ANA JÚLIA MACHADO CRÍTICA LITERÁRIA POETISA E ESCRITORA POETIZA O AFORISMO 609 /**PARTES DO MEU EU**/



Neste excelente texto, do escritor Manoel Ferreira Neto, em que verbaliza as partes do seu eu, que nem ele compreende, e com certeza todos nós... uma coisa certa, poeta é de certeza...por isso faz estas questões... quem não é poeta nem tão pouco reflete sobre o seu "eu". Eu diria que o
Eu… o eu é complicado de definir
Posso dizer que sou concluída de
Quimeras suspensas
minuciosidades inobservadas
querenças danosamente resolutas.


Que sou concluída de
Prantos sem possuir causa
criaturas no espírito
feitos por estímulo.


Sinto falta de
Lugares que não conheci
experiências que não vivi
momentos que já esqueci.


Eu sou
Querença e amizade inalterável
alheia ainda o suficiente
não sossego por um momento.


Possuí escuridões desgraçadamente não descansadas
desperdicei criaturas muito prezadas
acatei realidades não destinadas.


Deveras ocasiões eu
Renunciei sem mesmo arriscar
cogitei em abalar, para não encarar
ri para não gotejar.


Eu sofro pelas
Realidades que não inovei
benquerenças que não granjeei
aqueles que eu achei
realidades que eu pronunciei.


Possuo nostalgia
De criaturas que fui percebendo
reminiscências que fui abandonando
afeiçoados que concluí desperdiçando
Mas permaneço habitando e descobrindo.
Se alguma vez vou perceber o meu “eu” e o que
Efetivamente sou… talvez não…
Só sei que tal como o escritor, vou pensando, puxando um
Cigarro e ver a fumaça a fugir, como com certeza o meu eu um dia fugirá
Sem nunca o ter entendido….
Parabéns, à grande Artista Plástica e amiga Graça Fontis. Beijinhos.


Ana Júlia Machado


#AFORISMO 609/PARTES DO MEU EU#
GRAÇA FONTIS: PINTURA(TÍTULO: #DENTRANDO SONHOS E SONO#)//ARTE ILUSTRATIVA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Às vezes penso em mim,
em todas as partes do meu “eu”,
esse meu “eu” que nem eu mesmo
compreendo em sua extensão de eu.


Ai pudesse eu ser
todas as partes juntas do meu “eu”,
todas concatenadas em várias partes de mim,
todas reunidas em diversos ângulos de mim,
todas comungadas em inúmeras dimensões de mim.


Sou o ônibus que rasga a avenida rumo a algum lugar,
levando os passageiros ao seu destino,
sou o escritor que diz não de si, mas de outro
sempre à procura de si.
Nó górdio no riste da língua.
Não tem sentido falar de si. O melhor é falar
dos outros tentando mudar os outros...


Ideologia, utopia!
Sou as cenas vistas,
todas tendo um tempo marcado,
nunca entrando em pormenores psicológicos,
perspectivas psíquicas,
apenas mostrando uma interpretação,
entenda quem quiser...
apenas de-monstrando uma verdade,
mister dentrar-lhe nas entranhas.


Eixo sintagmático, paradigmático r.r.r.r.r.r.r.r.r.
Nunca sou “eu” realmente... O meu ”eu”
impede de ser
as ruas por onde ando, vendo edifícios,
arranha-céus,
os bancos de praças públicas, onde me sento,
observo os transeuntes,
homens, mulheres, pedestres, lésbicas,
homossexuais... Seres humanos!


Sou o cigarro que fumo, soltando fumaça,
perdendo-se no ar.
Não sou poeta,
nunca quisera;
o poeta diz coisas que, no momento,
não consigo dizer.


Apenas estou, aqui, tentando expressar
alguma coisa de mim mesmo,
do meu existencialismo.
O escritor conta estórias
tiradas não de si, mas da região escura de si mesmo,
e nunca sabe o que diz;
às vezes, se perde no enredo por si próprio esboçado,
nunca seguido.


Ai de mim...
Tic tac tic tac tic tac tic tac
O pêndulo do relógio bate incessantemente.
Estou longe do barzinho da frente,
do estacionamento de trás,
da realidade de lado.
Estaciono nas linhas que, agora, traço.


Rumo ao infinito de toda existência
pré-estabelecida.
Normas, valores,
idade da razão, razão de ser apenas isso:
um homem.


Sensacionalismo... À minha frente,
a parede verde.
Meus olhos se perdem no verde da parede
à minha frente!
Não preciso de óculos para enxergar.
Meus óculos estão dentro de minha mente.
Alguém me prometeu pintar um quadro,
mostrando-me a fisionomia de mim
e os óculos dentro de minha mente.


