#AFORISMO 637/CON-TINGÊNCIAS E DIMENSÕES# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO




Verbo e ventos...
A melhor ajuda para a consciência é romper com os grilhões que iludem o coração, é desvencilhar das hipocrisias que tornam as contingências fáceis. O verbo satisfaz o desejo de compreensão e entendimento das possibilidades humanas. Os ventos despertam a inteligência para o que causaria tão-só desagrado.


Haverá, na verdade,
A ab-solvição?
Haverá, na verdade,
O ab-solvido?
Que desejo inconsequente,
Insano, despropositado
Deixei aderido
Às teias da ec-sistência
Para outra vez ter que
Usar estes grossos
E enferrujados grilhões?
Estranho poder
Que nos une e des-une
Tantas vezes,
Que con-cede prazeres
E a dor profunda...


Indecifrável enigma
O da trans-figuração humana...
In-compreensível é esta consciência
Sabida real, pela omnisciência do caminho.
Onde andaram todos os outros
Que pensei ser?
E, este agora,
Será o que traz em si a voz em falsete,
A certeza in-abalável?
- Ou simplesmente as cortinas se abriram
e o palco está iluminado?


In-inteligível mistério
Alvorecer de luzes brilhantes,
Anoitecer de céu sem estrelas, sem lua,
Tenho sede de palavras
E desprezo por versos vulgares,
Os novos eternos deviam ceder lugar
Aos velhos eternos,
Porque estes realmente pintam nas páginas
Os sentimentos que estão na base de todo pensamento.


Gritar pelo sonho...
Último remanescente do Belo
Único ópio capaz de escancarar as portas
À verdadeira liberdade.


Tempo e ventos...
Nada há no homem que seja imortal, menos os bens do espírito e da inteligência.


Exercito pensamentos, ideias,
cuja intenção sine qua non
é o de excelência salto para o alto.


Voando no escuro
Real-izo a minha Arte,
Dou nascimento a mim próprio,
Executo os Sonhos em mim trago:
uma canção, talvez grito altissonante,
Cumpre manter-me erecto,
Com mais objetivo perscrutar as minhas fendas,
Sondar-me as brechas.
Ter-me aqui, depois do voo
- onde? -
Cônscio da teia e da densidade deste chão.
Quando o pensar
Imprime gestos no ar,
Mov-imentando emoções,
A in-sustentável leveza do ser.


Dei-me em asas
Embebi-me em espaço
Projectei-me por inteiro em mergulhos,
Ampliando interiores fronteiras,
Do alto projectam-se como um sonho
No in-finito do Ser.


Verbo e silêncio...
Mísero que sou, muito temo, porque muito fiz inconsequentemente, e prolongo-me torturado pelo medo do meu próprio exemplo.


Não são pretéritos
re-visitados, re-visados,
Que pólen possibilitou-me a vida,
Eis este instante, não único,
Vários efemerizaram-se,
Vários re-nasceram do éter,
Cujas impressões,
Sensações,
Percepções,
Intuições,
Perfumadas do botão
Oculto no jardim da vida,
Que casulo me resguardou do tempo,
Eis-me aqui-e-agora,
Re-vestido de gestos poucos,
De atitudes imensas,
Do instante presente,
Para a luz de tudo que respira,
O mármore é mov-imento,
Quisera ser sábio, analfabético,
Ignorantemente gênio,
Para des-vendar, des-velar
De-cifrar enigma futuro.


Encontro a rima perdida,
a origem, o despertar,
tornando sensível o in-visível,
tornando re-cord-ação
preteríveis, preterizados
sonhos, ilusões, utopias,
a palmeira a re-fletir
as primeiras luzes da manhã,
Rimas pretéritas - pedras atiradas ao rio,
Impulsos para outras ad-versidades
nas di-versidades da vida efêmera da flor
ser essência, cor, olvidamento,
presenciando as inestimáveis cores da inocência,
multiplicado em linguagem, estilo
de amadurecer,
de crescer,
sob o sol de utopias e esperanças,
sonhos e ideais,
e no lago de miríades de místicas imagens,
o silêncio baila
ao som da cítara e da harpa
de Ravel...


(**RIO DE JANEIRO**, 15 DE MARÇO DE 2018)


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