#GRAÇA FONTIS, PORTADORA DA ALEGRIA - UMA CONSIDERAÇÃO SOCIOLÓGICA AO POEMA "FILHOS DA TERRA"#




A poesia de caráter social possui as suas características de ordens outras, por mim denominada "poesia sociológica", que não se concilia a narração dos fatos, acontecimentos, a descrição criteriosa das situações e circunstâncias. Não refuta as coisas reais, não negligencia a realidade, mas, no caráter de observação do mundo, as suas dimensões de violência, arbitrariedade, desrespeitos aos indivíduos, ausência de ética, moral, arbitrariedade, gratuidade com os homens, mas intensifica inda mais o sensível do poeta, fá-lo registrar os seus sentimentos de revolta, de ódio, aguçando-lhe a humanidade do ser. Graça Fontis reside na cidade mais violenta do Brasil, Rio de Janeiro, onde todos os direitos estão sendo desconhecidos, o direito à vida, então, ninguém mais o possui, mata-se para ver o sangue correr, para aumentar o poder dos bandidos. A realidade social carioca está aos frangalhos, os cariocas a cada minuto regando o medo, a revolta, escravos da violência. Sendo a poetisa sensível, humanista sente-se responsável por dar a sua contribuição humana. Todos os sentimentos, emoções, desejos, vontades, esperanças de uma vida digna, sonhos de liberdade, os cariocas resgatarem os seus direitos à vida, à paz, estão presentes e com toda a pujança. No final do poema, revela-se uma das características fundamentais da Poesia Sociológica, a "Mensagem Social"; "Catem o portador da alegria/E doutrinem-se na vontade./Ai mesmo que perdido/Um novo caminho vislumbrará." "Portador da Alegria" é metáfora da esperança de transformação desta realidade desumana, esperança de os direitos serem resgatados, recuperados, reconstruídos, todos somos "Filhos da Terra", e somos merecedores de respeito, amor, reconhecimento como seres humanos. Devem todos, eivados desta esperança, munirem-se da "vontade" de mudança, de virem além do aqui-e-agora, do instante-limite outros horizontes, outras realidades, entregarem-se verdadeiramente a ela, ser ela a porta-voz de outro mundo, outra realidade, a vontade é a pedra angular da liberdade. E os últimos versos: "Ai mesmo que perdido/Um novo caminho vislumbrará" faz lembrar Che Guevara com a sua imortal frase/mensagem "É preciso ser duro, mas sem perder a ternura, jamais..." Os homens devem lutar com todas as suas forças para a reintegração social, mas sem perderem a sensibilidade, ou seja, a dimensão humanística. É uma chamada sui generis marxista: "Juntos venceremos;" A poetisa e mulher convoca a todos a se unirem contra a violência, todos os modos de desrespeito ao Homem, ao Indivíduo, à Humanidade. Além desta dimensão mensagística da poetisa, lê-se no corpo de estrutural poético de FILHOS DA TERRA o convite aos poetas para se engajarem nesta luta a favor da Liberdade, do Respeito ao Homem, à realidade social. Muito pouco entendo de Poesia Sociológica, mas o que arranquei de dentro do poema de Graça Fontis traz no seu bojo a dimensão humanística, merecendo ela os meus cumprimentos e respeitos por seu engajamento no social. Noutros poemas sociológicos, Graça Fontis revela o eidos de sua sensibilidade poética, o SOCIAL. Na Poesia Sociológica é que ela encontra a alma de seus dons poéticos e humanísticos. Parabéns, Poetisa, Escritora, Crítica Literária!


Manoel Ferreira Neto


#FILHOS DA TERRA#


GRAÇA FONTIS/POEMA E PINTURA


Em todos os tempos
Sentimentos,
Pontos de contactos
Claridade e visão real
Próxima ao clarão
Da compreensão
E plenitude
Do que há ao derredor
Na abundância da terra,
Desta terra inviolável
E sagrada
A instar-nos ao aprofundamento
E na sabedoria afortunada
Que nos glorifica
A síntese das delícias
Do ar puro e transparente
Sorvido como polpa doce.
Neste caminho efêmero
De rosas e atrocidades
Sequências de tempestade e porto
Calando-nos ao lançar dos olhos
A retenção das lágrimas
Neste eco de lutas e vitórias
Tanto espirito, tanto corpo
Convertem-se pela ignorância
Descaminho, sofrimentos
E muitas transformações.
Sem que a virtude desvie-se
Catem o portador da alegria
E doutrinem-se na vontade,
Ai mesmo que perdido
Um novo caminho vislumbrará.
No ardor
- sol do meio-dia.


(**RIO DE JANEIRO**, 17 DE MARÇO DE 2018)


Comentários