nada havendo que mude, pois que a sociedade de Tresandada não credita qualquer fé na cultura que trans-forma os caminhos, modifica os destinos. A sociedade tresandada não mente a si mesma, em verdade nem sabe o que é mentira, perdeu a percepção, a intuição, a consciência da Vida, das contradições, dialéticas, do sofrimento e da dor. Ressalte-se que Mito não é Mentira e Mentira não é Mito, como o senso comum pensa. Tresandada é a cidade mineira de Curvelo, um povo eminentemente alienado, inconsciente, vazio, um nada obtuso, à esquerda. A intenção da obra fora mostrar o vazio em que acobertou, gerando o Mesmo, a Mesmidade, o inter-dito que se compôs é a responsabilidade de cada indivíduo com a sua História, com os caminhos que traça e marca, como bem o diz Walter Benjamim, filósofo da Escola de Frankfurt, "O homem se torna responsável por sua História". O folk-lore, o mito e a lenda não são em quaisquer hipóteses o prenúncio de uma Nova História, do Novo Homem, ao contrário, constituem o fim, nada restou(resta) do homem de Tresandada, restaM apenas as suas estruturas de alienação, inconsciência.


Manoel Ferreira Neto


#AFORISMO 635/TRESANDADA DESOLADA - I PARTE#
GRAÇA FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Brás Cubas mexe-se e remexe-se na sepultura, irritadíssimo, os carros de propagandas comerciais, som no último volume, que passam à porta do Campo Santo estão lhe tirando a atenção na escritura de seu memorial póstumo.


Macunaíma, deitado na rede, com sua eterna preguiça, ouve na emissora de rádio "Eu não sou cachorro não", com Waldick Soriano, olhando disperso para o casal de maritacas na galha do abacateiro, quietinho, quietinho.


Reitor da Faculdade de Administração, na sua Biblioteca particular, prato com restos de comida à frente, ao lado de um livro de Contabilidade Comercial, gira e gira o revólver no dedo indicador da mão direita. Abre uma gaveta, tira uma bala, coloca no revólver, dá um tiro em direção à porta. Cruza os braços sobre a mesa, esconde a cabeça neles.


Cinderela, no tanque de lavar roupas, enche um balde com água, põe sabão em pó, mergulha seu vestido longo branco, ouve as galinhas alvoroçadas no galinheiro, o galo está desvairado. Sai de perto do tanque, senta-se na rampa, fica olhando os garotos jogando bola na rua.


Professor de Física, na hora do recreio dos alunos, está em pé no meio do pátio, caneta nos lábios, perscrutando na mente uma fórmula de Gravitação Universal. Einstein na sala de pesquisas da universidade toma um suco de maracujá sem açúcar, disperso no quatro-negro entupigaitado de cálculos. Há um erro crasso num dos cálculos que ele não identifica, perdido que está com o sabor do suco de maracujá.


Presidente da Repúlica, em sua cela presidiária, lê um gibi de piadas picantes, vertendo lágrimas de tanto rir, a garrafa de whisky escocês está pela metade, só há dois pedaços de frango à passarinha no prato. Sairá da cadeia, seus bens restituídos, rirá na cara do povão. A justiça política é digna e honrada.


O vendedor de fumo de rolo, com sua banquinha frente à igreja, cotovelos sobre o joelho, pernas abertas, gira o chapéu de feltro puro, lembrando-se da pescaria com os amigos no final de semana, comeram carne assada e beberam conhaque, regados a causos de adultério, falências empresariais.


Aposentados, sentados na porta do cine-teatro, conversam alegres e saltitantes sobre as mazelas e pitis humanos, a humanidade está no fim do abismo. Trabalharam honestamente, adquiriram seus bens, a família está criada, podem morrer tranquilos e serenos.


A jovem estudante, acompanhada de seus amigos na lanchonete frente à prefeitura, toma sorvete de chocolate. Com a boca cheia, responde a pergunta da amiga, cuspindo chocolate. As mochilas de livros e cadernos debaixo da mesa, sobre as cadeiras.


Simão Bacamarte, na sala de estar da Casa Verde, nega peremptoriamente todas as suas teorias sobre a alienação, ouvindo no aparelho de som As Quatro Estações do Legião Urbana. Perscruta silenciosamente um quadro de Van Gogh, o par de botinas velhas, suspenso na parede.


