MARIA ISABEL CUNHA ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA ENSAIA O AFORISMO 618 /**LÂMINA DO VENTO**/



Lâmina do vento, do tempo, dos dogmas. O autor é percursor, ele quer liderar, não um rebanho, mas os que o querem seguir na trilha do infinito. Considera-se infinito, porque viverá para além da vida. Apenas acredita neste dogma, ser eterno na memória, mas isto exige muito trabalho e dedicação e alguns desistem presos em atalhos e becos, incapazes de dar o salto, na direção certa, a do infinito. Não crê em religiões nem preceitos, apenas na investigação do seu eu e daquilo que o cerca e nessa pesquisa, labuta arduamente, a fim de levar os carentes da Verdade ao Infinito. A pintura magistral como o texto, em jeito faraónico a testemunhar a intemporalidade e a eternitude.


Maria Isabel Cunha


Disse-lhe há poucos instantes, Maria Isabel Cunha, haver você sido o mais feliz nesta crítica sua ao meu Aforismo "LÂMINA DO VENTO.". Explico-lhe aqui o mais transparente. Os escritores, poetas, cientistas, artistas em geral de todos os séculos e milênios realizaram suas obras fundados e fundamentados nos homens que careciam de horizontes e uni-versos, de sonhos e esperanças, de utopias e projetos, das HUMANIDADE DO SER, os que desejavam e aspiravam a Vida na sua dimensão da Verdade, mesmo sob as perspectivas da In-verdade, contradições, dialéticas do Ser. Consideraram-se infinitos, porque viveriam para além da vida. Só acreditaram neste dogma: ser eterno na memória. Tornaram-se eternos, póstumos, pósteros, imortais, porque os homens carentes tornaram-se plenos com suas idéias, pensamentos, sonhos e esperanças. Na Literatura Moderna, neste tempo de todos que pensam, sentem, saltitam ser escritores, poetas, cientistas, não há mais isto de as obras preencherem as carências e ausências da humanidade, mas terem seus adeptos, seguidores, álibis nas vaidades da importância, da fama, do sucesso, assim devem andar em bandos, devem ser ovelhas de rebanho, mas são incapazes de saltos na direção do Infinito, na direção do Eterno. Servem apenas a este tempo de hoje, amanhã nada mais serão.
Não quero liderar rebanhos, aliás jamais o faria, sou o in-verso das utopias do ridículo e do nonsense, sou o re-verso dos desejos e nonadas desta humanidade perdida e Sem Ser, Ausente de Vida, não estou preso, não sou escravo de atalhos e becos, sou In-vestigação da Verdade do Eu, do SER-DA VERDADE.


Manoel Ferreira Neto


#AFORISMO /LÂMINA DO VENTO#
GRAÇA FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Tergi-versado de percuciente
sentido e perspectivas,
persigna-se o nada,
ininteligível,
inconcebível,
inimaginável à fé
que em seu alforje traz dentro,
que em sua algibeira traz guardada,
que em seu cantil traz represada,
frente ao uni-verso
que se lhe apresenta
sem arribas e algures,
vazio de linha à entrelinha do espaço.


Persigna-se,
não debulha as contas do terço,
em verdade não conhece terço,
nem reza,
não sabe única palavra de alguma oração,
quem lhe segue não carrega terço,
não reza,
estas "cositas" não lhes serviram de nada,
não lhes deram qualquer resultado,
nas suas trilhas seguem a jornada ao Infinito;
não degusta palavras nas páginas de livros
pagãos, hereges, proscritos...
em verdade não conhece a leitura,
nada lê,
se depender de leitura para viver,
considera-se morto desde então.


Persignou-se
diante do uni-verso sem arribas e algures,
sem quês ou porquês,
por muitos lhe estarem seguindo,
convictos e cônscios
de que chegarão ao destino In-finito,
precisa das arribas e algures para a viagem,
são eles a sua bússola.


Persignou-se,
nadificando medos e tremores
de desvirtuar seus seguidores,
tornarem-se eles Perdidos no Espaço,
confusos no Túnel do Tempo,
alucinados nas Lâminas do Vento,
Ceifando milharais de paixão,
Redemoinhando poeiras de íngremes metafísicas,
Areias reflexivas do deserto,
é enorme,
imensa a sua responsabilidade,
medrosos na Terra de Gigantes.


"Quê estupidez a minha!" Nada que sou, nada que re-presento, não dependo do uni-verso, sou livre, confins e algures crio-lhes, invento-lhes, mesmo que as veredas sejam outras, o In-finito seja mais distante, chego lá com os meus seguidores, cumpro a minha missão com categoria e excelência. Ademais, os seguidores se sentirão mais alegres e felizes por vislumbrarem outras paisagens, paisagens mais fascinantes, mais deslumbrantes, inclusive re-colhendo-as e a-colhendo-as, re-fazendo as esperanças e os sonhos, re-novando sentimentos e emoções. Chegando ao In-finito, após o banquete de recepção e confraternização, carne de ovelha assada, regada a Absinto, segue cada um o seu próprio rumo, a etern-idade é de cada um. A etern-idade jamais foi para rebanhos, cada um cria a sua conforme suas esperanças, utopias, sorrelfas, idílios, fantasias, quimeras.


Engraçado: por que o uni-verso se me apresentou sem arribas e algures? Pergunta imbecil. Sei perfeitamente a resposta. Deus e Mefistófeles estão rasgando verbos contra mim, os defectivos então não são apenas rasgados, mas incinerados, alfim estou desvirtuando os seguidores do paraíso e do inferno, estou lhes encaminhando em vida, nas chamas de todas as con-ting-ências, ao In-finito, paraíso e inferno estão se esvaziando, no futuro serão apenas museus metafísicos. Não seria esplendoroso se a metafísica tivesse um corpo, tornasse-se peça de museu, entrar no Museu das Metafísicas e con-templar as efígies de todos os milênios e tempos. Quem ama de paixão museus e patrimônios são os insofismável e incolumemente destituídos de alma e espírito. Deus e Mefistófeles estão equivocados, não preciso deles para nada, sou livre, faço o que quero e quero o que faço. Castigo de deuses é do tempo do Zagaia. O vazio e o efêmero não pensam e sentem assim: tremelicam de medo de algum castigo de Deus e Mefistófeles. Não eu. Sigo em frente.


Voltando aos lobos da estepe. A etern-idade é de cada um. Sempre que posso, nalgum a-núncio de curva do espaço, digo-lhes para memorizarem as paisagens que se lhes re-velam, serão grãos da íntima e individual etern-idade. Ouvem-me com percuciência. O mais triste para mim é deixar os seguidores no banquete, aprendi a amá-los, nutrir imenso carinho e ternura por eles, a viagem ao In-finito não é simples, tem as suas intempéries, alguns seguidores tem sérias crises de angústia, tendo de retornar ao mundo das contingências, não nasceram para a coisa, esperar outros seguidores, perambulando, vadiando por becos, terrenos baldios, presenciando boêmios e bêbados, poderosos e fracassados vociferando contra dogmas e preceitos, leis e cláusulas, a vida para eles é a morte nua e crua, despida de quaisquer ornamentos ou arrebiques.
Vendo-me a vadiar, pedem-me abrigo e afago, ofereço-lhes a viagem ao In-finito. Alguns fazem a mochila: "Bora ao In-finito".


Sou eterno, a minha etern-idade é muito trabalho, labuta árdua: levar os carentes da Verdade ao In-finito."


(**RIO DE JANEIRO**, 03 DE MARÇO DE 2018)


Comentários