Sou o elemento mediador dessas quatro paredes
ao meu redor.
A parede é... O quarto é... Tudo enfim é... Apenas
estou tentando ser
algo de mim mesmo nos dedos que datilografam
versos sem rima, sem ritmo, sem forma;
modernas são as linhas que traço
apenas para dizer que, neste momento,
estou compondo um poema,
um poema que não diz nada,
Entretanto, o que nada diz
Traz nas suas entranhas o que ser
Olhado, in-vestigado, avaliado.


Não sou poeta,
nunca quisera!
O poeta sente as próprias linhas que traça,
o sentimento que vai por detrás dele,
em frente a ele,
ao lado dele.
Consegue, em poucas linhas, expressar
toda uma sensibilidade
que, talvez, ele mesmo desconheça.


Ontem estive pensando seriamente em tudo,
em todas as coisas;
assustei-me ao ver que a realidade não existe.
Existe, apenas, um corpo que vaga,
que paira no ar,
que entra por um vaso sanitário,
que perde o “eu” e vai atrás dele,
como se fosse um seu amigo de ontem,
de hoje, de sempre,
mas não deixa nenhum endereço para correspondência,
nenhum e-mail para contato,
Volta para casa e se tranca de novo... Meses após,
é encontrado num caixote de lixo
pelos funcionários da limpeza pública.
Um outro corpo que vai, ao cemitério,
visitar a si mesmo
e entra em fase retrospectiva
e se acha de novo, frente a sua sepultura,
dizendo apenas adeus,
pois precisava cuidar de si mesmo.
Sai do cemitério sem olhar para trás,
sem mesmo se lembrar que uma parte de si
está morta... Estive pensando seriamente em tudo isso,
em todas as coisas.


Penso na razão in-versa,
Suplementando as contingências do
Eu e do Outro,
Penso no intelecto re-verso
À face do Outro como diferente de mim,
como Ser em si mesmo,
diferenciado de mim,
com seu olhar que é sempre revelação de si mesmo,
não como projeção do eu dominador, superior,
dono de uma verdade absoluta e indiscutível,
que vem ensinar,
mas como acolhimento e escuta,
implica posicionamento diferente para mim.
Penso no in-fin-itivo,
E o que expresso nada diz do in-fin-itivo
Nenhuma palavra, nenhuma sílaba,
nenhum fonema é por si mesmo unívoco
e em razão de si mesmo.
A possibilidade da polissemia não está,
também,
na equivocidade.


Nada é diverso em razão de si mesmo.
Nem é diverso em razão, apenas, dos outros.
A possibilidade da polissemia está na síntese,
na analogia e não apenas
na dialética da oposição de contrários.


Não vi motivo para entrar numa tabacaria
e comprar o fumo;
o tabaco e fumar meu cachimbo,
que ora se encontra dentro de meu guarda-roupa,
numa inércia como eu também estou.
Inerte frente a esta folha de papel
que, de segundo a segundo, cria novas palavras,
novas sentenças, novos versos que nada dizem,
dizem apenas para quem os vai ler
e sentir que o escritor-contista não nasceu para ser poeta.


Nunca quisera ser um poeta.
Amigo, amigo... solidão, desespero, angústia.
Fumaça... São apenas as fumaças que ficam no ar
e não dizem nada, pois não têm nada a dizer,
apenas somem no ar,
sei lá... Ai de mim,
ai de mim, o poeta que está muito convencido
com essas linhas e chega a dizer
que elas estão dizendo muito, ah, este não é poeta!
E não custa nada dizer um pouco em versos
que vão se perder no tempo, no espaço,
no escuro de si mesmos e nunca terão nada a não ser
o corpo que a carrega e que breve, muito breve,
já não andará pelas ruas,
não vendo as cenas de tempo marcado;
e espero mesmo que seja breve,
depois não existe mais nada,
nem mesmo o que foi ou tentou ser e não foi,
o amor que se revelará,
não sei quando...
vivências, experiências,
O amor.
Fumaça...


No infinito há tanta esperança..., poesia cósmica, poesia-cosmos de início de outro tempo, de outra verdi-estação de paisagens e travessias do ser que se sonha ser, dos desejos de outros duetos losangos do sol nascente, do preâmbulo que precede a alma aromatizada de sublimes leniências que diluviam novos encontros, novos sonhos do verbo amar, novos verbos do sonho-amar o vir-a-ser da Vida.


(**RIO DE JANEIRO**, 02 DE MARÇO DE 2018)


Comentários