Padre Cavalhaes, na sua sesta do almoço, bem à vontade na cama, de cueca, lê Elogio à Loucura, lembrando-se de Padre Argel sendo levado em camisa-de-força para o manicômio. A fiel, Amélia dos Santos, totalmente pudica, com ela se preocupava, no confessionário disse-lhe que ainda usava cinto de castidade, seria enterrada com ele. Outro fiel, Pedro Quatro Olhos, confessou-lhe que em treze anos de casado, nunca tocou um dedo em sua mulher. Não compreende como pôde ter tantos filhos, e a mulher está grávida. Deixa o livro sobre o criado-mundo, vira-se para o canto, dorme.


A primeira dama de Tresandada, conhecida como "A Bonequinha", por se vestir elegantemente, está com os braços cheios de sacolas, voltando para casa, após uma tarde de compras. Vai passar um mês na Suiça com o marido.


E o professor de Literatura Brasileira con-templa na página do livro de Guimarães Roa uma frase: "O que tem de ser, tem muita força". A filha de nove anos, deitada na poltrona, lê Ilusões Perdidas, de Stendhal. A esposa prepara os pães de queijo do lanche da tarde, ouvindo 'Coração de estudante", de Milton Nascimento.


Uma obra de eminência erudita, filosófica, intelectual prescinde de leituras percucientes para a sua interpretação, análise, pontos de vista, caso contrário revela-se um vazio, um abismo incólume e insofismável entre as intenções da criação e o inter-dito da obra criada. Assim, penso e sinto ser mister inter-ferir nas interpretações, resguardando a sua integridade. Em verdade, não há qualquer fresta ou frincha para visualizar o tema ou temática sobre a "Mentira". Em verdade, este texto, em duas partes, fora inspirado em duas dimensões: na música de Bob Dylan, DESOLATION ROW, e o filme ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE, estrelado por James Dean e Gregory Peck. O texto discute, apresenta dois prismas, o Mito e a Realidade. Os mitos aparecem como antecedentes que ajudam a entender os acontecimentos. Se não antecedem o entendimento dos acontecimentos servem à alienação, ao vazio, à construção do mesmo. A realidade se mistura ao mito, como o mendigo bêbado sentado no meio fio da calçada, num monólogo eufórico sobre a pobreza e a morte, que eu próprio assisti num boteco de Curvelo, numa noite pós chuva. Isto ao longo do tempo se torna lenda, mito. Tresandada se tornou uma cidade vazia, alienada por conservar e preservar mitos, lendas, folk-lores, e desse vazio adveio a desolação, perdida no mundo das coisas e dos objetos, Tresandada é uma cidade Em-si, uma cidade mesmada, entupigaitada do mesmo - os mitos e realidades folk-lóricas que poderiam ser outro caminho para re-in-corporar a vida, estabelecer o histórico, extinguiu o tempo e o movimento, não assumiu a trilha da interpretação universal, caminha para o abismo impreterível, nada havendo que mude, pois que a sociedade de Tresandada não credita qualquer fé na cultura que trans-forma os caminhos, modifica os destinos. A sociedade tresandada não mente a si mesma, em verdade nem sabe o que é mentira, perdeu a percepção, a intuição, a consciência da Vida, das contradições, dialéticas, do sofrimento e da dor. Ressalte-se que Mito não é Mentira e Mentira não é Mito, como o senso comum pensa. Tresandada é a cidade mineira de Curvelo, um povo eminentemente alienado, inconsciente, vazio, um nada obtuso, à esquerda. A intenção da obra fora mostrar o vazio em que acobertou, gerando o Mesmo, a Mesmidade, o inter-dito que se compôs é a responsabilidade de cada indivíduo com a sua História, com os caminhos que traça e marca, como bem o diz Walter Benjamim, filósofo da Escola de Frankfurt, "O homem se torna responsável por sua História". O folk-lore, o mito e a lenda não são em quaisquer hipóteses o prenúncio de uma Nova História, do Novo Homem, ao contrário, constituem o fim, nada restou(resta) do homem de Tresandada, restam apenas as suas estruturas de alienação, inconsciência.


(**RIO DE JANEIRO**, 15 DE MARÇO DE 2018)


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