#AFORISMO 610/DIVINA SINFONIA DO INFERNO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA(TÍTULO: #DENTRANDO SONHOS E SONO#)//ARTE ILUSTRATIVA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO



#CENA I:#


Quem sois vós?
Vós - ah, quem sois?
Sois quem - vós?
Quem vós - sois?
Vós sois - quem?


Sou o ser da carne de verbos
que à luz das etern-itudes
do efêmero
res-plandece horizontes e uni-versos,
esplende confins e ad-jacências,
sarapalha arribas e cafundós,
espalha nuvens e distâncias,
estrelas e longínquos,
sapateia nonsenses,
sugando as nuanças do tempo,
alimentando de seivas
do absoluto
os interstícios do desejo do pleno,
saboreando o néctar das sorrelfas do estar-sendo,
preenchendo os cofres inconscientes da alma
de pretéritas pitibiribas do imortal;
do eterno,
os recônditos da esperança da Verdade,
Fantasmaticamente fantástico...


Sou os verbos de carne
que no crepúsculo pálido de sábado de aleluia,
no silêncio da cozinha de fogão de lenha,
sombras cinéreas no ladrilho do alpendre,
O cajueiro tendo dado muitos frutos,
Cajus deliciosos,
perquire do instante-limite a ampulheta do tempo,
quantos grãos de areia passam-lhe na garganta,
num milésimo de segundos,
in-vestiga do aqui-e-agora os estados d´alma,
se nostalgia ou simplesmente um devaneio,
A ideia do infinito,
o transbordamento do pensamento finito
pelo seu conteúdo,
efetua a relação do pensamento
com o que ultrapassa a sua capacidade,
com o que a todo o momento
ele apreende sem ser chocado.


Sou subjuntivos pretéritos do efêmero que, no ocaso dos instantes-limites, con-templam as arribas do in-audito, vislumbram o frontispício da aurora, quando no des-vorecer do arco-íris de cores vivas e hiper brilhantes perdem a hegemonia, e no crepúsculo do verbo ser recitam o cântico da fé ao verbo do absoluto que nas bordas do ser suspira de anseios do belo, da beleza; sou de solstícios pretéritos perfeitos que, no sem-face dos momentos-interditos, perscruta o mais profundo de uma caverna olvidada nas delongas do tempo, perquire o andar de um gafanhoto na parede da janela, ao lado de minha alcova.


Somos verbos do ser que,
ao longo das alamedas dos sonhos,
becos sem saída das ilusões perdidas,
no terreno baldio das almas vazias,
são o eidos das esperanças
do eterno de sabedorias e conhecimentos,
o Ser pode atuar como veritativo,
nos processos de valoração ontológica
em que o verbo Ser,
numa relação metalinguística veridicacional
que faculta a esse verbo significar
a verdade de uma proposição.
assim construindo a leveza do espírito,
a humanidade do ser,
sob a luz do alvorecer, antes do a-núncio do sol,
a alma re-fazendo-se,
re-fazendo-se de ex-tases e volúpias,
re-novando-se de sentimentos e emoções,
bailando ao som do vir-a-ser,
dançando ao prazer de serenata
do estar-sendo,
será face do sublime,
será rosto da beleza do belo,
será imagem da pureza
Na moldura do eterno,
Na tela do incógnito, incognoscível.


Somos o silêncio, a solidão da alma nos interstícios dos pretéritos que rogam a flor de cactus, vida agitada, clamam os lírios do campo, o silvestre dos pampas, a leveza das estrelas cintilando o auspício das montanhas, a simplicidade da lua alimentando os solitários corações com o romantismo da entrega sensível e plena do amor.


Sou as querenças da plen-itude,
do amor que, em todas as suas
dimensões trans-cendentes,
e con-tingentes,
alumiam as nonadas das melancolias,
nostalgias,
as travessias das angústias,
tristezas,
mata-burros das saudades,
vazios,
cancelas do nada
das nonadas,
a vida são as ribaltas do encontro,
da entrega,
da felicidade.


Somos o deserto dos mistérios e enigmas do sendo na continuidade das re-fazendas e re-nascimentos sempre à luz do nunca-jamais, perscrutando as miríades do perpétuo(anti-além do perene nada)...


