POEIRA DA METAFÍSICA E EXEGESE* - Manoel Ferreira


Tardios crepúsculos da enigmidade humana de ser a teogonia chicoteada no acme da comunicação histórica.
Perpétuo sentimento de ilusão...
Perene emoção de idílios...
O que é mesmo a vida? Quê despautério indelével dizer estar jogado no mundo, condenado à busca do ser, à mercê das atitudes e consequências arrastando nas situações e circunstâncias naquela busca exacerbada de algo, chama-se vida.
As mãos em concha, a verdade de agora re-flectida na retina, pupilas faiscando de luz, o peito arfa, a alma em festa. Num tempo exíguo, escorre entre os dedos, olhos perdidos no horizonte, na língua o silêncio linguístico da palavra, a comunicação com as coisas é impossível porque elas não têm subjetividade e a comunicação com as pessoas é impossível porque elas têm subjetividade. A busca, os desejos, esperança, o catavento do tempo girando. Os deuses eram internautas.
Terra do alto vem poeira, poeira da metafísica, poeira da exegese, lá onde a estrada começa, lá onde as veredas levam ao horizonte distante sonhos, utopias, desejos, esperanças, fé, lá onde as sendas re-velam o uni-verso a distância, a longitude, o sem-fim. A terra, não sei qual, adulterada, mas passa pé, passa tempo, passa boi, passa boiada, tudo passa no cativeiro dos murais, no cárcere das amuradas, quase ao abismo, canalha, quase à caverna, safado, quase às estâncias, viperino, enfatizando os viveiros eternos das velhas raposas de metal: estátuas de robôs perdidas no eco imponente, impotente de um estéril edén.
Tudo passa... Tudo passa... Tudo passa...
Verdades passam, esperanças passam, sonhos passam. O nada no palco do mundo, cenas, performances, monólogos da solidão, silêncio das carências, no mundo sem documento, sem lenço.
Defesa re-flexiva da angústia. O redemoínho dos efêmeros nadas, até o nada é efêmero, no liame das nostalgias e melancolias substitui-lhe a excelência o vazio, gira solene e pomposo à mercê do sibilo dos ventos as sorrelfas defectivas da morte. Pensei que o nada fosse luz para iluminar o ad-vir do não-ser fosforescendo nas tábuas rasas dos confins sem cintilâncias, mas o nada morre, morre nas defectivas sinuosidade do abismo pleno de ressonância da vacuidade.
O vazio é eterno, imortal, perene, perpétuo.
Se o nada se converte no ser ao longo do tempo, na di-vers-idade longínqua do uni-verso-espírito do aquém re-vestido de aléns, o vazio se ab-solutiza, perpetualiza na ad-vers-idade distante do além que se re-vers-ifica o pantanal no silêncio belo da natureza em soneto do amor sublime no alvorecer do sonho da liberdade.
No sertão não faz frio, sempre calor, o calor do vazio à busca da lareira das chamas serenas, suaves, sublimes da entrega aos solsticios da íngreme mineiridade do sol.



Manoel Ferreira Neto.
(15 de maio de 2016)


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