*VERBO NO ESPELHO DE DORES* - Manoel Ferreira


Se a vela alumia de chama
O há-de vir de rogos e pedidos,
O há-de ser de lástimas e vanglórias
Contingências do não-ser
Protelam os instantes
De nonsenses o verbo no espelho de dores
De inconsciência o templo imperfeito de milagres
A luz do nada resplandece na esperança
Litteris de lâmina de machado que toca o tronco da árvore,
O tronco da árvore toca a lâmina do machado.
O numinoso dos vazios adentra a porta:
A seiva da verdade, húmus do absoluto,
Raiz do divino.
Aves-Maria, Pais-Nossos.
Credo, Salve-Rainha.
Misericórdia a ser liberdade, paz, consciência
Trans-cendência da luz
Trevas, sombras,
Perdido no meio do mundo,
Desolado no meio dos homens.
Lágrimas contidas, medos, tristezas
Maria Santíssima, Jesus nos braços descido da cruz
Ouve as verdades nuas, erros insofismáveis
Palavras faltam, a alma expressa em silêncio
Nela a consciência, nela os remorsos,
Nela as culpas, nela as responsabilidades,
Nela os pecados
Haverá o perdão?
Não havendo, deambular, perambular no mundo
Lembranças, recordações..
Haverá a luz de outros caminhos?
Não havendo, é seguir o nada de todas as estradas
Haverá a liberdade?
Deus sabe o que faz! Atitudes e consequências
Cuidar do não-ser assegura a jornada
À busca do longínquo verbo da ressurreição
Persignação à espera de outro destino
O amanhã só a Deus pertence
Dialética da iluminação, evangelho vivencial
De busca do pão de cada dia, sobrevivência.
Desce o pecador
Os degraus da escada da igreja
Olha o mundo de soslaio
A esguelha das necessidades da vida
Suplica aos confins do horizonte longínquo
A vida serena, quietude, tranquilidade.
Momento de começar as andanças
Quiça no final do dia
A vida possa ressonar a alma do amanhã
Princípio de outros destinos
Até que a luz não ziguezagueie pelas veredas
Siga direto, apesar das sinuosidades
Rumo ao universo de sentir a encarnação do verbo
Ser, não-ser,
Vida, morte,
Carência, plen-itude.



Manoel Ferreira Neto.
(26 de maio de 2016)


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