#CENA II#


Quem - vós sois?
Sois quem - vós?
Vós sois - quem?
Vós - quem sois?
Vós sois - quem?
Quem vós sois?


Quem sois vós?... Na manhã de luzes e pré-núncios, saudar o místico momento da fresta no horizonte imortal e divino da lua na noite calada, infinito do uni-verso numinado de “harmonia de cores”, sin-cronia de traços a pincelarem imagens geminadas, sin-fonia de imagens a res-plandecerem de beleza as sendas perdidas, signos de esplendor e eterno nos liames do espírito, desde o sentir do sono, do êxtase, desde o sonho ao sono, instante de sedução, brilho das estrelas e da lua, “pedras sagradas”, cristais, diamantes e ouro que rimam palavras sutis com o éden de luzes e lilases, inspiradas na rede que balança nas gerais “utopias existenciais”.


“A sina de ser”, o destino de cont-ingenciar o quotidiano, o elo de todas as coisas, flores são espetáculos da natureza, liberdades, cenas eivadas de ternura e carinho, "instante de sedução”, querer brincar com estrelas, correr campos, velejar, beber a sede das ruas, queimar a luz do luar, marejar as faltas e ausências, degustar o sabor das maçãs, lavrar o corpo no grito, enrolar cigarro de palha dos devaneios, desvarios, tragar e expelir a fumaça das fantasias.


Signo de metáforas
nascidas de vigília
e palavras a pincelarem
imagens do imortal
e divino
a preencherem os vazios
da falta de ser,
"manque-d´être”,
da ausência de alegria
e prazeres,
pedras sagradas,
diamantes profanos
que rimam palavras sutis,
que ritmam dores,
melodiam metáforas hiperbólicas,
são sentimentos de luz
inspirados no brilho
das estrelas
e da lua mineiras(esquecê-las? Jamais.
Quem as conhece, evidentemente).


A chama da lareira, fora de mim, ganha e traduz coisas que ainda não conheço, o desejo de fazê-lo existe latente, a fissura por ornamentá-lo, não há palavras para descrever, saber-lhe ao estilo de sussurros a diferença entre ser e ec-sistir, se é que se possa acreditar haja alguma...


Se re-conheço conhecê-las, revisto-as de espaço interno, espaço que tem seu ser em mim, que tem seus vazios nos labirintos de mim, que tem seu sentido em mim, que me habitam o mais íntimo e profundo, que me residem os cofres da inconsciência; cerco-as com sentimentos de agressividade e violência, revolta e ressentimento, rebeldia e rancor.


Não têm limites, não se tornam realmente conhecimento senão quando se ordenam no coração de minha renúncia, no âmago de minha indiferença, no seio de meu desprezo, nos olhares críticos, cínicos, sarcásticos, irônicos, enviesados na presença do absoluto de todas as coisas, na verdade de todos os sonhos e utopias, na incólume certeza do eterno e efêmero.


Através de mim, alçam vôos as palavras de mim, palavras que re-colhem e a-colhem a presença da chama, a chama que em mim cresce, as águas que me impulsionam a re-fletir a plen-itude, a peren-itude da vida na experiência do verbo do amor, na vivência do amor pelo verbo por vir carne.


Flores,
folhas secas;
tristezas,
melancolias,
nostalgias plenas,
nada.


Se é que se pode acreditar os horizontes se perderam no abismo do tempo, os universos mergulharam ipsis verbis na imensidão dos pretéritos do não-ser, mister olhar de banda na direção do infinito as sorrelfas que se esvaecem simples na passagem de ventos de leste, sentindo nos interstícios da alma o vazio, o ipsis do nada, re-colher e a-colher o silêncio nítido e nulo que paire solene nos perenes sítios do azul celeste, deambular, perambular nas margens insípidas das estradas, dormindo ao léu do chapadão, acordando com o trinado dos pássaros, a sonora fresta da natureza, prosseguir a jornada de sem beiras e eiras, sem pórticos partidos para o impossível.


Vida ser o inaudito do não-ser - quê litteris desolação, quê ipsis desconsolo!...


(**RIO DE JANEIRO**, 01 DE MARÇO DE 2018)


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