#AFORISMO 627/CÔDEAS DE PÃO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA(TÍTULO: #O HOMEM DE CHAPÉU CÔCO#)//ARTE ILUSTRATIVA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO



Manhã de frio ameno, inverno saudável
O sol nasce lentamente
Aos poucos o frio esvaece-se,
O corpo sente-o, a mente pensa-o,
Os raios luminosos, numinosos
Pre-[s]-ent-ificam ao longo do dia
As carências e solidões,
Manque-d´êtres, forclusions,
O crepúsculo pálido e ensimesmado
Re-velam as tristezas e faltas,
Angústias e limites.


Da cor-agem de pro-{s}-seguir
Caminhar por ruas e avenidas,
Desejando o eclipse dos sonhos,
Viver a faceta con-tingencial das dores e sofrimentos.


O homem do casaco preto, chapéu de couro
Passa à soleira da janela de minha sala de estar
Andar comedido, cabeça baixa
Traços e marcas deixou atrás de si,
Aniquilá-los impossível, esquecer-lhes tampouco
Razões e emoções, conciliadas, revelaram
As côdeas de pão que lhe saciaram a fome,
Garantiram-lhe o há-de vir de suas utopias,
Pisou na cobra, jogou na boca da jia,
Cabra solitário, solidão e carência
Desfia ao longo do dia.


Em silêncio, pensa e sente os vazios abissais,
Em dia ensimesmado, promessa de chuva,
Tece com as nuvens escuras celestes
O ex das pectativas dos pingos a molharem
O casaco, sentir-lhes no corpo.


Contas do terço debulhadas na madrugada
Sentimentos, sensações mortais
Vivenciadas de medos, angústias.


Vai longe agora,
Vira a esquina da rua à direita,
Seguirá o caminho, acenderá outro cigarro
Expelirá a fumaça,
Cabeça baixa.


Aqui, encostado ao parapeito da janela
Vivencio o momento: os raios de sol intensificam
O frio ameno dissipou-se
Náuseas perpassam horizontes
De segredos inconscientes,
De enigmas subterrâneos,
De mistérios abismáticos
Espírito subterrâneo de angústias, tristezas.


Quiça, amanhã o parapeito da janela
Elucubrará a minha des-presença
Ontem a metafísica do inferno edênico,
Medos do desconhecido,
Busca do in-édito de esperanças virgens
Sabedoria do tempo no sub-juntivo
De pre-téritos in-olvidáveis
Sapiência do eterno no imperativo
De verbos além das iman-ências
Solidão, silêncio, quietude de sonhos.


Ontem, fantasias da morte,
Redenção das culpas, pecados,
Ressurreição do in-audito, obtuso,
Do in-inteligível, sonhando a razão,
Ponto de re-clamação, resistência,
Nada de res-postas, in-segurança,
Nada de certezas, susceptibilidade,
Nonadas de travessias em pontes partidas
Mas criou-se, re-criou-se, in-ventou-se
A vida metamorfoseou-lhe.
O amanhã do homem de casaco preto,
De chapéu de couro
O homem de mim
Ao parapeito da janela aberta na manhã.


(**RIO DE JANEIRO**, 04 DE MARÇO DE 2018)


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